CINEMA

Crítica | Evangelion 3.0 + 1.0: A Esperança (Prime Vídeo, 2021) encerra saga de forma brilhante

Filme encerra o Evangelion Rebuild, que estava parado desde 2021; veja a crítica

Evangelion 3.0 + 1.0 mantém status de obra-prima do anime - Foto: Reprodução / Prime Video / Studio Khara
Evangelion 3.0 + 1.0 mantém status de obra-prima do anime - Foto: Reprodução / Prime Video / Studio Khara

Redação Publicado em 14/08/2021, às 18h46

Nada nos preparou a gente para o que é o Evangelion 3.0 + 1.0: A Esperança, que foi lançado no Amazon Prime Video neste fim de semana. A última parte desse Evangelion Rebuild tem uma força grandiosa e fantástica como o final do anime dos anos 90, e que melhora o que já era excelente.

O filme começa quando o anterior termina: o Shinji tentando reverter o Terceiro Impacto com Kaworu, uma das únicas pessoas que demonstraram gostar dele de verdade. Todos os eventos que apareceram no final do filme anterior deixaram Shinji traumatizado e sozinho, sofrendo muito com o peso de suas escolhas. Essa depressão meio que paralisa o Shinji, então Asuka e Rei resolvem levar ele para uma vila.

É nessa vila que a gente passa a primeira parte do filme. Enquanto nós assistimos Shinji se desfazer em sua depressão paralisante, os outros personagens tentam ajudar da melhor forma. Enquanto o sofrimento de Shinji se desenrola, o filme aproveita para dar mais destaque para o desenvolvimento de Rei, uma personagem que sempre foi fantástica e que ganha mais brilho nesse Rebuilt.

Na vila, por exemplo, ela entra na cultura do povo que mora por ali. Ela se envolve, e com isso a gente fica sabendo mais sobre ela e também descobre novas camadas da personagem, coisa que não deu tempo de fazer na série original por motivos óbvios. Rei ganha uma personalidade própria, sem ser influenciada por outros como Gendo, o pai de Shinji, e pelo próprio Shinji.

 

Um desenvolvimento melhor

Toda essa parte que se passa na vila campestre serve mais para esse desenvolvimento. Assim que o foco muda para ação, a história de Evangelion é retomada. E é aí também que o filme começa a ficar mais denso, quando Wille, o grupo paramilitar de Misato, começa a destruir os objetivos da NERV e de Gendo para provocar um apocalipse que busca fundir cada alma humana em uma para se reunir com sua esposa morta, Yui. 

Nessa parte do filme, temos as melhores sequências de luta envolvendo Asuka e Mari, e que enchem os olhos de verdade. O Studio Khara, responsável pelos filmes, acertou a mão nos designs dessas cenas, sendo as melhores dessa sequência Rebuild. Os movimentos são fluidos, o uso de cores neons e contrastes nos cenários reforçam o caráter artístico que os produtores conseguiram trazer para o filme como um todo.

Toda essa parte é de cair o queixo, mas há alguns problemas de CGI em determinados momentos. Nada que atrapalhe. Chega a ser impressionante como não tem uma cena fora do lugar, não só na produção visual delas mas também no roteiro, que dá sentido a cada movimento, não tem nada gratuito. A dublagem também ajuda muito, passando as emoções que são necessárias para que a gente, como espectadores, possamos entrar dentro dessa narrativa.

 

Quase perfeito

Por outro lado, como não poderia deixar de ser, existem alguns conceitos que podem parecer confusos, assim como sempre foi em Evangelion. A torrente de informações jogadas em nós enquanto vemos as discussões sobre a questão do Projeto de Instrumentalidade Humana pode fazer os diálogos soarem truncados em alguns momentos. Mas são poucos.

Aí, a gente volta para Shinji, que precisa entrar na luta. Se antes a gente fica aflito com o povo gritando “Shinji, entra no robô!”, e ele se negando por medo de se sentir rejeitado e ainda catatônico pelos eventos passados,  o filme faz uma mudança interessante ao trazer o personagem tomando a atitude de querer ajudar e pilotar para salvar as pessoas por sua própria vontade, por estar preocupado com seus amigos.

O maior avanço desse filme para o cânone de Evangelion foi trazer essa maturidade em Shinji, o que engrandeceu a história sem dúvida nenhuma. O desenvolvimento dele, assim como de Asuka e de Rei, e também com a entrada de Mari, transformou a história para melhor, por incrível que pareça, e é a maior diferença em comparação com The End of Evangelion, por exemplo.

 

Diferenças para os originais

E por falar em The End of Evangelion, a diferença desse filme aqui também está na forma como a história toda é encerrada. Se naquele a gente tinha um tratado pesadíssimo sobre a psique humana, até de forma trágica, aqui a história acaba com mais esperança, mas mantendo a linguagem que tanto encantou e confundiu o público: animações de diferentes técnicas, comentários que quebram a quarta parede ou se autoreferenciam, e no fim de tudo isso o objetivo acaba sendo atingido: uma obra que antige em cheio o nosso emocional.

Aqui, predomina o mesmo sentimento que se tem ao encerrar a série original: é como um soco emocional, e deve ser assim para qualquer pessoa que passou por momentos terríveis de ansiedade e depressão.

A mensagem é: você sobrevive, você consegue “sair do outro lado” depois de passar por tantas situações paralisantes de tristeza e medo. Existe esperança. O final desse filme é comovente e tem o poder de ser transformador, se você capta a ideia que tudo em Evangelion quer passar.

 

Obra-prima, e ponto final.

A aceitação de Shinji de si mesmo e de seu lugar no mundo é um dos arcos mais bem desenvolvidos que eu já vi em audiovisual. O diretor-chefe e escritor Hideki Anno conseguiu algo que não parecia ser possível: melhorar algo que já era irretocável, tido desde o seu lançamento como uma coisa única, incomparável.

Visualmente é arrebatador, um grande feito de Anno e do Studio Khara, que atinge o nosso emocional em cheio com imagens e palavras. Aqui a gente tem cenas que vão ficar na memória para sempre, principalmente àquelas que envolvem as lutas, totalmente irretocáveis em tudo, além da trajetória de cada personagem, que ganham desenvolvimento exemplar.

Com eles é possível rir, chorar e, principalmente, se emocionar.  É uma experiência cinematográfica como poucas, e que vai ficar na cabeça por muito tempo.