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Regina Casé fala sobre personagem de 'Amor de Mãe': "Não tenho vaidade, me jogo inteira"

Atriz interpreta Dona Lurdes, uma das personagens mais queridas da teledramaturgia

Regina ainda falou sobre experiências como filha e mãe, inspirações e frustração por conta da pandemia da Covid-19 - Reprodução/Instagram
Regina ainda falou sobre experiências como filha e mãe, inspirações e frustração por conta da pandemia da Covid-19 - Reprodução/Instagram

Redação Publicado em 25/03/2021, às 09h15

Perto do fim, a novela 'Amor de Mãe' teve diversos imprevistos por conta da pandemia da Covid-19, que resultou na paralisação das gravações da trama, que atrasou seu desfecho. A atriz Regina Casé falou sobre sua personagem, Dona Lurdes, inspirações e frustração por causa da pandemia, em conversa com a revista Marie Claire

Regina viu seus planos serem interrompidos e comentou da frustração de precisar mudar sua vida para voltar a atuar: "Tudo que trabalhei em 2019 para realizar em 2020 se perdeu. Foi um pesadelo. Mas penso nas donas Lurdes que perderam filhos, trabalho, que estão passando necessidade. É muito mais triste". A atriz tem vivido reclusa em seu sítio na Costa Verde Fluminense, há um ano, e contou suas reflexões durante o período. "Aprendemos na porrada o que é não ter controle sobre nada. A impermanência das coisas."

Ao ser questionada sobre onde encontra verdade para interpretar Lurdes, ela afirma: "Dona Lurdes é a reunião de mais de mil Lurdes que encontrei em 30 anos viajando pelo Brasil profundo. Tem pedaços de mulheres que vi, fortes, lindas, e fui guardando. Eu me apaixonei por elas. Não tenho crítica, nem vaidade de como vou aparecer na câmera, me jogo inteira. É uma oportunidade de homenageá-las. Eu nasci no Rio, não me visto como ela, não ando daquele jeito."

"Uma vez entrei em uma loja e as vendedoras eram nordestinas, e falaram: 'para de imitar carioca e fala normal'. Não acreditaram que eu não tinha aquele sotaque, acharam que eu estava tirando onda com elas. É real porque tenho essa paixão". Regina também falou sobre maternidade presente e revelou: "Eu não tive uma mãezona. A relação com a minha mãe era quase intelectual, não tinha intimidade. Eu fui ter isso com minha tia avó Julinha, que foi quem me criou, com quem eu dormia agarradinha. Ela era velhinha, eu morria de medo de perdê-la. Eu não achava que seria boa mãe porque não aprendi com a minha."

"Não sonhei ser mãe, engravidei e fui. Hoje, se juntar tudo o que fiz, nada me orgulha mais do que ter sido mãe. Minha filha Benedita tem 31 anos e está realizada, feliz, temos cumplicidade total, nossa relação deu certo. E a vida ainda preparou a surpresa de eu ter um filho com pouca diferença do filho dela". O filho da atriz, Roque, irá completar 8 anos em março e Brás, filho de Benedita, fará 4 anos em junho. "Somos mães contemporâneas, dividimos isso juntas". Ela conta que aprendeu a ser mãe com a filha e o amor de Julinha: 

"Ela era aquela tia solteirona que me pegou no colo e ficou apaixonada, sentiu uma conexão. Dedicou a vida dela para mim, até os 90 anos. E meu trabalho me deu a oportunidade de ir na casa das pessoas e ver como muitas mulheres criavam seus filhos". Ao ser questionada sobre a 'lei do retorno' por conta das atitudes dos personagens na trama, Regina pondera. "Gostaria que a vida fosse assim, mas não tenho certeza. Tem muita gente boa sem reconhecimento, mães trabalhando de sol a sol e com filhos passando fome. A justiça não é certeira na vida, há muitos fatores que corrompem. Eu costumo contradizer alguns ditados."

"Por exemplo: acredito que o tempo é o pior remédio, não o melhor. E a natureza nem sempre é sábia. Eu mesma, sou melhor mãe agora do que fui com a Benedita". Ela também faou sobre exercitar sua identidade própria e viver outro personagem novamente. "Eu sempre me apresentei como atriz, e estava naquele momento fazendo algo que não era atuar, mas julgava importante, e eram coisas que me moviam, mas não me via como apresentadora. Quando me dei conta, eu tinha me distanciado e deixado de lado uma coisa que me fazia muito bem."

"Durante esse tempo como apresentadora eu tratei de muitos assuntos como discriminação, preconceito, e me coloquei de escudo para as pessoas e algumas vezes foi muito pesado. Como atriz também chego em muita gente, e o que quero com essas pessoas é construir uma ponte. Minha missão é levar amor". Ao ser questionada sobre se adaptar à quantidade de trabalho, ela disse: "Nos programas eu me envolvia em tudo, eu era a chefa, e era difícil ter essa posição de tantas responsabilidades. Comparado a isso, fazer novela é como tirar férias no Havaí, apesar do cansaço por conta das muitas horas gravando."

"Mas eu estava querendo muito voltar, me chamavam mas eu não tinha como conciliar. Quando vi a Lurdes eu parei tudo, com programa novo prontinho". Regina comentou sobre precisar parar a novela por conta da pandemia e explicou como a situação a afetou. "A decisão de parar a novela foi muito frustrante. Me preparei muito, mudei minha vida toda. Quando a Lurdes floresceu eu não podia mais andar na rua, ter contato com as pessoas que assistiam. Eu ia estrear um filme em março, Três Verões, e foi suspenso. E eu estava com uma peça (o monólogo Recital da Onça) que ficaria o ano inteiro em cartaz em São Paulo, e cancelamos."

"Tudo que trabalhei em 2019 para realizar em 2020 se perdeu. Foi um pesadelo. Mas penso nas donas Lurdes que perderam filhos, trabalho, que estão passando necessidade. É muito mais triste. Eu estou faz um ano no meu sítio, com meu marido, meu filho, minha filha, meu genro e meu neto. Ainda me sinto em suspensão. Ficaremos aqui até a vacina chegar". Ela também contou como foi retornar ao trabalho. "Foi uma operação de guerra. Aprendemos na porrada o que é não ter controle sobre nada. A impermanência das coisas. Não sabíamos se teria gravação no dia seguinte."

"Repetíamos a cena várias vezes, com acrílico entre os atores, sem acrílico, tirando e colocando a máscara, inventávamos jeitos de fazer, era árduo. Reencontrar os colegas e não poder abraçar foi esquisito, mas conseguimos. Não queríamos que fosse assim, mas entramos para a história. Exigiu muita coragem de todos, para se expor e para conseguir trabalhar". Ao ser questionada se a novela mencionar pandemia ajuda na conscientização, ela reflete. "A novela retrata o que vivemos em março do ano passado. Tínhamos nove mil mortos, já estamos chegando em 300 mil. São tantas famílias destruídas. Hoje está mais grave do que aparece lá, mas ajuda porque mostra o cuidado que é preciso ter."

"A gente não queria que a pandemia fizesse parte da história, mas é uma novela realista, como gravaríamos na rua sem nenhum figurante? A pandemia criou uma novela quase documental, ficou mais humana, cheia de emoções que a gente não conhecia". Por fim, ela conta como decide escolher as histórias que gostaria de contar durante a carreira. " Foi acontecendo, e as pessoas que estavam perto de mim me levaram para esse lado - do drama."

"Não perco meu humor nunca, coloco leveza nas barras mais pesadas. Estou com vontade de fazer uma comédia rasgada, precisamos de muito humor, mas ainda vamos cortar um dobrado por um bom tempo", finalizou.