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Daniel Ávila, o Dudu de 'A Viagem', comenta sobre bullying, encontro com a arte e fama

Ator trabalha como artista independente, dublador e professor de teatro

Daniel tem recebido diversas mensagens de fãs pedindo para voltar para a TV - Reprodução/Instagram
Daniel tem recebido diversas mensagens de fãs pedindo para voltar para a TV - Reprodução/Instagram

Redação Publicado em 01/02/2021, às 07h42

O ator Daniel Ávila, 36, que interpretou o pequeno Dudu em 'A Viagem', comentou sobre bullying, encontro com a arte e fama em uma conversa com a Revista Quem. Atualmente, ele trabalha como artista independente, dublador e professor de teatro e é pai de Flor, de 10 anos. 

Daniel falou sobre seu personagem na trama, que está reprisando atualmente no canal Viva: "O Dudu tem uma força muito grande. As pessoas se sentem intimas desse personagem. Tenho uma filhota de dez anos e ela é a cara do Dudu. Ela estava andando na rua comigo e as pessoas começaram olhar fixamente para ela e dizer, ‘É o Dudu’. Ela achou esquisito e não compreendeu muito isso".

O ator afirma que guarda boas memória da época, quando tinha apenas nove anos, como quando aproveitava os bastidores entre os adultos para poder absorver os aprendizados de seus colegas mais experientes, como Antônio Fagundes, Cláudio Cavalcanti e Eduardo Galvão: "O clima era ótimo. Entrei nessa novela como criança mesmo, brincando, me divertindo, mas já tinha uma certa noção e queria trabalhar direito. Não era uma novela infantil, era uma novela séria, os artistas eram muito comprometidos e levavam aquilo muito a sério porque tinham consciência de que se tratava de um remake de um trabalho, que já tinha tido um retorno positivo".

"Eu era um ator mirim bem profissional. Sabia que não podia fazer besteira", disse ele. Por conta da espiritualidade abordada na novela, o Daniel começou a entender mais sobre o assunto e alega que era fascinado pelo pesonagem do ator Guilherme Fontes, que interpretava Alexandre, diferente de diversas crianças que costumavam ter medo de espíritos. 

"Nunca fui uma criança medrosa. Sempre fui muito curioso. Eu achava irado o Alexandre. Em relação a essa comunicação com o plano espiritual, ouvi relatos de cair não sei o que no chão nos bastidores e de que na casa de um dos artistas as gavetas se abriram... Teve gente que foi fazer reza lá, outras tentaram se comunicar. Eu nunca tive medo. Se aparecesse um espírito para mim tudo bem, ia bater um papo".

Daniel disse ter aprendido o lado bom e o lado ruim de seus sucesso quando mais novo, enquanto era muito querido pelos seus personagens na televisão, acabava sofrendo bullying de outras crianças por ser diferente dos demais. "Eu tinha toda uma vivência diferente das crianças da minha idade. Convivia com adultos no meu trabalho, viajava muito. Além disso, eu era dois anos mais novo que os meus amigos, tinha cabelo grande, era meio daquele jeito sem sexo saliente, muito criança e espontâneo. Era bullying direto. Sofri demais e alguns bullyings até mais sérios de tomar porrada de um grupo, puxarem meu cabelo, me chamarem de viado".

"Isso mexeu até um pouco com a minha espontaneidade, fiquei até mais gordinho por causa disso e tiveram períodos da minha vida em que me escondia mais e não queria fazer sucesso para as pessoas não implicarem comigo". O ator chegou a fazer mestrado em Cubaapós se formar em Cinema e ainda acabou vivendo uma crise existencial com a arte, logo reencontrando sua essência no qual aprendeu com o ator, diretor teatral e teatrólogo Amir Haddad, 83. "Eu era muito novo e estava querendo aprender e ouvir de verdade o que esses artistas, que tinham acabado de sair do teatro, tinham para passar. Eu conheci artistas que levaram o Brasil nas costas, que criaram a nossa dramaturgia e me deram conselhos, levaram isso como função, responsabilidade social".

"Não pensavam só em matérias, aplausos e glamour. Depois disso, teve uma mudança. Virou aquela moda de ator de TV, fortinho, com a cara bonita. A gente vive um presente superficial, ignorante, distraído da nossa brasilidade e das pessoas que fizeram a nossa vida. Se a gente não reconhece a real natureza do ofício, a gente vira galã, concentrado em si e sem saber o motivo real do ofício". 

Ele continuou: "Fiquei um pouco cansado. A minha cabeça não estava crescendo, eu já não estava entendendo o que estava fazendo. Entrei em uma crise grande e fui querer entender o que estava acontecendo. Comecei a buscar o que era a função real do ator e encontre o Amir e fui entender que a arte começou na rua. Fazer arte pública foi uma escolha do meu coração. A arte pública me trouxe de volta aos meus ancestrais. Me apresentar em praça pública, ocupando a minha cidade e o mundo, trocando diretamente com o meu semelhante, é uma troca maravilhosa que me fez entrar em contato com a essência do ator contador de histórias".

"Não tem essa de artista de rua, de TV, de cinema. Só existe um artista. No grupo de teatro, a gente que constrói cenários, faz figurinos, dirige, faz as câmeras quando necessário, edita". Ele afirmou estar aberto a papéis interessantes da TV, mesmo não vivendo em função de lutar por um espaço e diz que como artista independente, consegue mais trabalho que antes. "Trabalho desde os seis anos de idade. Estou com 36 anos. São trinta anos como ator! Não parei de trabalhar em nenhum momento. Tenho três filmes ainda para serem lançados, tenho o grupo de teatro, ensaios, apresentações, faço muitas dublagens, produzo".

"Também dou aulas sobre o ofício. Aonde tiver bons personagens estarei disponível como ator, seja na TV, cinema, teatro, na arte pública. Não escolhi ir para um lugar e não ir para outros, escolho ser artista".