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Daniela Mercury diz gostar do proibido, mas não do proibir: "Tenho prazer em não seguir regras"

Cantora relembrou sua história como símbolo Axé Music

Daniela disse que começou a cantar aos 15 anos - Reprodução/Instagram
Daniela disse que começou a cantar aos 15 anos - Reprodução/Instagram

Redação Publicado em 16/02/2021, às 11h10

Com trinta anos de 'Swing da Cor', a cantora Daniela Mercury começou a cantar aos 15 anos e já perdeu as contas de quantos anos tem de profissão. Em entrevista à Vogue, a cantora comentou sobre seu sucesso e falou sobre gostar do proibido. 

"Difícil contar os anos de profissão. Aos 12, já fazia espetáculos de dança. Comecei a cantar aos 15. São trinta anos de Swing da Cor, mas depois entendi que tudo que veio antes já era carreira. Recentemente tenho lembrado de uma história". Daniela recebeu o convite para lançar seu primeiro álbum solo no fim dos anos 80.

"Pesquisando repertório, percebi que antes precisava fazer um grupo para amadurecer, queria montar algo diferente das outras gerações. Talvez por ser bailarina, a originalidade sempre foi essencial." Os estúdios queriam um solista e a cantora havia oferecido um grupo. "Eu disse: ‘Quando eu descobrir o que quero fazer, volto'". A cantora voltou em 1991 quando havia lançado seu primeiro disco solo 'Swing da Cor', que é música principal, com a  participação do Olodum. Ela conseguiu fazer parte da construção e popularização do Axé Music e, em 1992, já estava cantando para o mundo com 'O Canto da Cidade'.

"Fui uma criança com pressa de viver, e a minha arte está totalmente vinculada à cultura baiana, canto em iorubá e danço afro desde os 7 anos. Salvador foi nossa primeira capital, toda a história do País, que é também a da escravização, passa por aqui. A arte baiana canta a ancestralidade, conta o que a história tentou apagar. Nossa cultura dá força", disse Daniela.

"Sou nordestina, trago a luta em mim. Logo que comecei a trabalhar, percebi que era mais difícil para as mulheres. Mas fui educada para liderar e não para obedecer, ainda que precise lutar para exercer meu livre-arbítrio. Em 1990, ocupar o lugar dos homens no trio era ocupar o poder, consegui confrontando o machismo. Liderar um grande bloco no Carnaval da Bahia, O Pinel, foi fundamental para me tornar a artista que sou. Cada mulher que se impõe nos liberta". 

Participando ativamente da folia de Carnaval após quarenta anos, ela já conta com mais de 3 mil horas de trio elétrico. Daniela afirma que sente a estranheza necessária de um Carnaval que não irá acontecer: "Se para muita gente é brincadeira, e isso já é muito, são centenas de milhares de pessoas que dependem dele para viver. Adiar o Carnaval é preciso, mas o tempo é flexível e ele há de chegar. ‘E quando o Carnaval chegar, vou sair de mim para dançar, vou sair de mim para cantar, vou invadir a avenida coma vida, coma vida, com a vida’", cantou Daniela, os versos do frevo que ainda é inédito, no qual ela compôs homenageando Moraes Moreira, em um dueto com GalCosta.

"Compus na pandemia, me imaginando com Gal e Moraes em cima de um trio. O Carnaval, quando acontecer, vai reacender a chamada alegria e da esperança, será uma catarse coletiva para celebrar a vida e agradecer por termos sobrevivido". A cantora afirma qe se disponibiliza para o trabalho social e, embaixadora da UNICEF há 25 anos, ela aceitou o convite do ministro Luiz Fux para poder participar do Observatório dos Direitos Humanos:

"Temos que nos ocupar dos problemas coletivos e nos posicionar contra a opressão classista, o racismo, o sexismo, o heterossexismo, e contra a homofobia e a transfobia". No dia 10 de dezembro, ela chegou a lançar sua versão de 'Apesar de Você' no Dia Internacional dos Direitos Humanos. "Meio século depois do lançamento do ChicoBuarque, vivemos um processo muito parecido. Cresci na ditadura, aprendi com meus ídolos. Outro dia, disse ao Chico que eles me ensinaram o que era a liberdade". 

A cantora diz ter fé e acredita que 'o jardim ainda vai florescer tal qual eles não queriam': "Faço isso através da música. O artista desarruma o mundo, subverte a ordem, coloca tudo de cabeça para baixo, e isso incomoda os conservadores.” Baiana sem proibições, diz que gosta do proibido, mas não do proibir. “Tenho prazer em não seguir regras, quebrar tabus, desafiar a vida, sair da caixinha. E, coma minha arte, trazer autoestima e alegria", finalizou Daniela.