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Em entrevista, Bruna Lombardi lembra de afastamento no auge da carreira: "Precisava me aventurar"

Atriz e roteirista deu entrevista para a Marie Claire

Atriz se mudou para os EUA no ápice da carreira - Reprodução/Instagram@brunalombardioficial
Atriz se mudou para os EUA no ápice da carreira - Reprodução/Instagram@brunalombardioficial

Redação Publicado em 26/04/2021, às 08h34

Bruna Lombardi fez sucesso na novela Roda de Fogo (1986), que estreia nesta segunda (26) no Globoplay. Depois disso, ainda no ápice da sua carreira, ela deixou as telinhas e se mudou para os EUA, retornando apenas para pequenos papeis durante os anos 90.

Atualmente, Bruna vive entre São Paulo e Los Angeles, e trabalha como roteirista ao lado do marido, Carlos AlbertoRiccelli, com quem está casada desde 1978, e com o filho Kim, que é cineasta. O trio trabalhou junto nos filmes O Signo da Cidade (2005), Amor em Sampa (2016) e estão preparando a terceira temporada de A Vida Secreta dos Casais.

Em entrevista à Marie Claire, Bruna contou sobre sua relação e sobre seus trabalhos na TV.

Roda de Fogo está de volta, no catálogo da Globoplay, após 35 anos. Você costuma rever seus trabalhos?

"Nunca tenho tempo de rever, estou sempre fazendo alguma coisa nova, mas vou tentar dessa vez porque essa novela é uma delícia. É muito atual, foi a primeira a abordar a corrupção da elite, dos banqueiros, dos ricos. A história era sobre o Renato (Tarcísio Meira), um homem rico, dono de um império, corrupto, e eu fazia uma juíza seríssima, com princípios e valores rígidos, com muita ética, que se envolve com o cara que está julgando."

Você estava com pouco mais de 30 anos na novela. Como era esse momento da sua vida?

"Sempre trabalhei muito, e podia escolher os personagens que queria fazer, era uma posição muito privilegiada. Tive a sorte de escolher personagens marcantes e de ter trabalhado com grandes atores."

A novela fala sobre poder, ética, corrupção. Acha oportuna para os tempos atuais?

"Muito! Claro que a novela tem uma ótica romântica, o que interessa é a história de amor, o objetivo não é a denúncia, mas tem dilemas bem fortes: um juiz é isento até que ponto? A paixão é uma fraqueza? Quem julga aqueles que nos julgam?"

Seu visual chamou atenção na época, com cabelos curtos e escuros.

"Sempre gostei de mudanças radicais para personagens, mudava o cabelo, as roupas, para mudar o espírito. Eu vinha de dois trabalhos, a minissérie Grande Sertão: Veredas (1985), na qual cortei o cabelo curto para fazer um homem, Reinaldo Diadorim; e Memórias de um Gigolô (1986), no qual eu fazia uma prostituta delicada, a Guadalupe. Em seguida veio Roda de Fogo, e a personagem não era nem masculina nem sexy como as anteriores. Era formal, séria, rígida, burocrática."

Sente saudades desse look?

"Esse cabelo dava muito trabalho. O meu cabelo natural não dá trabalho nenhum. Cresce muito e é claro, então eu tinha que pintar sempre, e perdia o corte fácil. Deixo natural para não ter que pensar nisso."

Seu visual continua sendo assunto agora aos 68 anos. É um tema que você já se cansou?

"Não me incomoda. Dão força para isso, é um reconhecimento generoso e me ajuda a me sentir bem. Não reclamo, mas não foco minha vida nisso. Meu foco principal hoje é trabalho. Escrevo séries, faço palestras, é um volume grande de trabalho."

O etarismo tem sido amplamente discutido. Faltam bons papéis para mulheres acima dos 50 anos?

"Sinceramente, não acredito nisso. Vejo grandes papéis para atrizes de todas as idades. Aliás, são as mais jovens que têm papéis não tão marcantes. O Brasil precisa de bons roteiros, com grandes personagens. Gosto de escrever bons personagens, para mim e para os outros."

Sobre o que gosta de escrever?

"Me interesso por grandes temas. Temas relevantes precisam vir à tona, serem falados, temos uma falha gigante, profunda na educação do Brasil que não pode ser suprida só com o romantismo das novelas. Alfabetizar é o básico, educar é ensinar a pensar. Existe dificuldade na interpretação de texto."

Sua última novela foi há mais de 20 anos. O que te afastou da teledramaturgia?

"No auge na Globo eu pedi uma licença. Queriam renovar meu contrato para mais sete anos, o que é uma vida, e eu precisava me aventurar em outras coisas, estudar, e fui morar em Los Angeles. Foi um grande crescimento, fiz filmes, séries, continuei sendo atriz, mas não em novelas."

Pensa em voltar?

"Estou ocupadíssima, e para fazer uma novela precisa parar a vida. Acho interessante estarem aprimorando o formato, mas é um gênero que deveria encurtar um pouco, não tem assunto para 200 capítulos."

Você trabalha em família e tem um casamento que dura mais de 40 anos. Tem um segredo essa longevidade?

"É um trabalho bacana a se fazer, de construção de vida, de amor, de carreira. Tem que se dedicar a tudo de corpo e alma, trazer o melhor, e dar o melhor para as pessoas. Um relacionamento tem que ter amor, afeto, confiança, companheirismo, e trabalhar isso vida afora para que se renove."

O Kim completa esse ano 40 anos. Você ainda se considera mãe coruja?

"Por acaso somos uma família, porque somos um grupo muito amigo, que trabalha e vive junto. Cada um tem um lado solo, e com muito diálogo. A conversa costura as relações e o amor nos une."

Como tem enfrentado a pandemia?

"Sempre trabalhamos em casa, então não mudou nossa rotina. O que mudou foi nosso olhar com o coletivo, no sentido de como poderíamos ajudar, saber o que é importante, dar valor aos heróis anônimos, se dedicar ao todo porque somos parte dele."