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Bernardo de Assis revela ter morado na rua: "Luta diária a sobrevivência"

Ator também falou sobre o preconceito com comunidade gay e trans

Bernardo falou sobre a importância da representatividade de seu papel em "Salve-se Quem Puder" - Reprodução/Instagram/@bedeassis
Bernardo falou sobre a importância da representatividade de seu papel em "Salve-se Quem Puder" - Reprodução/Instagram/@bedeassis

Redação Publicado em 05/07/2021, às 08h09

O ator trans, Bernardo de Assis, revelou ter morado na rua antes de entrar na Globo e contou que recorreu À ajuda de Ongs, como a Casa Nem, que acolhe LGBTQIA+. Bernardo ainda comentou sobre a representatividade de seu papel em "Salve-se Quem Puder". 

O intérprete de Catatau explicou, em entrevista à revista Quem: "Reconheço todo meu privilégio de ser um homem branco, mas vim do subúrbio, sai de casa e passei um tempo na rua. É uma luta diária a sobrevivência de uma pessoa trans. Por conta do meu trabalho, hoje consigo ser acolhido por amigos, por colegas."

"Estou morando em São Paulo. Temos algumas Ongs que ajudam muito a população trans. Fui acolhido pela Casa Nem. Fui acolhido lá diversas vezes", disse. O ator também desabafou sobre o preconceito dentro da própria comunidade gay, contra os homens trans, relatando que não são acolhidos: "A ideia de ser homem é tão inalcançável, que nós precisamos toda hora reforçar um machismo para tentar alcançar. A gente tem que alcançar um ideal inalcançável."

"A única coisa que eu não quero fazer é reproduzir esse machismo. Nem por isso deixo de ser homem, perco a minha masculinidade". Bernardo ainda ressaltou a importância que seu personagem da trama representa: "Quero ser reconhecido pelo meu trabalho, conquistar novas oportunidades. A gente precisa desconstruir a distinção de pessoas pelo gênero delas. É muito importante termos pessoas aliadas e falarmos sobre esse tema para a massa, como na novela. Que o público possa conhecer cada vez mais narrativas de pessoas trans e nossas vivências sejam mostradas também de maneira positiva."

"Há esperança de que um dia essa situação mude". Por conta do primeiro beijo entre um homem trans e uma mulher cis na novela, Bernardo recebeu críticas duramente pela cena com a atriz Juliana Alves: "Tenho plena consciência de que é necessário e urgente passar por isso, para que outros artistas não passem por isso. As pessoas não estão preparadas para ver pessoas trans em destaque, sem ser em situação de violência. A gente tem várias notícias diárias de pessoas trans sendo agredidas e mortas e isso não causa mais comoção. Mas se colocam uma pessoa trans em destaque, falando do trabalho, na televisão, incomoda a sociedade."

Ele prosseguiu: "A gente quer falar das nossas carreiras, trabalho, estudo, talento. Queremos estar em todos os lugares, como pessoas normais na sociedade". Ele diz ter ficado magoado com as ofensas que recebeu nas redes sociais, afirmando estar esperando, mas não estava preparado: "A gente imagina que vai ter hater, principalmente quando se é da comunidade, está acostumado a ser atacado, mas eu não estava preparado para ser atacado dessa maneira. Foi uma onda de ódio e nenhum tipo de afago, carinho. O primeiro impacto foi assustador. Depois vieram algumas mensagens de apoio. Mas foi uma coisa horrorosa e invasiva que eu não estava esperando."

"Estava de boa e de repente entrei no meu Instagram e fui bombardeado, pessoas me ligando, descobriram meu telefone, meu endereço, me ameaçaram. Abordaram pessoas da minha família. Um verdadeiro pesadelo". Ele lamenta ter sido atacado um dia após a celebração do Orgulho LGBTQIA+: "Foi um dia depois da comemoração do Orgulho Gay, no qual todas as empresas e pessoas diziam apoiar a comunidade. No dia 28 de junho, todo mundo estava falando de respeito à comunidade LGBTQIA+ e no dia seguindo fui massacrado. Tiveram algumas mensagens ameaçando dizendo que sabiam onde eu morava e me mostraram meu endereço e eu printei por segurança."

O ator ainda garante que não perde a esperança: "Acho que já passei por tanta coisa, senti, vivenciei. A gente morre todos os dias, somos assassinados todos os dias pelo que a gente é. Eu acredito muito no diálogo, na informação. Acredito que a maioria não age nem por maldade. Hoje, me encontro muito no processo de me amar como eu sou. As pessoas dizem muito que a pessoa trans odeia o corpo que habita e a gente acaba acreditando nisso. Mas precisamos apenas passar pelo processo de se amar, de se ver como alguém interessante. Estou nessa fase de me amar, me conhecer melhor", completou.