Atriz conversou com Mano Brown sobre preconceito
Redação Publicado em 03/05/2023, às 07h44
A atriz Regina Casé, de 69 anos, contou que sofreu muito preconceito por ser nordestina no início de sua carreira. A artista falou sobre o assunto durante sua participação no podcast Mano a mano, comandado por Mano Brown.
“Por que Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante não viraram atores dramáticos? Por que eles vão para o humor? Porque só de ele ter aquele sotaque e aquela cara ele é considerado um palhaço. É caricato. O preconceito é tão forte e tão completamente naturalizado que não adianta, ninguém conseguiria vê-los num papel sério ou dramático”, começou ela.
Regina acrescentou: “Hoje em dia, depois de Lázaro Ramos e Wagner Moura, esse preconceito vem sendo quebrado. Qualquer nordestino era fadado a ficar no humor. Eu descobri isso logo. Porque eu tenho esta cabeça de Ademar, queixo de Adevictor e orelha de Adejar. São os três irmãos do meu avô. Com esta cara, eu logo vi que não seria a mocinha da novela. Aí eu falei: ‘Não, eu vou inventar o meu lugar. Porque nesse lugar eu não vou encaixar’. Aí na televisão eu comecei a inventar os meus próprios programas, porque eu não encaixava em nenhum outro programa”, continuou.
Durante o bate-papo, ela contou como se enxerga: “Eu acho que tenho muita coisa de indígena, muita coisa de negra e muita coisa de branca. Ou seja, eu sou brasileira mesmo. Isso quem disse foi a Anna Muylaert, que dirigiu ‘Que horas ela volta’ (...) O meu lugar de fala é difícil pra caramba. Eu sou mãe de preto, convivo com um monte de preto no meu dia a dia e me dilacero com cada injustiça e desigualdade a cada dia. E vendo coisas que uma branca não conseguiria ver nem que ela lesse todos os livros, porque você conviver todo dia muda muito. É claro que eu não estou sentindo na minha pele, porque no Brasil eu sou branca. Ainda mais quando você tem grana e é famosa. Eu sou quase loura”, explicou.
A atriz também falou sobre a importância da discussão racial na hora das escalações:
“Quando tem um papel de uma negra retinta como a Dona Ivone Lara, não pode ser uma negra de pele clara para interpretá-la. Eu sou a favor, não posso fazer nada. Acho triste que precise ser assim. Se tivesse uma dramaturgia que dá papéis ótimos para atrizes pretas retintas, aí tudo bem (...) Eu acho que é mais fácil a Taís Araújo fazer uma protagonista numa novela do que uma negra retinta”, opinou.
Com muitos papéis na carreira, Regina falou sobre uma das principais críticas que costuma receber: “As pessoas falam: ‘A Regina não gosta de pobre não, não gosta de preto. Ela mora na Zona Sul’”.
Comandante do Esquenta!, ela disse que a época foi marcada por ataques e críticas:
“No Esquenta!, o estigma do programa era: ‘Regina só anda com bandido’ (...) Diziam: ‘O Esquenta é programa de maconheiro, macumbeiro, veado, bandido…’. Porque (para eles) funkeiro e bandido são sinônimos. Só que o cara que aparecia lá, ninguém sabia o nome. Eles sabem o meu. Então, todo o preconceito contra cada uma dessas pessoas fazia um funil e um ralo e vinha para mim. A vida da gente era ruim pra caramba. De embate na rua”, comentou.
Na conversa, ela lembrou de uma vez em que uma mulher a acusou de ter ido em sua casa com motoqueiros para roubá-la: “Claro, era uma pessoa perturbada. Mas você vê o imaginário dela. Eu andava com pessoas que metiam muito medo nela”, completou.
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