Tatiana interpreta a doméstica Mirtes Santana em Falas Negras
Redação Publicado em 30/11/2020, às 10h52 - Atualizado às 10h52
A atriz, diretora e professora de interpretação, Tatiana Tiburcio, 43, conversou com OFuxico e falou sobre a sua personagem no Especial Falas Negras e a cena trágica do filho da sua personagem.
Com 20 anos de carreira, sendo 15 deles dedicados à televisão, a atriz comoveu o telespectador com a sua veracidade em cena. O país reviveu a tragédia da doméstica Mirtes Santana, que perdeu o filho Miguel, 5, após ele ter pulado do nono andar do edifíio Píer Maurício de Nassau, no centro de Recife, por negligência de sua patroa, Sarí Gaspar Côrte Real.
Ao OFuxico, Tatiana comentou: "Para conseguir construir, eu tive que achar um ponto de interseção entre as nossas dores". A obra, de autoria da dramaturga Manuela Dias, com direção do ator Lázaro Ramos, contou com atuação de outros 21 atores que viveram personalidades de diferentes épocas, militantes contra o preconceito racial.
Tatiana ainda foi responsável por preparar o elenco para cada papel: "Eu tinha uma galera impressionante nas mãos". O projeto foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, antes e após a exibição, pelas tocantes interpretações, ligadas às caracterizações impecáveis.
A atriz comentou sobre a cena trágica: "Foi dolorido, porém, o curioso é que eu acabei colocando em um lugar distanciado da dor, por mais contraditório que pareça. Para conseguir construir, eu tive que achar um ponto de interseção entre as nossas dores. Toda mãe tem medo de perder seu filho, seja em um acidente, doença, fatalidade... A mãe negra também tem todos esses medos. Mas ela também tem medo de perder o filho para o racismo".
A atriz continuou: "Quando aconteceu a tragécia com o Miguelzinho, eu não senti como se tivesse perdido o meu filho, o meu João. Eu senti como se o Miguel fosse o meu filho! E de alguma maneira, ele também era meu filho, essa dor também é minha, pelo que ela significa, dentro de um contexto social. Da forma como somos desenhados, vistos. Os problemas que são agregados a esses signos que carregamos. É nesse lugar que essa dor reside. Há um distanciamento do indivíduo e uma aproximação do coletivo. É a dor dessa mulher negra, brasileira, a partir da forma que somos invisibilizados".
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