Ecritor de novelas comentou sobre como lida com o isolamento
Redação Publicado em 12/03/2021, às 11h55
O autor e escritor de novelas, Manoel Carlos, 88, que esteve isolado há um ano em casa por conta da pandemia da Covid-19, desabafou sobre o atual momento e afirmou sobre estar 'pincelando' uma sequência para a minissérie 'Presença de Anita', em entrevista à Veja.
"Confesso que a essa altura da vida, depois de ter atravessado tantos altos e baixos, com grandes sucessos na TV e perdas irreparáveis na vida pessoal, jamais imaginei que fosse experimentar um medo que nunca havia sentido antes. Pois a pandemia me trouxe um temor constante do desconhecido e me impôs uma rotina regrada e privada de gente ao redor", relatou.
Ele ainda disse que não coloca os pés na rua por conta do isolamento e do distanciamento social: "Sigo à risca a cartilha antivírus. Fora a minha mulher (Elisabety, com quem está casado há 43 anos), todas as pessoas com quem precisei ter contato em casa neste período entraram totalmente cobertas: macacão esterilizado, proteção para o sapato, luva, máscara, face shield. A única exceção em meio ao exílio forçado aconteceu recentemente, quando chegou minha vez de ser vacinado e fui ao posto de saúde. Minha sensação e a dos outros que ali estavam era de ganhar a Copa do Mundo".
Conhecido no meio artístico como Maneco, o autor relatou que continua escrevendo como uma 'válvula de escape' e sem pressão da Globo, com quem mantém um contrato até o segundo semestre de 2021: "Embora duas novelas minhas estejam sendo reprisadas como 'Laços de Família' e 'Mulheres Apaixonadas', não vou mais fazer o gênero. É preciso ser um atleta para aguentar a maratona de criar um folhetim. Superei essa fase, mas a cabeça segue a mil por hora e é aí que reside o combustível para enfrentar esses momentos praticamente sem contato humano". Manoel revelou que tem 'pincelado' uma sequência para a minissérie e também tem esboçado um projeto resgatando o formato do teleteatro.
"Ainda estou debruçado sobre minha autobiografia, que mescla fatos marcantes dos meus 70 anos de TV, mesmo tempo em que o veículo está no ar no Brasil, e da minha trajetória pessoal. Não há como deixar de tocar na morte de três dos meus cinco filhos. É uma dor pungente, que não tem consolo e que me acompanha diariamente". Ainda sobre a pandemia, ele contou que não perdeu ninguém próximo durante a pandemia, mas viu o 'sofrimento descomunal de vários conhecidos que experimentaram essa dor'.
Ele também desabafou sobre como é difícil ficar longe dos filhos, netos e amigos, não podendo ver a rua, e que tenta focar no horizonte pós-coronavírus: "Particularmente me indigna o atraso na vacinação e o descaso de quem insiste em pôr tudo a perder promovendo festas, sem considerar o bem-estar coletivo. Aos 88 anos, é inevitável não me revoltar com o fato de o tempo que me resta estar sendo sugado por uma pandemia".
"Quero de novo uma vida na qual possa fazer planos. Adoraria festejar o Natal, o reveillon e ter uma festa de aniversário cercado de minhas filhas, meus netos e de bons amigos", finalizou.