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Luciano Szafir relembra três internações por Covid e desabafa: "Vivi o horror"

Luciano Szafir sofreu complicações em decorrência da doença após primeiro diagnóstico

Ator realizou introdução de bolsa de colostomia desde que sofreu perfuração em alça do intestino - Foto: Reprodução
Ator realizou introdução de bolsa de colostomia desde que sofreu perfuração em alça do intestino - Foto: Reprodução

Redação Publicado em 21/06/2022, às 09h25

Internado três vezes em decorrência de complicações da Covid-19, Luciano Szafir, de 54 anos, fez um desabafo após viver momentos delicados desde que foi diagnosticado com a doença pela primeira vez. 

Ao jornal O Globo, o ator contou sobre nunca ter se imaginado passar por uma fase conturbada: "Jamais. Eu nunca tinha passado por um hospital. Para dizer que não, passei quando fiquei preso em um incêndio há muitos anos no meu apartamento. Fiquei uns cinco dias internado com o pulmão super fragilizado, porque engoli muita fumaça."

Szafir prosseguiu: "Sempre fui ultra saudável. Tive quando era moleque algumas lesões de jogar futebol, mas sempre resolvia em consultório médico. Passar por tudo o que eu passei, se alguém me contasse, eu riria. É horrível você não conseguir respirar, não conseguir comer, ficar se alimentando por meio de uma sonda. Fiquei sem comer e beber nada por mais de 20 dias. Quando minha boca estava seca, passavam um spray de saliva falsa para dar a sensação de saciedade e alívio. Durante a Covid eu não conseguia dar três passos, na semana seguinte eu já andava 50 metros sem passar mal."

"Meu corpo respondeu bem, mas eu não conseguia tomar banho sozinho. Saía cansado, como se eu estivesse corrido meia maratona. Foi um horror. O "bom" é que no hospital você fica sempre dopado porque eles não querem que você sinta dor. Lá no CTI, a cada duas horas, você tem algum remédio, seja novalgina, ou ansiolíticos. Os médicos me prepararam para o desmame dos remédios quando eu chegasse em casa, e falaram sobre a possibilidade de ficar irritado facilmente, mas não está acontecendo comigo, eu estou bem feliz de estar em casa com minha mulher e meus filhos. A situação é muito mais confortável."

Ele ainda relembra: "Eu passei 29 dias, deitado, ou sentado olhando para o teto. Claro, fazia fisioterapia durante uma hora por dia, mas depois voltava a deitar ou sentar na maca sem respirar um ar puro. Se contar todo o meu período em hospitais, eu passei 70 dias dentro deles. Eu não pretendo passar por um bom tempo nem para visitar alguém". Questionado sobre o pior momento em que ficou internado, Luciano afirmou ter vivenciado um momento tenebroso durante a retirada da bolsa de colostomia. "Depois da cirurgia, eu já estava no quarto, começando a me alimentar, prestes a receber alta, uma das alças do meu intestino inflamou e a comida que eu coloquei para dentro ficou entupida."

"Passei muito mal, precisei vomitar, mas não foi o suficiente, colocaram uma sonda em mim. Um cabo, de cerca de 60 centímetros. Os médicos introduziram pela minha narina até a região da garganta. De lá, eu precisei fazer movimentos peristálticos para engolir o tubo, que tem a grossura de um canudo de milkshake, até chegar no estômago. Fiquei uma semana com essa sonda, sem me alimentar direito, sem dormir, foi desesperador. E isso precisava ser feito para desinflamar as alças e fazer com que o órgão voltasse a funcionar normalmente. Foi doloroso, duro e muito difícil", lamenta. O artista também disse que acreditou que não sobreviveria às complicações sofridas. 

"Em alguns momentos fiquei frente a frente com a morte. O mais forte ocorreu durante a primeira internação. Já depois de operado, eu estava no CTI, eram duas da manhã, tomei meu remédio, dei boa noite para todo mundo e dormi. Quando abri o olho, havia uns quatro médicos em volta de mim. Acordei sentindo uma dor no peito absurda. No quadro, onde fica os batimentos cardíacos, estava marcando 180. O normal acelerado era 70. Os meus batimentos cardíacos chegaram nos 202, antes de pararem. Eu ouvi aquele som contínuo da máquina, o mesmo que escutamos nos filmes quando o personagem morre."

O ator relembra: "Eu só pensava que a qualquer momento as luzes se apagariam. Eu estava totalmente consciente, quase quebrei a mão da doutora de tanto que eu a apertava. Foi os dez piores segundos da minha vida. E do nada a máquina começou a contar os batimentos novamente, até parar no 80. O meu coração foi desligado. É uma sensação de pular do precipício sem paraquedas. Quando fui tirar a bolsa de colostomia, durante a cirurgia, também quase fui embora porque a minha pressão chegou a 5 por 2. Eu tive que tomar uma injeção de noradrenalina. Eu acabei pegando um trauma muito grande de hospital e internação."

"A todo o momento, desde que eu entrei no hospital, tive medo de morrer. A cada dez minutos, eu não sabia se eu sobreviveria outros dez". Considerando uma segunda oportunidade para viver, ele admite que pretende usar a nova chance acordando cedo, fazendo suas orações, além de meditar e levar os filhos à escola diariamente. "Depois disso vou cuidar da minha saúde, seja por meio da fisioterapia, ginástica, musculação. As reuniões de trabalho ou gravações serão só a partir das 11h, e vou parar definitivamente às 19h. Vou fazer 54 anos, já trabalhei muito, tenho o direito de organizar a minha vida para participar mais ativamente com a minha família."

"Eu sempre fui muito presente, mas agora vou colocar uma hora de início e uma final no trabalho. Claro que haverá exceções, mas no geral vou ter esse ciclo. Eu aprendi que a vida é muito curta. Eu estou falando com você agora, mas posso não estar mais neste plano daqui a duas horas. Então quero aproveitar ao máximo ao lado das pessoas que eu amo, dizer "não" sem medo de me preocupar com o que as pessoas vão pensar sobre mim. Acho que isso foi a grande mudança que aconteceu comigo: eu parei de me preocupar mais com os outros e passei a me preocupar mais com a minha família e comigo."

Além disso, Szafir passou por sessões de terapia que o ajudaram a desabafar: "Comecei a ter muita crise de pânico, medo de tudo praticamente, e nunca havia feito ou pensado na terapia. Foi um alívio para mim nesses períodos e uma peça fundamental que levarei para a vida. Eu converso sobre meus medos, sobre ansiedade, sobre TOC, mas é um trabalho de médio e longo prazo, não é algo que se resolve do dia para a noite. Eu, inclusive, passei por uma crise de pânico muito forte com minha terapeuta no telefone. Ainda tive forças para ligar para ela. Sempre meditei, fiz yoga, mas eu precisava de ajuda, não estava conseguindo voltar ao eixo sozinho."

O artista também disse: "Demorou muito, ficamos mais de quarenta minutos no Facetime, eu estava completamente vendido. Estava em uma situação de pena mesmo. Graças a Deus não tenho mais, nem lembro da minha última. Eu estou com outra cabeça. A terapia me ajudou a encarar alguns traumas que vieram depois da internação. Eu não conseguia mais ver nada na televisão relacionado a hospital, por exemplo, "The good doctor" e "Chicago Med", que são séries que eu curtia ver, me davam tremedeira e choque. Ainda hoje, não consigo assistir um jornal, ainda mais se a notícia for sobre morte, cirurgia ou sangue."

Luciano complementou e afirmou que sua família o inspirou a querer lutar e encarar os momentos difíceis: "Minha família. Eu quero viver para quero ver meus filhos envelhecerem, se casarem. Vi a Sasha (Meneghel) recentemente, e agora faltam os outros dois. Quando estou nessa posição, me lembro da minha mãe que já enterrou uma filha, minha irmã mais velha, nos meus três filhos, na minha esposa, meus irmãos. Eu amo a família intensamente, isso me dá forças para passar por qualquer obstáculo por pior que ele seja. Hoje eu sei o quanto a vida é valiosa."