“A saúde tem que ser um bem acima de partido político”, defendeu a atriz
Redação Publicado em 25/03/2021, às 06h25
A atriz Beth Goulart, de 60 anos, lembrou como foi a última conversa com a mãe, Nicette Bruno, que faleceu em dezembro do ano passado, aos 87 anos, em decorrência da Covid-19.
“No último momento que eu estive com a minha mãe, ela já estava inconsciente, mas eu guardo como a nossa despedida o momento em que ela voltou do hospital, quando fez os exames. Ela passou na minha casa e nós conversamos. ‘Mãe, você vai voltar logo’ e nos despedimos. Ela não voltou e esse é o momento que eu guardo. Ela estava consciente e pudemos dizer uma para outra o quanto nós nos amávamos. Também disse o quanto a amava quando ela estava inconsciente e por mais que eu tenha dito de várias outras maneiras, não foi a mesma coisa. Para mim, esse último encontro é o que eu guardo”, recordou ela, em entrevista à coluna de Fábia Oliveira, do jornal O Dia.
À publicação, a artista disse que lamenta o fato de a crise sanitária ter se agravado tanto no Brasil (já são mais de 300 mil mortos), e que “sente tristeza” por fazer parte da estatística.
“Eu sei o que essas pessoas, esses familiares passaram. É muito difícil perder uma pessoa amada, ainda mais em uma situação como essa. Ninguém está preparado para perder alguém que se ama e de uma forma tão rápida. Existem pessoas morrendo agora em três dias! Famílias dizimadas em três dias. A minha mãe passou 21 dias internada, mas existem pessoas que morrem muito rápido e ninguém se prepara para isso. A minha tristeza é por estar nesse número. A minha indignação é porque não tem sido feito nada para ter uma medida mais eficaz para impedir o avanço da doença e a minha solidariedade é uma compaixão por todos que sofreram o que eu sofri”, lamentou.
Beth contou que todos os momentos da doença “são difíceis”, e lamentou o fato de a vacina ter chegada apenas um mês depois de a mãe morrer.
“Todos os momentos são difíceis, porque essa doença não dá folga. Você não pode ficar perto de quem está doente e de quem você ama. É uma sensação de impotência muito grande, ainda mais quando ela vai se agravando e aí vem a necessidade de intubar, porque é um momento de muita tensão e angústia”, contou.
“A primeira vacina surgiu um mês depois dela ter morrido. Se ela tivesse tomado a vacina, isso não aconteceria. Dá uma sensação de ‘puxa vida! Só mais um pouquinho, ela sobreviveria’. Se a vacina fosse implantada no Brasil há mais tempo, com certeza a realidade seria outra”, opinou.
Para matar a saudade de Nicette, Beth contou que vê a novela Vida da Gente.
“Eu vejo a novela Vida da Gente. O engraçado é que esta semana mesmo passou uma cena em que a personagem cantava uma música que ela cantou muito para nós, eu e meus irmãos. Essa é uma das formas: rever os trabalhos. Mas, eu oro muito e converso muito com ela de forma silenciosa nas minhas meditações e nas minhas orações. É uma comunicação só de um lado, não consigo ouvir as respostas, mas a gente consegue sentir o amor e a presença. Tem que aprender lidar com as projeções emocionais”, revelou.
A atriz ainda defendeu que é preciso um olhar “mais humano” dos governantes para que a saúde seja “algo acima de um partido político”.
“Acho que essas pessoas deveriam olhar mais para o ser humano. Pensa que poderia ser com seu pai ou com a sua mãe ou uma avó, um irmão, um filho ou uma pessoa querida que está passando por esse sofrimento. De certa forma é um dos seus irmãos, porque todos nós somos parte de uma família, de uma grande fraternidade e o que acontece neste mundo é importante para todos nós. Quem tem a responsabilidade de estar em um cargo de governo num momento como esse tem que fazer o possível e o impossível para salvar vidas e para cuidar da saúde da população. A saúde tem que ser um bem acima de partido político ou de uma ideia ou ideologia. A saúde é um direito de qualquer ser humano”, completou.
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