Em livro, Diego Hypólito relata torturas na ginástica: "Carrego traumas até hoje" - Foto: Reprodução/ Instagram Nesta semana, Diego Hypólito lançou sua
Redação Publicado em 07/12/2019, às 14h25 - Atualizado às 14h26
Nesta semana, Diego Hypólito lançou sua biografia, intitulada Não Existe História Sem Sacrifício. Além de contar histórias pessoais de superação e sucesso na ginástica, onde brilhou por muitos anos, o atleta recém aposentado relatou as torturas que sofreu durante seus treinamentos, principalmente no começo, com 11 anos.
Em um capítulo chamado Caminhos Interrompidos, ele detalha como os momentos de crueldade que passou na mão de atletas mais velhos causou um trauma em sua vida. No relato, ele afirma ter sido obrigado a se submeter ao tratamento terrível dessas pessoas e define a experiência como “pesadelo”, e “terror”.
“Os abusos físicos e morais aconteciam dentro dos ginásios de treinamento”, diz Diego nas páginas do livro. Segundo ele, “com a conivência de treinadores e equipes técnicas, que viam tudo e não faziam nada”.
Um dos momentos mais tensos da história contada por Hypólito foi o ritual de trote que os ginastas mais velhos o obrigaram a fazer. Todos os novatos tinham que ficar pelados e pegar uma pilha com o ânus.
“A prova em questão consistia em pegar com o ânus uma pilha besuntada de pasta de dente. O uso da pasta era um requinte de crueldade dessa história toda, porque ela provocava uma grande ardência quando entrava em contato com a área. Depois de pegá-la, deveríamos andar com ela e acertá-la dentro de um tênis que ficava em outro canto da sala”, explica Diego. Ele não conseguiu cumprir a tarefa. “Fiquei tão nervoso que tive uma convulsão e precisei ser levado para a enfermaria”, relatou.
Um ano mais tarde, quando ele tinha 12 anos, ficou preso em um quarto com outros dois atletas e obrigados a tirar a roupa em um momento de tortura psicológica.
“Eles mandaram ficar um ao lado do outro e escreveram com pasta de dente no nosso peito ‘eu sou gay’, uma palavra no peito de cada um”. Mais uma vez, riram, debocharam. Éramos muito novos e não sabíamos como defender”, escreveu.
Não foram apenas esses os momentos de terror psicológico narrados por Diego Hypólito em seu livro biográfico. Segundo ele, um dos maiores traumas foi o chamado “caixão da morte”, que é como ele chama a caixa de plinto onde os atletas eram obrigados a se deitar e se submeter a uma situação vexaminosa.
“O caixote, então, era fechado com a tampa, e aí começava todo o terror. Enquanto alguém se sentava sobre a tampa, para não deixar a gente fugir, outros jogavam água e pó de magnésio lá dentro. Parecia que eu ia morrer ali dentro. Você tenta prender a respiração para não inalar aquele pó, mas não tem jeito”, relatou.
A situação foi bastante penosa para Diego: “Uma hora você precisa respirar, senão morre de verdade, sem ar. É como se você estivesse se afogando, sufocado. A sensação era de que aquela tortura nunca ia acabar. Eu ficava muito mal, chorava muito. Era um pesadelo completo”, narrou.
Ao fim do impressionante capítulo, Diego diz que os traumas daquela época o acompanham até os dias de hoje. “O que eu posso dizer é que fiquei com muitos traumas dessa época. Tenho certeza de que me tornei claustrofóbico por causa do caixão da morte”, disse.
“Até hoje, só viajo do Rio para São Paulo, e vice e versa, de carro. Nem cogito pegar um avião. Quando preciso entrar num avião, tenho que me entupir de tranquilizantes para conseguir embarcar. Fico nervoso dentro de túneis, não entro em elevador. Se tenho que ir ao décimo andar de algum prédio, vou de escada. Não consigo ficar em lugares fechados. Qualquer situação dessas, por mais corriqueiras que sejam, me remete àquelas sessões de tortura dentro do caixão da morte. Sim, porque era realmente isso: tortura, não trote”, explicou.
Por fim, Diego afirma que o ambiente da ginástica é “machista e preconceituoso”. “As pessoas zombavam do meu jeito de ser”, comentou.
COLUNISTAS
Danni Cardillo
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