Sintonia, série brasileira da Netflix, aprofunda temas e investe no carisma dos atores
Redação Publicado em 28/10/2021, às 21h11
A segunda temporada de Sintonia estreou nesta semana na Netflix, depois de um ano de atraso devido a pandemia da covid-19. O que deveria ser uma má notícia para os fãs da série, acabou sendo o maior acerto de todos: o tempo fez com que os personagens ganhassem mais profundidade, dando mais cor aos temas tratados na produção como um todo: a religião, as drogas, a vida na periferia e, claro, o funk.
As coisas parecem iguais em uma primeira olhada, mas não demora pra que a gente perceba que muita coisa mudou, principalmente entre o trio principal. Doni (Jotapê), Rita (Bruna Mascarenhas) e Nando (Christian Malheiros) continuam dando duro atrás de seus objetivos apesar de todos os problemas e da vida no subúrbio. O primeiro está estourando como cantor de funk, a segunda volta a ser aceita na igreja, da qual se reaproxima, e o terceiro se torna importante no mundo do tráfico.
Nessa nova temporada, eles não ficam mais tão juntos, e isso é bom para o desenvolvimento dos episódios: a gente acompanha a trajetória de cada um de forma separada, portanto, com mais atenção aos detalhes do que o todo. Eventualmente eles se reúnem e não perdem a ligação que tem um pelo outro, mas como narrativa, a proposta de acompanhá-los de forma separada é um grande acerto.
Os seis episódios dessa segunda temporada são levemente melhores que os da primeira temporada, inclusive, por conta disso. Se antes a gente focava mais na relação entre esses três amigos com sonhos tão diferentes, nessa nova leva de episódios a gente vê como eles estão se desenvolvendo em busca de seus sonhos. Jotapê volta a emprestar um enorme carisma a Doni, da mesma forma que Bruna Mascarenhas continua com uma atuação suave interpretando Rita.
Quem ganha em peso dramático é Christian Malheiros, que tem a linha narrativa mais pesada e complicada dessa segunda temporada de Sintonia. E assim como seus colegas de elenco ele se sai muito bem, conseguindo um resultado muito interessante para o seu personagem, Nando.
Não que os outros personagens não tenham desafios. Doni conseguiu o que queria: o contrato, o estouro como cantor de funk, conseguiu sair da comunidade, tem um carro bom. Mas até onde ele vai conseguir ir para manter esse estilo de vida, com uma concorrência cada vez mais acirrada? O personagem tem suas preocupações, mas também não deixa de olhar para o próximo com a empatia que pode ser vista na primeira temporada. É um feito e tanto dos roteiristas e do ator.
Rita, por sua vez, batalha para conseguir erguer uma igreja ao lado da pastora Sueli (Fernanda Viacava), e encontra ajuda em Levi, interpretado por Bruno Gadiol, filho do pastor que voltou ao Brasil após uma temporada no Canadá. Ao mesmo tempo em que ela aprofunda seu interesse na religião, ela desperta para um possível novo interesse amoroso. Também é uma personagem cheia de camadas, e novamente o elogio vai para o texto preciso e para a atriz.
Nando, por fim, tem a questão do tráfico: agora que chegou tão longe, como sair? É uma realidade muito próxima para jovens de periferia, onde muitos deles acabam sendo obrigados a esse tipo de escolha. É aqui que a segunda temporada de Sintonia engrandece e ganha ainda mais pontos, oferecendo um dilema com toques dramáticos que vale muito a pena acompanhar.
Na nossa opinião, Sintonia volta com tudo para essa segunda temporada, onde consegue abrilhantar mais os carismáticos personagens apresentados em 2019 e faz com que eles cresçam emocionalmente. A vida é dura, escolhas precisam ser feitas, e a série não facilita, sendo o mais realista possível nessa abordagem.
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