Em Anne Frank: Vidas Paralelas, cinco sobreviventes do Holocausto contam suas histórias, que se cruzam com a de Anne Frank. Veja a crítica.
Redação Publicado em 01/07/2020, às 23h18
Anne Frank faria 91 anos neste ano, e a Netflix colocou em seu catálogo esse documentário dirigido por Sabina Fedeli e Anna Migotto, em que a vida da conhecida adolescente se entrelaça com outras cinco sobreviventes do Holocausto.
O documentário também mostra uma jovem, nos tempos atuais, descobrindo o famoso diário de Anne Frank, que ela escreveu durante seus anos escondida em uma casa em Amsterdã, e inspirada pelo livro resolve percorrer os lugares que foram mais importantes para Anne.
Se vê então a sua casa em Amsterdã, a prisão com toda a família e a transferência para Auschwitz, e mais tarde a última viagem com sua irmã Margot, em setembro de 1944, ao campo de concentração de Bergen-Belsen. Lá, as condições insalubres e a letalidade do tifo se juntariam à tarefa sinistra dos oficiais alemães.
O documentário quase não usa referências a Segunda Guerra Mundial, no que diz respeito a contextualizar o viés militar do conflito. As diretoras se focam no material humano do qual dispõem: as mulheres, já idosas, contando suas memórias e compartilhando sua horrível experiência com quem assiste.
Ao ouvi-las, entendemos o que aconteceu com Anne Frank e com milhares de pessoas que atravessaram o mesmo calvário.
O documentário também mostra a forma como diferentes gerações enfrentam o shoah (termo bíblico que significa "calamidade", que se tornou o padrão para nomear o Holocausto já em 1940, especialmente na Europa e em Israel).
Os parentes das sobreviventes se esforçam para tentar “consertar os erros” do passado e não deixar que toda essa história seja esquecida. E com razão: esquecer seria repetir esses erros. Infelizmente, muitos lugares do mundo tem passado por isso agora, e correm o risco de ver emergir o mesmo clima político daquele tempo.
O documentário também nos faz pensar sobre como os responsáveis pelo horror do nazismo e do Holocausto são pessoas que não tem nada de doidas. Elas sabiam exatamente o que estavam fazendo, de acordo com os relatos das sobreviventes.
Diferentemente de vários filmes e séries que os tratam como psicopatas maníacos, eles na verdade tinham plena consciência da maldade que estavam cometendo. E também, pelas histórias que ouvimos, relembramos como esses projetos ditatoriais começam com discursos sempre nacionalistas, de quem supostamente defende a liberdade etc.
Um outro ponto louvável do documentário é a participação de Helen Mirren. A premiada atriz não aparece aqui apenas como chamariz para a produção. É através dela e de suas intervenções que ligamos todas essas histórias trágicas, a de Anne Frank e a das sobreviventes e seus descendentes.
Sua função é fazer a narração do diário de Anne Frank. A pontuação que isso nos dá dentro da narrativa faz o grande trabalho de nos mostrar como Frank procurava desesperadamente a esperança para escapar daquela situação terrível. Não foi só ela, como notamos.
As nuances na narração de Mirren nos emociona e cativa. Ao mesmo tempo, em contraste com as histórias de quem teve a sorte de sobreviver -- ao contrário de Anne Frank -- nos entristece. Mas essa tristeza é necessária para entendermos mais ainda tudo o que aconteceu naqueles anos terríveis, mesmo que isso nos custe uma noite de sono.
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