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Crítica | Reality Z (Netflix, 2020)

Nesta crítica sem spoilers, apresentamos a série Reality Z, que estreia agora na Netflix e traz um enredo que pode parecer insólito: um apocalipse zumbi acontecendo no Brasil.

Sabrina Sato interpreta Divina, apresentadora de reality show em Reality Z, série da Netflix - Reprodução/Netflix
Sabrina Sato interpreta Divina, apresentadora de reality show em Reality Z, série da Netflix - Reprodução/Netflix

Redação Publicado em 10/06/2020, às 12h07

A série Reality Z, que estreia na Netflix hoje (10/06), imagina em 10 episódios como seria um apocalipse zumbi no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro.

A história começa na noite de eliminação de um programa chamado Olimpo, mais conhecido como a Casa dos Deuses. Durante a transmissão, os participantes recebem a notícia de que o Rio de Janeiro vive um apocalipse zumbi.

As ruas da cidade foram tomadas pelo pânico da população, e o estúdio onde o reality está sendo gravado se torna um dos lugares mais seguros da cidade para sobreviver ao ataque. O reality então se torna um outro tipo de jogo, o de sobrevivência.

Veja esta crítica em vídeo:

A série tem seus momentos mais sérios de crítica social no subtexto, como por exemplo, indiretas sutis ao individualismo humano e a forma como agimos em sociedade. Esses e outros assuntos são abordados, no entanto, com muito bom humor. Por causa disso, a mensagem chega mais fácil no espectador.

Reality Z também é assumidamente trash, lembrando muito os filmes B de zumbis produzidos nos anos 70. A inspiração é claríssima na direção de arte e na maquiagem, que são muito bem executadas quando se lembra que a intenção é mesmo ser trash.

Elenco afinado

Ana Hartmann interpreta Nina, que é, no fim das contas, a personagem principal de Reality Z. Ela é uma produtora do reality que acaba se tornando, meio à contragosto, a lider dos humanos na resistência aos zumbis. Seu arco narrativo é bem trabalhado: ela começa “pequena”, sendo uma subordinada, mas emerge como grande protagonista à medida que os supostos líderes da emissora vão mostrando sua verdadeira face.

Isso inclui Brandão, interpretado por Guilherme Weber. Ele faz o estressado e individualista diretor do reality, e que teoricamente deveria ser a pessoa a lidar melhor com a situação. Com o passar dos episódios, percebemos que o instinto individual de sobrevivência fala mais alto.

Da mesma forma, a curta participação de Sabrina Sato também diverte. Ela interpreta Divina, a apresentadora do reality, que é um amor na frente das câmeras, mas é bem escrota fora delas. A apresentadora  e ex-BBB tem muito carisma, e consegue passar isso para seu personagem -- que é basicamente uma versão “trash” dela mesma.

O arco mais bem estruturado, no entanto, é o de Marcos, interpretado por Gabriel Canella. Ele é um participante do reality que começa a história sendo uma pessoa horrível, mas a situação na qual ele acaba inserido faz com que ele mostre seu lado mais humano e humilde. É uma transformação ao contrário do que boa parte dos outros personagens mostrados aqui.

O elenco também tem nome como Jesus Luz, Emilio de Melo, Ravel Andrade, entre outros tantos que também se dão bem em seus personagens, muito disso por conta de uma direção de atores bem feita e também por um roteiro bem escrito.

A inteligência de Reality Z

Reality Z tem um roteiro muito inteligente ao fazer um “apocalipse zumbi à brasileira”. As referências pop aparecem aos montes, muita gente vai gostar dos easter eggs. No entanto, não deixa de colocar os problemas e situações tipicamente brasileiras no roteiro. 

Cláudio Torres é o roteirista da série, que ele também dirigiu ao lado de Rodrigo Monte. Com ótimos serviços prestados ao cinema e ao audiovisual nacional, Cláudio pegou a série Dead Set, escrita por Charlie Brooker (de Black Mirror) e deu uma cara tipicamente brasileira a ela. Funcionou muito bem, o trabalho é louvável em todos os sentidos.

Por fim, é importante louvar a trilha sonora da série. Em cada episódio uma música é usada para realçar as situações que estamos vendo na tela. A escolha musical foi muito bem feita e não chega a ser invasivo no que diz respeito ao andamento da história: a música pontua as situações, e não às invade como em muitas obras do tipo.

A história foi logicamente criada bem antes da pandemia do novo coronavírus, mas acabou casando muito bem com o período em que foi lançada. No momento que vivemos agora, temos um show de individualismo e incompetência de autoridades para lidar com uma situação que se mostra catastrófica. Chega a ser irônico que Reality Z tenha estreado justo agora.

A primeira temporada de Reality Z  tem apenas 10 episódios, cada um com 30 minutos cada. Dá para assistir rapidamente, o que não quer dizer que não seja bem feita. Naturalmente, há alguns episódios melhores que outros, mas não chega a estragar o todo. Pelo contrário: a produção é simplesmente fantástica.