Atriz, modelo e cantora interpreta a Morte na novela Quanto Mais Vida Melhor
Redação Publicado em 11/12/2020, às 10h03
A atriz, modelo e cantora transexual Marcella Maia, 29, contou à colunista Patrícia Kogut sobre as dificuldades que enfrentou por ser transexual.
Marcella interpreta a Morte na novela das 19h 'Quanto Mais Vida Melhor', no qual usa capa e capuz pretos e possui um rosto cadavérico com uma foice na mão. Sua vida artística começou desde muito cedo em Minas Gerais, onde ela nasceu e foi repleta de decepções: "Minha mãe me abandonou quando eu tinha 4 anos. Fui morar com meus tios. Fui abusada constantemente dos 5 aos 7. Isso me trouxe conflitos de sexualidade. Era muita confusão na minha cabeça".
"Eu pensava: "Sou mulher, mas não posso ser mulher na sociedade, preciso performar como esse menino". Até que minha mãe voltou para me buscar quando eu tinha 7 anos. Depois soube que ela fugia dos abusos do meu pai, que era muito violento. Então, fomos morar em Brasília", relembrou Marcella.
Quando tinha 21 anos, ela correu atrás da cirurgia dos sonhos, que se realizou na Tailândia: "Eu ralei para caramba e também tinha a grana do Mark, porque ele não me deixou desamparada. Eu já troquei prótese de seio duas vezes, fiz a redesignação, lixei a cara, coloquei botox. O mais doloroso de tudo foi a feminização facial".
"A cirurgia estética é para a pessoa se sentir bem consigo mesma. Eu me cuido muito, sou vaidosa. Então, fiquei bem feliz. Investi um Mini Cooper, uma Ferrari e uma Lamborghini nesse corpo". A atriz já chegou a alterar seu registro civil e escolheu o primeiro nome em homenagem ao seu médico que fez seu parto complicado. Ela contou que nasceu prematura, sem oxigenação adequada. Seu sobrenome remete-se à deusa hindu, que representa a ilusão:
"Ninguém sabia que eu era uma mulher trans. Não achava necessário falar a partir de quando o juiz decretou que meu gênero é feminino e meu nome, Marcella. Acho que é uma coisa íntima. Não saio perguntando o que as pessoas têm no meio das pernas. Tenho que provar que sou suficiente sem dizer que sou trans. Mas, há cinco anos, saí do armário. Falei publicamente pela primeira vez. Hoje em dia falo com orgulho. Por muito tempo tive vergonha de ser uma mulher trans".
Marcella completou: "É uma construção até você se aceitar, pois a sociedade não aceita, não dá emprego. Quando a gente está num lugar confortável, se aceitar é muito fácil. Vi que era necessário falar da minha história para outras mulheres trans que saíram da periferia e não têm referência na TV e em filmes. A única que eu tinha era a Roberta Close. Eu não fui educada para ser mulher. Aprendi sozinha. Minha vivência nunca vai ser de uma mulher cisgênero, mas é importante reconhecer o corpo enquanto mulher trans e abrir portas para outras que virão".
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