Atriz já viveu crimes de ódio na vida real e na televisão
Redação Publicado em 22/01/2021, às 08h59
A atriz trans Renata Peron relembrou ataque que sofreu em 2004 por ser trans e ter perdido um rim em 2004, em entrevista com a colunista Patrícia Kogut.
Além de ter vivido crimes de ódio na vida real, Renata também viveu o tema na série de três temporadas do Globoplay, 'Rotas de Ódio'. Aos 27 anos, em 2004, a atriz estava andando na Praça da Sé, em São Paulo, quando foi abordada por um grupo de skinheads e brutalmente espancada por ser trans. Ela perdeu um dos rins e carrega um trauma emocional e uma cicariz na barriga:
"É um trauma muito grande você ser agredida por ser quem você é. Eu demorei anos para conseguir superar esse trauma, mas hoje, aos 43 anos, posso dizer que consegui. Acabei entendendo que o problema não sou eu, mas a sociedade ruim e emburrecida em que vivemos. Fisicamente, ainda carrego algumas marcas".
"Preciso beber três litros de água por dia, para que o meu único rim continue funcionando bem. Também não uso mais biquíni e nada que mostre a minha barriga, pois tenho vergonha da grande cicatriz que ficou", desabafou a atriz. Renata acabou conhecendo a diretora Susanna Lira, criadora da série, após o episódio sofrido. A criadora lançou um documentário em 2017 chamado 'Intolerância.doc', que fala sobre o assunto, entrevistando a atriz.
Quando Susanna soube que Renata era atriz, ela decidiu convidá-la para participar do elenco da série: "A série é um trabalho maravilhoso. Não tive qualquer problema em abordar um assunto que marcou tanto a minha vida. Já passei por tanta coisa nessa vida que acabei criando uma couraça, sabe?". Renata garantiu que a repercussão após a estreia de 'Rotas de Odio' no Globoplay tem sido enorme.
"A minha caixa de mensagem nas redes sociais e o meu e-mail estão uma loucura. Parece até que a série foi o primeiro trabalho da minha vida como atriz. Por incrível que pareça, muitas pessoas sabem que eu vivo das artes, mas acham que eu sou apenas do gueto e, por isso, não tenho valor. Foi preciso aparecer numa série de TV com destaque para que reconhecessem esse valor".
Renata também é cantora, formada em assistência social e militante dos direitos humanos. Criado por ela, a 'Caminhada pela paz: sou trans, quero dignidade e cidadania', acontece todo fim de janeiro em São Paulo. Por conta da pandemia, esse ano a programação será readaptada: "Costumo dizer que eu sou uma “artivista”. São anos e anos de luta pelos diretos não só das pessoas trans, mas de outros grupos oprimidos, como a população preta e os nordestinos em São Paulo. Eu sou paraibana e vim para São Paulo no início dos anos 2000 para tentar realizar o sonho de ser artista".
"Mas, chegando aqui, descobri que não seria tão simples assim. Sofri preconceito de todos os tipos. Por ser nordestina e muito afeminada e não me enquadrar num padrão. Nós precisamos provar a nossa capacidade o tempo todo, a vida inteira. É algo por que as pessoas cis não passam, por exemplo". A atriz está com expectativas de uma nova temporada para a série. Atualmente, Renata está ensaiando para um espetáculo, "No meio do caminho”, peça escrita por Luh Maza, que será transmitido online.
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