Bella Piero como Laura, sua personagem em O Outro Lado do Paraíso - Foto: TV Globo Aos 22 anos, Bella Piero recebeu a missão de tratar de um assunto complicado
Redação Publicado em 23/03/2018, às 13h45 - Atualizado às 13h59
Aos 22 anos, Bella Piero recebeu a missão de tratar de um assunto complicado – mas que precisa ser abordado – na novela O Outro Lado do Paraíso.
Intérprete de Laura na trama de Walcyr Carrasco, uma garota que ficou traumatizada após ser abusada sexualmente pelo padrasto Vinícius (Flávio Tolezani), a atriz foi parar muitas vezes no topo da lista dos assuntos mais comentados das redes sociais.
Com a torcida a favor, Bella conseguiu fazer com que as pessoas discutissem o assunto. Para a atriz, comportamentos semelhantes ao de Vinícius são frutos da “cultura do estupro” e da “educação falha”:
“O abuso é um assunto que abrange, ouso dizer, quase todas as mulheres. Nestes nove meses envolvida com o tema, ainda não consegui encontrar uma mulher a minha volta que nunca tenha entrado em contato com nenhum tipo de abuso – seja moral, mental, emocional ou físico”, revelou Bella.
Em entrevista à revista Quem, a atriz explicou que tentou passar realismo ao contar a história da personagem, e alertou ainda para a violência contra os meninos:
“Neste trabalho pudemos mostrar como a nossa educação é falha, omissa, atrasada para meninas e meninos. O abuso contra os garotos também existe. As mulheres são 90% das vítimas, mas também existem abusos contra eles. Essa cultura do estupro atinge todo mundo violentamente desde a infância”, disse.
“O homem aprende que não pode chorar, que tem que ser machão, que não pode ser sensível. O homem é considerado sucesso por pegar geral e dar conta do recado, enquanto a mulher fica submissa. A gente até já conseguiu evoluir um pouco. As mulheres estão mais empoderadas, mas é uma luta diária para as mudanças acontecerem. Ainda existe diferença salarial, mulheres ainda são cantadas nas ruas, são abusadas moralmente, psicologicamente, sexualmente… A educação realmente precisa mudar”, pontuou.
Com forte carga emocional, as cenas de Laura deixavam a atriz com os nervos à flor da pele:
“Ficava muito à flor da pele com as cenas da Laura. Sou muito chorona. Um dos rituais que tenho é ouvir as músicas que me conectam com a personagem. Gosto de aquecer corpo e voz escutando música. A emoção, no caso da Laura, não foi difícil. A emoção vinha e transbordava. Tenho vários rituais”, explicou.
Com o sentimento de ter cumprido a missão, Bella contou ainda que ficou surpresa com a repercussão do trabalho:
“Eu me surpreendi positivamente com a repercussão. Não esperava que fosse ter tanta. Desde que tive a primeira reunião com os diretores e conheci o tema abordado por meio da personagem, soube que faria barulho. Era o nosso objetivo. A gente estudou para falar sobre o assunto que ainda é um grande tabu”, opinou.
“A maior dificuldade deste tema é falar sobre ele. Esperávamos que tivesse amplitude, mas é impressionante como o assunto chegou às pessoas. Várias vozes foram fortalecidas. A repercussão foi bem intensa. Fomos a uma região supersimples do Jalapão e uma menininha, de uns 3 anos, me reconheceu. É uma coisa de louco chegar a tantas pessoas com um trabalho”, completou.
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