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Betty Broderick: Conheça a história que inspirou a nova temporada de Dirty John na Netflix

Dona de casa matou o ex-marido e sua nova esposa em novembro de 1989

Amanda Peet interpretou Betty Broderick na segunda temporada de Dirty John, série da Netflix - Reprodução/Netflix
Amanda Peet interpretou Betty Broderick na segunda temporada de Dirty John, série da Netflix - Reprodução/Netflix

Redação Publicado em 15/08/2020, às 16h28

Neste fim de semana, estreou na Netflix a segunda temporada da série Dirty John - O Golpe do Amor, que fez enorme sucesso na plataforma no ano passado.

Com o sucesso da minissérie que mostrava os crimes de John Meehan contra Debra Newell, a emissora USA Network, que bancou a produção ao lado da Netflix, resolveu transformar o produto em uma franquia antológica. Ou seja, em cada temporada, será relatado uma história diferente.

Esta nova temporada é estrelada por Amanda Peet. Ela dá vida a Betty Broderick, que segue um caminho destrutivo, e eventualmente assassino, depois que seu marido Dan (interpretado por Christian Slater) a deixa por seu assistente muito mais jovem.

O foco é mostrar a vida dos Brodericks e como seu casamento aparentemente perfeito se deteriorou e terminou com Betty assassinando Dan e sua segunda esposa, uma aeromoça chamada Linda Kolkena que ele contratou para ser sua assistente.

A série fez algumas mudanças no enredo para se encaixar melhor no esquema dramático de uma série, alterando algumas situações. Aqui, você conhecerá a história real.

Caso prefira ver o conteúdo em audiovisual, assista abaixo:

O início

Betty e Dan Broderick se conheceram na Universidade de Notre Dame em 1965 e se casaram quatro anos depois em Westchester, Nova York. Eles tiveram duas filhas e dois filhos.

Dan se formou em medicina na Universidade de Cornell depois que sua primeira filha, Kim, nasceu. Pouco tempo depois, ele decidiu se formar em direito em Harvard, após começar a praticar a medicina e não se adaptar.

Neste período, foi Betty quem trabalhou para sustentar a família. Foi um período de muita dificuldade para a família, que só vinha crescendo. Após se formar, os Brodericks se mudaram em 1973 para a elegante vila de La Jolla (que fica em San Diego, Califórnia), já que Dan havia sido contratado por um escritório de advocacia local.

Não demorou muito para Dan subir na hierarquia do escritório e se tornar um advogado bem-sucedido, atuando principalmente em casos de negligência médica. Apoiado por Betty, ele iniciou seu próprio escritório em 1978.

A chegada de Linda

O escritório logo se tornou um sucesso, e Dan passou a precisar de ajuda. Em 1982 ele contratou Linda Kolkena, de 21 anos, para ser sua assistente. Ela trabalhava como aeromoça e havia perdido o emprego, e estava em busca de uma nova colocação no mercado.

A boa convivência de Dan e Linda logo chamou a atenção de Betty, que começou a suspeitar que eles estavam tendo um caso. Dan negou várias vezes, e acusou a esposa de ser louca. Foi quando Betty começou a ter um comportamento irascível por causa de suas desconfianças: ela incendiou os ternos personalizados de Dan no quintal na mansão.

Pouco tempo depois, porém, Dan assumiu que tinha um caso com Linda e pediu o divórcio, deixando Betty inconsolável. O advogado então mudou-se -- tecnicamente, ele voltou para a casa da família, do qual haviam se mudado temporariamente durante uma reforma.

Já transtornada, Betty foi deixando os filhos na porta da moradia de Dan, um por um. Ele entrou com uma ordem judicial para proibir Betty de entrar em sua antiga casa, que ele passou a dividir com Linda, já oficializada como sua noiva. Betty deixou mensagens de voz raivosas e sempre dava um jeito de entrar na casa de qualquer maneira para vandalizá-la

Assim, ela seguiu quebrando espelhos, pintando as paredes com spray e espalhando uma torta de creme por toda a cama do casal.

Divórcio doloroso

O divórcio de Dan e Betty foi altamente doloroso para ela. Todo o trâmite levou quatro anos para ser finalizado, e se tornou conhecido como o "pior caso de divórcio no condado de San Diego". Até hoje o caso "Broderick x Broderick" é usado como exemplo nos Estados Unidos sobre como maridos podem se sobrepor aos direitos da esposa usando brechas na lei.

Dan usou toda a sua habilidade legal para reter o pagamento da pensão alimentícia, além de vender a casa sem a permissão dela. Eles também brigaram por seus filhos: ele usou o episódio em que Betty os deixou na porta de sua casa para conseguir a guarda total das crianças.

Conforme Dan foi retirando tudo que Betty tinha por direito -- e que ajudou a construir quando eles ainda eram um casal pobre --, ela foi ficando cada vez mais transtornada.

Em um episódio, que é retratado logo no começo da série, Betty bateu com o carro na porta da frente da nova casa de Dan, enquanto seus filhos estavam dentro. Ela continuou a deixar mensagens ameaçadoras na secretária eletrônica. Usando o conhecimento da legislação e seus bons contatos no meio jurídico local, Dan fez com que ela fosse presa três vezes e internada em um hospital psiquiátrico por três dias.

No começo de 1989, com o processo de divórcio finalizado, Dan e Linda finalmente se casaram. Com medo do que Betty poderia fazer, Dan contratou seguranças que cercaram o evento, enquanto Linda implorou que ele usasse um colete à prova de balas por baixo do terno, o que ele se recusou a fazer.

A tragédia

A vida de recém-casados de Dan e Linda seria curta. Em 5 de novembro de 1989, Betty dirigiu para a casa do ex-marido e entrou com a chave que pegou escondido de sua filha mais velha. Ela seguiu silenciosamente para quarto deles e disparou seu revólver calibre .38 várias vezes, acertando Linda no peito e no pescoço, e Dan nas costas, matando os dois. Betty não fugiu, se entregando à polícia em seguida.

Um dia antes dos assassinatos, Betty recebeu mais ameaças de Dan, dizendo que a processaria novamente se ela não parasse de ligar para ele e deixar mensagens obscenas. Betty estava exausta de anos de batalhas legais e das manipulações de seu agora ex-marido para deixá-la sem nada.

“Eu estava parada na cozinha dizendo: 'Jesus Cristo, estou fazendo 42 anos e estou no meio dessa merda desde os 35'. Sete anos da minha vida perdidos", disse Betty durante seu primeiro julgamento, no qual foi acusada de assassinato. "Eu estava uma bagunça. Tudo desabou sobre mim e eu simplesmente não pude aguentar mais um minuto", declarou.

Betty disse que não conseguia se lembrar de disparar a arma, e que só pretendia ir até a casa de Dan e Linda para conversar com o casal. No entanto, antes que notasse, havia disparado -- e cometido um duplo homicídio.

O destino de Betty

Betty se declarou "inocente" nas acusações de assassinato e não mostrou remorso durante o julgamento, alegando que atirou em legítima defesa.

De acordo com suas alegações, ela dedicou sua vida a ser uma boa esposa e mãe, até mesmo colocando-o na faculdade de direito, apenas para ser posta de lado por uma mulher mais jovem. Ele havia levado seus filhos, sua casa, e a empurrado para o limite usando suas conexões legais para privá-la de bens, dignidade, poder e, assim, torná-la uma ex-esposa louca e desequilibrada na visão da sociedade.

Presa, Betty recebeu centenas de cartas de mulheres que escreveram a ela para expressar sua solidariedade. Embora não tolerassem o assassinato, entenderam os sentimentos dela por conta da situação. “Acredito em cada palavra que Betty diz - porque já estive lá”, escreveu uma mulher, de acordo com o LA Times. “Advogados e juízes simplesmente se recusam a proteger as mães contra esse tipo de terrorismo emocional legalizado”, acrescentou.

O primeiro julgamento de Betty aconteceu em 1990 e terminou em anulação, quando o júri não conseguiu chegar a um acordo sobre se as mortes foram premeditadas. Um ano depois, ela foi julgada novamente. Dessa fez, foi condenada por duas acusações de assassinato de segundo grau, recebendo uma sentença de 32 anos ou prisão perpétua.

Atualmente Betty tem 72 anos, e está cumprindo sua pena no Instituto para Mulheres da Califórnia. Ela pediu liberdade condicional em 2010 e 2017, e foi rejeitada nas duas vezes. Sua próxima audiência de liberdade condicional será apenas em 2032.

Na ocasião, Betty Broderick terá 84 anos.

Repercussão

A temporada de Dirty John que fala sobre os Brodericks começa quando eles se conhecem até o momento em que ela comete o crime. "Parte do que foi empolgante para mim como cineasta foi ter uma personagem feminina no centro da história que é realmente complexa e multifacetada, muito divertida e uma ótima mãe, e todas essas coisas maravilhosas", disse a diretora e co-produtora Maggie Kiley, segundo o site Town & Country. "Ver todo o espectro de sua vida emocional é tão revigorante, honestamente", relatou.

De fato, os Brodericks eram tidos como uma família perfeita -- como se diz no Brasil, eram exemplo de "comercial de margarina". "Os dois foram quase os primeiros yuppies", afirmou o colunista social Burl Stiff ao LA Times em 1990, época do julgamento de Betty.

Eles moravam em uma mansão em La Jolla, tinham um barco, compraram uma propriedade de esqui no Colorado, pertenciam a dois clubes de campo e tinham uma vida social brilhante. Seus filhos frequentaram escolas particulares de prestígio.

"Você nunca sabe como é o relacionamento de alguém", notou Kiley. "Seus vizinhos de rua você só vê à distância -- então você tem uma ideia muito específica de como é a vida deles porque você os vê de fora. Mas estar dentro desse relacionamento, e estar dentro da experiência de Betty, foi uma grande parte de como manter a nuance da narrativa que não tínhamos visto antes", explicou.