Independente de polêmicas, Missão no Mar Vermelho é um ótimo filme, que traz belas atuações de Chris Evans e um ótimo elenco de coadjuvantes.
Redação Publicado em 31/07/2019, às 15h45 - Atualizado às 17h19
Missão no Mar Vermelho conta uma história real, que aconteceu na Etiópia em 1997. A forma como tudo aconteceu parece incrível, até mesmo um roteiro de filme. Portanto, é natural que acabe mesmo ganhando uma versão cinematográfica.
O longa, estrelado por Chris Evans, mostra o ator liderando uma equipe do Mossad em uma espécie de resgate incrível. Na época, a Etiópia vivia um momento de repressão, e muitos refugiados tentavam sair do país. No entanto, eram reprimidos com força pelo Estado. A ideia dos chefões do Mossad – a agência secreta de Israel, para quem não conhece – era tirar o máximo de pessoas possível através do Mar Vermelho.
Veja a crítica em vídeo aqui:
A forma como conseguiram fazer isso é surpreendente: usaram um resort aparentemente normal como fachada. O lugar tinha saída para o mar, e enquanto fingiam receber hóspedes, eles levavam os refugiados por barco, pelo mar. É claro que a ideia encontrou alguns problemas, e é preciso assistir ao filme para entender os riscos da missão.
Evans, que interpreta o líder da missão com um passado problemático, está excelente no papel. Recém saído de sua aventura de mais de 10 anos no Universo Marvel, o ator passa enorme credibilidade. Afinal, ele sabe como ninguém interpretar um herói. Aqui, no entanto, ele volta ao “mundo real”, sem as amarras morais do seu Capitão América. Ele fala palavrão, toma atitudes questionáveis, tem uma vida anterior confusa. Tudo isso engrandece o personagem e Evans o interpreta com sensibilidade nos momentos em que ela é exigida. Por outro lado, ele também é excelente ator físico e sabe mostrar a que veio quando necessário.
Essa é apenas uma das coisas boas de Missão no Mar Vermelho. O trabalho, que estreou na Netflix nesta quarta (31/07), tem muitos mais qualidades – e, talvez, um grande problema.
O longa-metragem é um exemplo de direção de thriller. Gideon Raff, diretor responsável por “Missão no Mar Vermelho”, sabe exatamente quais cordas puxar para atiçar nossa curiosidade. Além disso, também lida com maestria com os momentos em que ficamos tensos: será que os planos irão dar certo mesmo? Os riscos envolvidos são altos, e nos pegamos na ponta da cadeira toda vez que algo parece sair do controle. Isso só é possível quando um diretor talentoso consegue nos deixar nessa situação, aflitos e receosos com o destino dos personagens.
No entanto, há algo que precisa ser dito e que pode estragar a experiência para alguns: o temido “white savior”. Para quem não é familiarizado com a expressão, lá vai uma explicação. O termo serve para designar uma obra em que a comunidade negra é, de certa forma, salva pelos brancos – e esse detalhe acaba tomando conta da narrativa. Um exemplo é o filme Green Book, vencedor do Oscar de Melhor Filme neste ano. A história foi vendida como a luta de um homem negro para se reafirmar em uma sociedade racista. Entretanto, o que vemos é um homem branco “salvar” o negro em diversas situações, fazendo com que ele vença no final. Isso é “white savior” puro.
“Missão no Mar Vermelho pode ser acusado disso sem problemas. Os personagens que precisam lidar com a situação dos etíopes – como se sabe, eles são de maioria negra – são os israelenses brancos. Dessa forma, o filme parece mostrar que, sem a ajuda do homem branco e “de fora”, eles nunca conseguiriam resolver suas situações. É absolutamente compreensível se alguém vier reclamar dessa questão, bem como ela também não afeta resultado final do filme como um todo. Na verdade, trata-se de um assunto delicado.
Independente disso, Missão no Mar Vermelho é um ótimo filme, que traz belas atuações de Evans, de Ben Kingsley (de Gandhi, 1981) e de Greg Kinnear (Melhor é Impossível, 1997). Também conta com uma direção bem interessante e que traz um roteiro carregado de tensão, prendendo a atenção de quem assiste.
Além disso, traz uma história real que comove pelas suas circunstâncias. É impressionante como, na história humana, existem guerras e conflitos que, a bem da verdade, são movidos apenas pela maldade da própria humanidade. É de fazer pensar. O filme provoca uma reflexão, que é sempre bem vinda. Ainda mais ao nos lembrar que muitas coisas ainda não mudaram, e não há qualquer perspectiva de que isso aconteça.