Ator de 80 anos mudou-se para o retiro no Rio de Janeiro logo no começo da pandemia
Redação Publicado em 13/12/2020, às 12h37
Com mais de 50 anos de carreira artística, Paulo César Pereio vive por opção no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, desde março. O ator de 80 anos é considerado um dos grandes intérpretes nacionais, e explicou em entrevista para o Jornal Extra deste domingo (13/12) que o motivo que o levou a buscar abrigo no local foi o isolamento contra o novo coronavírus.
"Estou aqui desde o começo da pandemia, dessa crise do coronavírus. Achei que vir para cá seria uma maneira de me salvar. Vim para sobreviver. Eu moro em São Paulo, tenho meu apartamento lá. Não teve outro jeito. Mas estou bem de saúde", esclareceu.
Pereio também afirmou que não está com problemas financeiros. "Nunca na minha vida trabalhei por dinheiro. Trabalhei bastante e nunca fiquei nem estou na penúria. O fato de eu estar aqui pode dar a ideia de que o cara está retirado, mas não estou. Ando aqui com uma tranquilidade absoluta, o que eu não poderia fazer na rua. Aqui tenho comida, sou bem cuidado e estou protegido", pontuou.
Ao contrário de vários moradores do Retiro dos Artistas, conhecido abrigo para atores e cantores que estão em situação financeira precária, Paulo César Pereio tem projetos para filmar depois da pandemia.
"Tenho muita coisa para fazer. Tenho um filme do Ruy Guerra, que estava para começar. Combinamos de filmar uma continuação de "Os Fuzis" (filme de 1964, considerado um dos maiores clássicos do país). Agora também não sei, porque soube que ele está adoentado. Mas tenho também um outro roteiro para filmar", comentou, com sua habitual franqueza.
Paulo César Pereio também contou como é sua relação com os outros moradores do Retiro dos Artistas. O ator afirmou que não tem muito contato com as pessoas do local. "Não sou muito sociável, não. Me dou razoavelmente com meus companheiros. Tenho uma relação afável, mas nada além disso", disse.
Casado por três vezes, o ator disse que não pretende mais manter uma relação como essa. "Estou de vara curta, não estou mais com idade. E nunca fui um homem galinha. Hoje, se pintar, pintou, mas não estou dedicado a isso", frisou.
Questionado se sente saudades de seu "tempo de boemia", Pereio se irritou. "Não sou um cara saudosista. Que pergunta é essa? Eu nunca fui boêmio. Claro que teve uma época em que todo mundo enchia a cara o tempo todo. A palavra boemia tem sua poesia, aparece muito nas canções populares, mas cobra um preço alto. Atualmente não bebo, só molho os lábios com um pouco de champanhe", destacou.
No Retiro dos Artistas, Pereio disse ter recebido a visita de alguns de seus filhos. "O mais novo, Gabriel, mora em Itacaré, na Bahia. Thomaz e João vêm me visitar, sim. Outro dia fui na casa da minha filha mais velha, a Lara. Tenho três netos também, e acho que eles gostam de mim. Espalhei meu código genético pelo mundo", comentou.
Por fim, Pereio disse o que acha do Brasil atual -- e foi direto como sempre. "Estou achando uma merd* esse país. Estou ficando antidemocrático. A democracia virou um fenômeno de marketing. A gente não sabe eleger ninguém. Aí você me pergunta: qual seria então a solução? Eu também não sei. Só sei que voto e merd* é hoje a mesma coisa. Sou antidemocrata", explicou.