A morte de Renato Russo, há 25 anos, comoveu o país e tirou de cena o poeta do rock
Luiz Henrique Oliveira Publicado em 11/10/2021, às 20h10
O que eu posso dizer logo na abertura desse vídeo é que eu comecei a conhecer Renato Russo no dia que ele morreu. Foi no dia 11 de outubro de 1996, durante a madrugada, e não demorou para que, logo de manhã, todo mundo ficasse sabendo da notícia através dos jornais e, claro, do Plantão da Globo.
Os canais que costumam publicar vídeos de trechos antigos da programação dos anos 80 e 90, como o VideosVHS ou Fábio Marckezini, ainda não conseguiram encontrar esse Plantão em específico, que já é considerado um dos mais raros. Espero mesmo que alguém um dia encontre. Um deles interrompeu o Angel Mix, programa que a Angélica apresentava na emissora naquela época, alguém conseguiu gravar o programa inteiro -- menos o Plantão.
Mas tô divagando: o que eu queria dizer com isso é que eu lembro perfeitamente do dia que ele morreu por conta da reação dos meus irmãos. Tenho 4: João, André, Letícia e Fernando, sendo que só o Fernando era mais novo que eu. Ele nasceu em 1993, então tinha 3 anos só. Eu tinha 10, e consigo lembrar da comoção que foi na minha casa com a morte do Renato Russo.
Minha mãe, meus irmãos, todos ficaram muito abalados porque meio que não esperavam por aquilo. É bom lembrar que em 1996 a gente estava muito distante de ter internet popular, era uma coisa que engatinhava no Brasil, não é nada parecido com hoje, por mais que seja uma coisa óbvia de lembrar. A informação vinha no jornal impresso, ou na televisão. Ninguém sabia, na minha casa, que o Renato Russo estava à beira da morte.
Acontece que nas semanas anteriores à morte, ele já estava bem mal. Relatos de amigos que deram entrevistas na época e também bem depois da morte do Renato Russo deram conta de que ele estava numa depressão terrível, porque sabia estar próximo de morrer. O Renato Russo era bem sensível, como as entrevistas dele sempre mostraram, e sentir a proximidade da morte o derrubou de vez.
Ele era soropositivo desde 1989, mas escolheu esconder do público. Até seus parentes mais próximos, como sua mãe, não sabiam da doença. No dia da morte dele, ela declarou a jornalistas que ele tinha morrido de anorexia nervosa. Poucas horas depois, o médico particular do Renato confirmou que a morte aconteceu por consequência da AIDS: doença pulmonar obstrutiva crônica, septicemia e infecção urinária.
O estado emocional do Renato era evidente nas últimas gravações da Legião Urbana, que começaram pouco depois dele terminar de trabalhar no disco solo Equilíbrio Distante, aquele da capa amarela, com as músicas em italiano. Se você pegar as letras de A Tempestade ou O Livro dos Dias, quase todas são uma carta de adeus.
Para muita gente, isso ficou claro na música A Via Láctea, que foi a que mais tocou nas rádios naquele tempo. Para mim, muitos anos depois, a que mais deixa evidente o adeus é Esperando por Mim, uma das mais bonitas que a banda já fez. Todo mundo acha A Tempestade um disco depressivo, e é mesmo. Mas, assim como David Bowie fez com o Blackstar muitos anos depois, era um testamento e uma última mensagem.
Muita gente nem sabe, mas enquanto gravava o A Tempestade, o Renato Russo já estava sofrendo demais com as questões relacionadas a sua saúde, principalmente porque ele não conseguia se alimentar direito. Então, ele foi para o estúdio gravar apenas a voz-guia das músicas, e não voltou para dar acabamento.
Voz-guia é a versão da música que o cantor grava para, como tá no nome, guiar os instrumentistas. Depois que todo mundo grava os instrumentos, ele volta para dar a voz definitiva. No caso do Renato, isso não aconteceu. E olha que o disco foi gravado entre janeiro e julho daquele ano, mas esse espaçamento se deu porque ele já não tinha mais ânimo para terminar de gravar o álbum.
Mesmo assim, o material gravado deu para dois discos: o A Tempestade e o Uma Outra Estação, feito com as sobras e mais algumas raridades, tipo a demo de Marcianos Invadem a Terra ou Mariane. Enquanto o primeiro é mais triste, depressivo mesmo e com razão, o segundo é um pouco mais “para cima”, por assim dizer.
Enfim. 25 anos depois da morte do Renato, ainda consigo me lembrar daquela sensação de tristeza que caiu na minha casa quando ele morreu, e que durou um bom tempo ainda. Durante a noite, foram exibidos na Manchete e na Band, se não me engano, shows da Legião Urbana (que inexplicavelmente ainda não foram lançados em DVD, com qualidade, mas podem ser encontrados na internet). Foi vendo esses shows que eu resolvi ir atrás de vez para ouvir as músicas.
Meus irmãos sempre foram muito fãs. O mais velho, João, tinha a discografia da Legião quase toda (menos o Tempestade e o Uma Outra Estação, que fui conhecer mais tarde na vida). Nos dias seguintes à morte, ouvi tudo e viciei. Passei anos da minha vida ouvindo as músicas da Legião quase todo dia. E foi o que me acompanhou na adolescência.
E é estranho que aquela história de que as músicas do Renato tem apelo universal, que você pode ouvir e se reconhecer nelas em alguns momentos da vida, seja real. Aconteceu comigo: sempre que eu precisava, ouvia e encontrava algum conforto. Quando eu era muito criança ainda, aprendi a cantar algumas músicas da Legião com meus irmãos, mas sem entender a mensagem. Quando entendi, foi um choque enorme na cabeça.
Renato Russo teve uma vida bastante agitada, e desde cedo mostrava genialidade. Na adolescência, sem poder andar por causa de um problema nos ossos, ele escrevia -- e esses escritos estão virando livros atualmente, mas não tive a oportunidade de ler ainda. Depois, já curado, quis ser músico. Formou a Aborto Elétrico, onde cantava, escrevia as letras e tocava baixo. Marcou uma geração em Brasília. Depois virou Trovador Solitário, escreveu umas músicas com histórias como Bob Dylan fazia -- daí que veio Eduardo e Mônica, Faroeste, etc.
Mas foi com a Legião que ele achou o meio ideal para expressar sua genialidade. Junto com Dado Villa Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha, Renato deixou de influenciar um grupo de amigos em Brasília para virar ídolo de boa parte do Brasil. Sua morte aos 36 anos privou a gente de continuar ouvindo sua música e conhecer suas ideias. Mas a obra ficou, e através dela ele continua influenciando um monte de gente como eu.
COLUNISTAS
Danni Cardillo
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