Mariana Lima comenta sobre sua personagem em "Um Lugar ao Sol", que termina amanhã
Redação Publicado em 24/03/2022, às 08h49 - Atualizado às 09h00
Mariana Lima interpretou a empresária Ilana na novela "Um Lugar ao Sol", que terá seu último capítulo exibido nesta sexta-feira (25/04). Para a atriz, a personagem teve diversas camadas que ela teve a oportunidade de representar.
“Para a Ilana, a maior realização da vida tinha a ver com o trabalho e não a essa convenção de casamento com filhos. Por boa parte da novela, ela lutou contra essa imposição de engravidar. Ao longo da novela, veio a gravidez, a descoberta desse amor de mãe, novas dúvidas sobre o casamento…", disse ela em entrevista para a "Quem" nesta quinta-feira (24/03).
Foi interessante dar vida a uma mulher que ama mais o trabalho do que a família. É bonito a gente retratar uma mulher que ama o seu trabalho. As mulheres não têm que ser apenas laureadas por ser boa mãe, boa esposa. No caso da Ilana, ela é reverenciada por ser uma excelente profissional. Além de ex-modelo, ela criou uma produtora e agencia talentos no mercado. Ela tem muita responsabilidade e acho que todas nós podemos ter mais responsabilidade nos nossos espaços de produção. A Lícia é uma autora mulher e isso significa muito para nós.
Mariana também celebrou a oportunidade de falar sobre o "mansplaining" -- termo usado quando um homem explica situações para a mulher como se ela não fosse capaz de entender.
"Esta foi minha segunda novela com a Lícia Manzo. Percebo que nas novelas dela, as mulheres – além de excelentes papéis como os homens – têm a articulação da fala. Elas falam muito. A gente pode viver a situação inversa a mansplaining – o womansplaining. Socialmente, muitas mulheres acabam sendo interrompidas. Interromper mulher é uma forma de opressão. A Ilana foi uma personagem que não admitia ouvir um ‘você tem que falar assim’ ou ‘você está enganada’ - talvez por ela ser a provedora por causa de um ritmo de trabalho muito radical”, detalhou.
Um dos pontos principais da personagem foi a questão dos conflitos com a sexualidade: em um determinado momento da trama, ela passou a se interessar por Gabriela, interpretada por Natália Lage, apesar dos anos de casamento com Breno (Marco Ricca).
“Minha personagem passou por um processo dolorosíssimo de descongelar óvulos, tomar hormônios e as consequências da gravidez nesse casamento. A Ilana era uma heterossexual convicta – acredito que até mais do que eu na minha própria vida – e nunca havia se imaginado com outra mulher. De repente, ela encontra essa possibilidade de relacionamento com uma mulher e passa por uma crise de autoaceitação, agravada pelo fato disso ainda ser um tabu de aceitação na sociedade”, refletiu.
A atriz comparou a situação das personagens com as de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em "Babilônia", de 2015: as duas atrizes veteranas interpretavam um casal, mas a trama não foi bem vista pelo público da época.
A gente acha que a sociedade está mais pronta agora que da última vez, na cena da Dona Fernanda com a Dona Nathalia. Não sei dizer. Me parece que não. Se a sociedade elegeu o Bolsonaro, ela me parece pouco tolerante. Ao mesmo tempo, a Lícia escreveu uma personagem que vive o drama da sociedade que não consegue se assumir gay, não consegue assumir o filho gay, não consegue assumir sua inclinação bissexual.
Sobre os bastidores, Mariana garantiu que as gravações ocorreram de forma tranquila. “O Maurício Farias, de certa forma, é uma diretora mulher porque ele tem uma capacidade de escuta, uma sensibilidade, um entendimento muito grande em cima das personagens femininas. Ainda soa estranho uma mulher com poder na família, aquele lance do ‘ela ganha mais’. Quem disse que quem deveria ganhar mais é o homem?”, perguntou.
Na vida, a atriz afirmou que também já precisou se impor -- ela é casada com o ator Enrique Diaz há mais de 20 anos, com quem duas filhas. “Sou casada com um homem muito sensível e ele lida com o patriarcado, assim como eu. Com meu próprio marido, eu já precisei dizer ‘espera aí, me deixa falar’ porque ele estava me interrompendo. E claro que meu marido não é um machista escroto, mas há uma tendência social do mansplaining e as novelas acabam retratando isso”, finalizou.
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