Luis Miranda revela não ser fácil fazer rir, principalmente após quase dois anos de distanciamento
Redação Publicado em 01/02/2022, às 09h07
Luis Miranda, que reestreou o espetáculo Irma Vap, ao lado de Mateus Solano, fez uma reflexão sobre a comédia e revelou "não ser fácil fazer rir", em razão da pandemia da Covid-19, ao retornar após quase dois anos de distanciamento social.
Em conversa com a Quem, o humorista, que recebeu três prêmios pela temporada bem sucedida da peça em 2019, em São Paulo e no Rio, conta: "Tem uma tristeza de ver o povo sofrendo, a nação padecendo nesse desgoverno. Mas o que a gente faz não é só rir, é refletir, iluminar."
Luis prossegue: "O espetáculo tem muita crítica, colocamos uma personagem como sendo negacionista, preconceituosa, de uma classe brasileira que desqualifica indivíduos. Rir com uma pitada de reflexão, se não for assim não me interessa. Não tenho vontade de sair de casa só para entreter. Não vou pisar em um palco à toa. Muita gente quer fazer sucesso e eu quero fazer história. Minha comédia é feita nesse lugar", disse.
Também de volta à série Encantados na TV, Miranda ainda falou sobre negros seguirem lutando para conquistar um lugar de protagonismo. O elenco da produção é majoritariamente negro: "Hollywood deu um ultimato e não permite mais a não inserção de artistas de outras cores, transexuais, etc. Agora precisa ter. Os diretores brancos não enxergam os negros fazendo as dondocas, os advogados, dizem que não tem verossimilhança."
"Acreditam que preto só enriquece se for artista ou bandido, isso é o preconceito velado que permite o genocídio do preto pobre. Não sou de ficar levantando bandeira, mas acredito que o negro não entendeu o poder que tem na mão, o ‘black money’, e se boicota, se discrimina. Não tolerarei mais esse lugar. Para esse lugar que nos colocaram eu não volto mais. Não vou servir cafezinho para eles, nós não estaremos mais tolerando porque nunca se oportunizou o negro a brilhar. Minha mãe me ensinou a não abaixar a cabeça, que não tem problema nenhum com a minha cor e com a minha sexualidade. Na Grande Família eu fazia um Pai de Santo."
O artista ainda explica: "Era importante dizer que as religiões de matriz africana existem, e fui aprimorando meu discurso. No Mister Brau a gente brigava pelas coisas e em Encantados já falei que não vou fazer o negro burro. É uma construção de caráter, ética, de postura, de resistência. Milhares de atores negros vão surgir e eu tenho que passar um legado". Luis também relembrou as tragédias que envolveram homens negros. "Esse discurso se constrói na época em que vivemos, com George Floyd, com o João Alberto, assassinado no Carrefour. As redes sociais empoderam esse discurso porque uniu pessoas em lugares diferentes e com as mesmas ideias. Criou-se uma rede de proteção e um espaço para denúncia."
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