Karen quer usar sua imagem para poder ressignificar trauma
Redação Publicado em 27/01/2021, às 07h44
A atriz Karen Junqueira, 37, irá criar um projeto para evitar que crianças sofram violência sexual após ter revrlado seu trauma à família depois de adulta, em entrevista à colunista Patrícia Kogut.
O anúncio veio depois que, há cinco meses, Karen revelou publicamente ter sido vítima de um estupro aos 12 anos. Ela disse que irá criar uma campanha para conscientizar pais e responsáveis sobre os riscos. "Antes de decidir publicar a carta aberta - no qual revelou à Revista Claudia ter sido abusada sexualmente pelo pai de uma amiga - eu pensava: "O meu silêncio não ajuda em nada". Então, eu quis transformar o que eu vivi em algo positivo. Reparei que, em muitos casos, muitas mulheres abriam a boca depois de uma se posicionar".
"E vira uma corrente de coragem. Muitas vezes, a pessoa que passa por isso sente medo, culpa, vergonha. Mas quem fez é que cometeu o crime. Depois do meu relato, muitas mães me procuraram, amigas que sequer tinham imaginado que isso havia acontecido comigo... Essas pessoas comentaram que vão ficar mais atentas ao comportamento dos filhos. Também tenho conversado com uma psicóloga que é perita judicial e trabalha com casos parecidos. Ela tem me ajudado a montar a campanha. A ideia é conscientizar os pais para falar em casa sobre educação sexual".
"Fazer isso não se trata de ensinar precocemente sobre sexo, mas de promover o diálogo. A gente precisa diminuir esse tabu", disse a atriz. Ela enfatizou, pela própria experiência, que grande parte das vítimas esconde dos responsáveis a dor: "Há muitas crianças que nunca contaram nada aos pais, por vergonha, culpa ou medo de serem ameaçadas. Porque muitas vezes o abusador é um conhecido da família. Eu fiz quase dez anos de terapia e, para mim, foi um processo de libertação falar. Eu tirei um peso das costas. Compreendi que as palavras podem ser poderosas também para que isso não volte a acontecer com outras pessoas".
"Compreendo que cada um tem o seu tempo de superar e entender, mas, quando a criança não tem essa liberdade em casa, depois de adulto vêm os fantasmas. Hoje acredito que temos que massificar essas informações para que cheguem ao ao máximo de pessoas possível". Karen ainda afirmou que seu objetivo é o de encorajar outras mulheres também. " As estatísticas que são divulgadas se baseiam em quem denuncia. Mas imagina quantos casos deixam de ser contabilizados porque as pessoas se calam? É importante falar para as meninas e para as mulheres: "Você não está sozinha". Muitas vezes, os anos de silêncio fazem as provas sumirem".
Ela continuou: "Então, se há tempo e possibilidade de colocar um pedófilo na cadeia, por que não? A gente não vai mais ficar calada. Juntas temos um poder muito grande. Talvez, tempos atrás, a gente não tivesse consciência da potência que somos. Se eu puder fazer parte de mais e mais iniciativas para ajudar, vou ficar muito feliz. O que passou está lá atrás. A gente cura da melhor forma".
Na reprise de 'Haja Coração', Karen interpreta Jéssica, e para ela, sua personagem também gera reflexões e faz com que a novela acabe tendo uma função social. Jessica, na novela, ofende Shirley, Sabrina Petraglia, o tempo todo, por ser deficiente física. "Essa personagem fala de um preconceito contra pessoas com deficiência, algo pouco debatido. Ela se colocava como superior por não ter um defeito físico, não aceitava "perder" o noivo para a funcionária. Estudei livros de Psicologia e acredito que ela era uma sociopata. Eu me lembro que no fim da novela houve até uma enquete para que as pessoas decidissem pelo fim da personagem. E o autor, Daniel Ortiz, decidiu escrever um desfecho que mexesse com o âmago dela. Por isso, Jessica termina desfigurada após um acidente.
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Eduardo Graboski
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