Gilberto Braga, um dos mais icônicos autores de novelas da TV brasileira, morreu nesta terça (26/10)
Redação Publicado em 26/10/2021, às 22h02
O célebre autor Gilberto Braga morreu nesta terça-feira (26/10), após um período de internação no Copa Star, no Rio de Janeiro. Ele teve complicações decorrentes de uma perfuração de esôfago, e não resistiu. Além disso, Gilberto também sofria do Mal de Alzheimer.
Responsável por grandes obras da teledramaturgia brasileira, o escritor carioca é um dos mais conhecidos pelo público.
Tendo em sua ficha sucessos incontestáveis como Vale Tudo, Dancin’ Days, Anos Dourados e Celebridade, Gilberto começou sua carreira como novelista na Rede Globo em 1972, ao escrever episódios da série Caso Especial, e de lá nunca mais saiu. Antes, porém, ele trabalhava como crítico de cinema e de teatro.
A primeira novela escrita foi Corrida do Ouro, em 1974, em parceria com Lauro César Muniz, que saiu no meio da trama para assumir o horário das 20h, quando escreveu Escalada. Com isso, Braga acabou finalizando sozinho a produção, que teve relativo sucesso.
Logo em seguida, ele foi chamado para ajudar a icônica Janete Clair em Bravo!, que foi ao ar entre junho de 1975 e janeiro de 1976. Mais uma vez ele acabou terminando a novela sozinho: Clair precisou deixar o trabalho na reta final, quando a primeira versão de Roque Santeiro foi barrada pela Censura Federal e ela foi chamada para escrever outra trama às pressas.
Desde então, Braga emplacou diversas tramas que fizeram história na televisão. Uma trajetória tão extensa fez com que ele colecionasse sucessos, mas também amargou alguns fracassos. Sua última novela, Babilônia, sofreu com um texto incoerente e rejeição do público, que não “comprou” a história criada pelo autor. Por isso, acabou com uma média de 25 pontos no Ibope – até hoje, a mais baixa da história da faixa das 21h, a mais nobre da emissora.
Uma de suas características como autor é criar vilãs fortes, mulheres vingativas ou invejosas que tomam atitudes extremas para chegar onde desejam. Braga tem uma coleção de personagens com tais personalidades, e na maioria das vezes ele conseguiu até mesmo que elas ofuscassem as mocinhas de seus folhetins.
Abaixo, listamos as cinco principais vilãs da carreira de Gilberto Braga, que deveria voltar em breve para a televisão, com uma novela escrita com Denise Bandeira para o horário das 18h: Feira das Vaidades (título provisório), uma adaptação do romance escrito pelo britânico William Makepeace Thackeray, e cuja estreia estava inicialmente prevista para o segundo semestre de 2020.
Veja:
Norma, interpretada por Glória Pires, foi uma das principais personagens de Insensato Coração, novela que esteve no ar em 2011.
A vilã vingativa passou a trama inteira armando para cima dos mocinhos e estava se dando muito bem. Tudo parecia indicar que ela sairia vitoriosa em seus planos, mas no fim das contas, deixou-se levar pelo ódio e acabou perdendo tudo.
Acabou assassinada – foi sua morte que movimentou os capítulos finais da história, como é de praxe nos roteiros escritos por Gilberto Braga. Em termos de vilania, só perdeu para Leonardo, papel de Gabriel Braga Nunes.
Em sua última novela de época (até o momento), Gilberto Braga criou Idalina, uma das principais personagens de Força de Um Desejo, que foi ao ar no horário das 18h em 1999.
No entanto, quando não escreve vilãs que se movimentam na força do ódio, ele as faz atrapalhadas. Foi o caso do papel interpretado por Nathália Thimberg: por mais que tentasse fazer seus planos darem certo, ela passou mais tempo consertando as trapalhadas do que exatamente se dando bem na trama.
Foi, ao mesmo tempo, divertida e maquiavélica, prendendo a atenção do público com seus planos ao estilo “Cebolinha”.
Considerada uma das melhores novelas já produzidas no Brasil, Vale Tudo trouxe também a primeira vilã da carreira de Glória Pires e, sem dúvida, uma das personagens mais lembradas pelo público.
A detestável Maria de Fátima fez de tudo para atrair o ódio dos espectadores: ignorou Raquel, personagem de Regina Duarte, quando ela vendia lanches na praia; traiu a primeira pessoa que a ajudou quando chegou no Rio de Janeiro, Solange (Lídia Brondi); enganou seu próprio marido e, finalmente, enganou Odete Roitman, papel de Beatriz Segall, uma das personagens mais frias e inteligentes da trama. Não é para qualquer um.
Celebridade foi ao ar em 2003 e rapidamente se tornou um grande sucesso de público e crítica, muito por causa de Laura Prudente da Costa, interpretada de forma genial por Cláudia Abreu, uma vilã totalmente movida pela vingança e pela inveja.
Ela se aproximou da mocinha Maria Clara, interpretada por Malu Mader (uma espécie de musa de Gilberto Braga, presente em várias de suas obras a partir dos anos 90) com segundas intenções, e conseguiu manter o disfarce por boa parte da história. Os espectadores conheciam sua índole, mas Maria Clara não.
Quando finalmente a máscara de Laura caiu, originou uma das cenas mais lembradas da história das novelas: a surra aplicada pela mocinha na vilã dentro de um banheiro. A cena, catártica, foi um dos pontos altos de audiência em uma novela muito bem sucedida.
De todos os acertos de Vale Tudo, o maior deles com certeza é Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall de forma brilhante. A ricaça era extremamente bem sucedida nos negócios, com um inegável talento para fazer dinheiro quase do nada. No entanto, era uma ser humano desprezível: manipuladora, seca e fria.
Para ela, tudo era um grande jogo, até mesmo o controle pela vida dos filhos. Seu assassinato literalmente parou o Brasil, movimentando a mídia e a população como nunca antes na história da televisão. Para se ter uma ideia, em 1989 (época do fim da novela), a Nestlé chegou a oferecer um prêmio gigantesco em dinheiro para quem acertasse quem matou Odete Roitman – e a promoção recebeu cerca de 3 milhões de cartas.
Uma monstruosidade para a época, que só mostra o quanto a personagem – e a novela – entrou no imaginário popular, sobrevivendo até os dias de hoje. Tudo graças a Gilberto Braga, o gênio por trás da criação.