Musa do BBB 1 contou que escrever sobre transtorno ajudou a entender o problema
Redação Publicado em 12/04/2022, às 06h34
Uma das musas do primeiro BBB, Leka Begliomini, de 47 anos, contou que escrever sobre o seu problema de bulimia [no livro Loka, eu?] 一 escancarado para o Brasil todo pelas câmeras do reality 一 a fez ficar em paz para abordar o tema.
Ao lembrar da época, ela explicou que teve que lidar com preconceito por conta do problema logo que deixou o programa:
“Nunca fui uma pessoa com restrições de assuntos, mas não falava da bulimia. Fui buscar dentro de mim, entender porque falar de bulimia me incomodava tanto. Era porque eu não tinha nada a dizer quando saí do BBB, era apenas uma menina, que um dia comeu compulsivamente e provocou o vômito. A bulimia se tornou um assunto muito maior do que eu enxergava na época. Eu não sabia nem o que falar. Estava enfrentando aquilo ainda. Meus pais não sabiam que era forte assim e nem eu entendia tudo o que estava acontecendo. Mas quando saí do BBB, fui bombardeada com perguntas sobre bulimia, ouvi comentários e brincadeiras sobre a minha alimentação... Dez dias após eu deixar o BBB, um ator, que ia contracenar uma cena de beijo comigo, falou: ‘Não vai vomitar, hein?’. A gente acabou nem contracenando no final por conta disso. Tive que lidar com esse tipo de preconceito”, explicou ela, à Quem.
À publicação, Leka explicou que procurava a aprovação das pessoas e que o convite para posar nua para a Playboy rendeu a ela o rótulo de símbolo sexual.
“Eu buscava uma resposta no que as pessoas tinham a dizer. Precisava que as pessoas dissessem que eu era magra e bonita para tentar acreditar nisso. Quando soube do convite da Playboy e ouvi as pessoas falando que eu era um símbolo sexual, não entendia o motivo delas estarem me botando naquele lugar. Eu não me via daquele jeito. Quando saiu a revista, comecei a chorar porque entendi que não ia ter as respostas que eu queria. Achei que eu fosse me ver linda e maravilhosa. Mas na minha cabeça, eu era a gordinha engraçada e não a musa”, explicou.
Ao passar dos anos, no entanto, Leka entendeu que tinha uma dismorfia corporal, que precisava de tratamento, mas a vontade de dividir o problema para tentar ajudar o próximo só veio quando notou que sua filha, Giovanna, estava muito preocupada com a aparência.
“Comecei a notar as aflições que a minha filha e da geração dela têm de serem perfeitas e magras. Ela estava se aprisionando a tantos mitos de padrões pesados. Não quero que ela reproduza um comportamento que me massacrou a vida toda. Entendi então que precisava falar sobre isso. Veio a pandemia e comecei a estudar. Contratei uma pesquisadora para entender todo esse processo cultural da busca pela magreza. Descobri tanta coisa. Foi a melhor terapia, ganhei um olhar de direção. Busquei então um tratamento com psicanalista especializado em dismorfia corporal. Eu me aprofundei no assunto e entendi eu tinha realmente algo para falar. Não tenho pretensão de ser a salvadora da pátria, mas talvez eu possa ajudar outras pessoas a entender o que estão passando e procurarem ajuda. A linha que separa a vaidade e doença é muito tênue. A bulimia pode ser uma consequência, mas a partir do momento que você vive em função de como está seu corpo já é uma doença”, continuou.
“Eu tenho um olhar cômico para as coisas que acontecem comigo. Tenho esse jeito meio parlapatão de contar as histórias. Uma vez, fiz a minha mãe me enfaixar inteira com fitas cirúrgicas até o joelho para me encontrar com um cara gato em uma festa. Tive que ir à festa deitada no banco de trás do carro porque nem conseguia me sentar. Cheguei ao local e desmaiei. Saí da festa carregada pelo bombeiro. É uma cena engraçada se você for pensar, mas que traz uma reflexão importante, a de como a gente se aprisiona e deixa de curtir as coisas boas. O cara já tinha gostado de mim do jeito que eu era e se tivesse ido à festa normalmente, poderia ter curtido uma noite gostosa ao lado dele e não terminado a noite no hospital”, ressaltou.
Ainda em tratamento, Leka explicou que tentar ajudar os adolescentes com suas neuras de imagem acabou ajudando e se tornou uma terapia para si mesma.
“Esse projeto fez o sofrimento da vida inteira ter sentido. Escrever foi a maior terapia da minha vida e ir atrás de entendimento para embasar tudo isso foi essencial. Eu ainda tenho um lugar de prisão, mas hoje aprendi cada vez mais a lidar com isso, a entender os gatilhos. O tempo inteiro estou trabalhando o modo como me vejo, entendendo o que me coloca nesta fragilidade, qual a força que eu tenho para lidar com isso... Todos os dias, eu acordo e falo como uma mantra cinco coisas que gosto em mim. Isso nos ajuda a nos apropriarmos de nossas qualidades. Temos um olhar muito severo para nós mesmos. Sempre falo para a minha filha, ‘se ame no seu lugar, do jeito que você é. Maximize o que você gosta em você mesma e o que não gostar, minimize’. A gente não é obrigada a se gostar, mas pode achar um lugar que brilhe. Se eu pude elucidar pessoas que enfrentam as mesmas angústias já vai ter valido a pena”, completou.
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