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O que você precisa saber sobre apps de namoro

Dicas de segurança e informações sobre aplicativos de namoro para encontrar o “par perfeito” - Foto: Divulgação
Dicas de segurança e informações sobre aplicativos de namoro para encontrar o “par perfeito” - Foto: Divulgação

Redação Publicado em 17/08/2023, às 04h00

Nos anos 80 e 90, quadros como o Namoro na TV, de Sílvio Santos, faziam enorme sucesso, lançando moda para inúmeros programas de TV do tipo. A surpresa, o constrangimento e a esperança de encontrar “o par perfeito” davam (e dão) a tônica deste tipo de programa. Para os internautas de hoje em dia, estes programas são cômicos e muitos ainda se surpreendem com a aparência e idade dos participantes.

Se a televisão transformou a busca pela melhor metade em show, as empresas de tecnologia transformaram em negócio. Os aplicativos de relacionamento ganham cada vez mais espaço e adeptos. Uma busca superficial por “dating apps”, por exemplo, vai retornar páginas e mais páginas sobre todo tipo de aplicativo, para os mais variados públicos.

O mercado global de apps de relacionamento foi avaliado em mais de USD7 milhões em 2022. Este setor tem projeção de crescimento até 2030. No Brasil, aproximadamente 20% da população utiliza ou a utilizou este tipo de aplicativo. Saiba mais sobre os apps de relacionamento e seu papel na sociedade.

Cupido atualizado com sucesso

Uma pesquisa recente, realizada pela plataforma Poder360, entrevistou pessoas em 27 estados, para avaliar a popularidade de aplicativos como o Tinder. Embora 40% dos entrevistados tenham afirmado que nunca utilizaram este tipo de app, uma parcela quase tão grande quanto preferiu não responder. Esta enorme zona cinza sugere que muitas pessoas ainda ficam constrangidas de falar sobre o assunto.

Entretanto, a proporção de pessoas que nunca utilizaram ou preferem não responder mostram também o enorme potencial de expansão destes apps. Mesmo com os brasileiros tendo acesso aos principais apps que circulam pelo mundo, ainda há muito espaço para atrair novo usuários. A pesquisa sugere ainda que os apps de namoro são mais populares entre homens (53%) e pessoas com faixa etária entre 25 e 44 anos (41%).

Jogo do amor

Os aplicativos de namoro são baseados em algoritmos que “unem” usuários diferentes através de critérios como localidade, faixa etária, interesses em comum, etc. Cada desenvolvedor tem seu próprio sistema e método. Além do “algoritimo cupido”, esses apps têm outras coisas em comum.

O gesto de “arrastar” para esquerda ou para direita, para curtir ou dispensar alguém, se cristalizou em quase todas as opções do mercado, por exemplo. A formas de manter o engajamento dos usuário também são similares e se aproximam daquelas utilizadas por games.

O conceito de gamificação identifica elementos de jogos em outros contextos, como pequenos desafios, remoção de anonimato e eventos coletivos com hora marcada. Nestes apps, tudo isso vira ferramenta para conquistar um novo match.

A forma de interação destes apps, baseada em anonimato e identificação, gera um sistema definido por “recompensas a intervalos irregulares”. Este mesmo sistema é acionado quando jogamos jogos de azar, onde o que vicia não é a vontade de ganhar, mas a adrenalina da incerteza.

Conscientização

Para especialistas como Karina Santos, líder de Mídias e Democracia (ITS-Rio), é necessário haver um amplo debate sobre educação midiática. O número crescente de usuários aderindo à novas tecnologias na hora de relacionar reforçam a necessidade de compreender seu funcionamento.

Afinal, estas ferramentas têm impactos na forma como as pessoas se expressam e interagem. É importante saber como estes algoritmos funcionam e como seus filtros podem estar permeados por preconceitos de raça e gênero, por exemplo.

Uma abordagem consumista dos apps de namoro pode impactar profundamente o emocional dos seus usuários. Além disso, usuários mais velhos tendem a confiar demais nestes apps, se sujeitando inconscientemente a riscos que vão do “ghosting” à golpes financeiros e violência física. Não à toa, já existem cursos ensinando mulheres a evitar golpes e utilizar estes apps de forma segura.

Match na terceira idade

Embora ainda sejam minoria, a terceira idade está cada vez mais presente nos apps de namoro. Segundo os dados apresentados pela pesquisa do Poder360, 20% dos usuários têm 60 anos ou mais. Este número fica pouco atrás da faixa etária anterior: 25% dos usuários têm entre 45 e 59 anos.

Para Karina, esta faixa etária é particularmente vulnerável aos perigos da internet. A falta de experiência e conhecimento sobre golpes online deixam estes usuários mais expostos. Por este motivo, o que ela chamda de “educação midiática” é urgente; e para todas as idades. Esta geração também costuma ter mais dificuldade de se adaptar a formas não-monogâmicas de relacionar, embora isso possa ser deixado claro em alguns apps.

Dicas de segurança

Em São Paulo, aproximadamente 50% dos sequestros registradados ocorreram com a ajuda do “Golpe do Tinder”. No entanto, isso não significa que você precise desinstalar seus aplicativos hoje. Existem formas seguras de paquerar online, sem expor sua privacidade ou integridade física. Confira as dicas abaixo.

Informações pessoais

Não compartilhe em seu perfil informações que possam facilitar a sua identificação e localização. Dados como nome completo, data de nascimento, telefone e endereço não são relevantes para um primeiro contato. Ao publicar estes dados, você aumenta sua exposição à golpes e usuários maliciosos.

Confira as redes sociais

Antes de marcar aquele encontro, peça para adicionar seu match em outras redes sociais, como Instagram ou Facebook. Dessa forma, você pode verificar se a pessoa é mesmo quem diz ser e conhecer um pouco mais sobre ela. Nem todo mundo fornece as redes sociais num primeiro momento, até mesmo por questões de segurança. Mesmo assim, desconfie se a pessoa que quer te encontrar for resistente mais a te adicionar nas redes deles ou tiver um perfil obviamente falso.

Chamadas ao vivo

É impossível conhecer uma pessoa apenas por mensagens. Existe uma infinidade de perfis falsos, com fotos de famosos, ou nomes que nada têm a ver com o usuário. Chamadas de áudio e vídeo podem ajudar a conhecer melhor o seu par e ter certeza que a pessoa é quem diz ser. Se houver motivos para duvidar da pessoa, simplesmente não marque nenhum encontro.

Lugares públicos

Nunca marque encontros em lugares privados com pessoas que você não conhece. Ou seja, não vá na casa de ninguém nem convide ninguém para a sua, antes de conhecer bem o outro lado. Prefira lugares públicos e movimentados, como bare, restaurantes e praças.

Fale com amigos

Se você está saindo alguém pela primeira vez, avise seus amigos ou familiares. Diga onde vão se encontrar, horários e contatos. Caso aconteça alguma coisa, alguém saberá onde você está e com quem.

Bom senso

Eis uma dica simples e infalível, mas frequentemente, negligenciada. Imagine a paquera virtual nestes aplicativo como uma conversa de bar, ou como se você estivesse conhecendo alguém em uma festa. Você não está “vendo” a pessoa, mas certas coisas não mudam.

Soaria bastante estranho se você iniciasse a conversa com perguntas sobre onde a pessoa mora, se mora sozinha, ou pedisse dinheiro, certo? As mesmas regras valem aqui. É fundamental estabelecer limites e suspeitar de qualquer tipo de insistência. Se parece suspeito, é porque provavelmente,

Rede de relações

Para pesquisadores da Universidade Stanford, nos EUA, uma parecela crescente dos usuários veêm apps de namoro como redes sociais. Com esta abordaem, estariam sujeitas também à perigos similares, como gatilhos de ansiedade, depressão e baixa autoestima, a depender de como o usuário interage com a plataforma escolhida.

Estes pesquisadores elaboraram um questionário, onde os usuários responderiam perguntas sobre as motivações para usar um app de namoro, nível de satisfação e sobre as relações que vieram depois.

O autor do estudo, Elias Aboujaoude, ficou surpreso ao perceber que aproximadamente 50% dos usuários entrevistados não estavam ali para encontrar um relacionamento ou parceiros casuais. Para ele, estes números indicam que muitos estão nestes apps apenas por diversão, ou para se conectar à novas pessoas.

Acreditando no Amor

A tecnologia digital tem o imenso potencial de aproximar as pessoas e os aplicativos já fazem parte de várias historias. De acordo com a plataforma YouGov, 16% dos casais entre 25 e 34 anos no mundo, foram unidos por algum “cupido virtual”. Os aplicativos de namoro podem ajudar os tímidos a conhecer mais pessoas, em um ambiente mais seguro e menos invasivo.

Com eles, quem é muito ocupado ou tem vida vida social pouco movimentada, podem conhecer pessoas novas. É possível ainda conhecer pessoas que você não conheceria na sua rotina normal.

Este mercado vem passando por transformações importantes. Na busca de desfazer antigos preconceitos e superar as críticas mais comuns, alguns apps estão promovendo eventos coletivos presenciais. Dessa forma, criam um ambiente mais seguro (e temático) para você encontrar quem procura.

Aproximando os distantes

Segundo dados de 2022, existem mais de 8.000 aplicativos de namoro em funcionamento. Estes aplicativos foram utilizados por mais de 365 milhões de usuários ao redor do mundo. O velho ditado americano que diz que “o mar está cheio de peixes” nunca esteve tão certo.

Os aplicativos viveram uma fase de alta durante a pandemia, influenciada consideravelmente pelo isolamento social. Para o Tinder, o ano de 2020 foi o mais movimentado, com aumento de 11% no número de “swipes” (deslizadas) e um aumento acima dos 40% no numero de matches.

Alguns destes aplicativos chegaram a o promover o distanciamento e fazer campanhas sobre os perigos dos encontros casuais, naquela situação. Mesmo assim, eles ajudaram muitos usuários a combater a sensação de isolamento afetivo e solidão. Ferramentas de videochamada passaram a se tornar comuns nestas plataformas, como alternativa aos encontros presenciais.

Mar de amores líquidos

O conceito de “amor líquido” foi desenvolvido por Zigmunt Bauman, pensador polonês contemporâneo. A “liquidez”, para Bauman, representa a inconstância e volatilidade da vida moderna, permeando todas as relações humanas, das econômicas e socias às relações pessoais mais íntimas.

As novas tecnologias criaram novas formas de interagir, possibilitando o surgimento de outras formas de se relacionar. Neste contexto, conceitos como “liberdade”, “compromisso”, “afeto” e “responsabilidade afetiva”, ganham outros significados e aplicações. A oferta quase ilimitada de “matches” pode estar por trás da fugacidade das novas relações, que agora parecem facilmente substituíveis. Afinal, sempre haverá mais um match.

Nas relações pessoais, o “amor líquido” se traduz na menor duração e maior número da relações amorosas. Para Bauman, embora o amor romântico seja idealizado e exaltado nos teatros, cinemas e hits do momento, ele é bem menos vivido na prática.

O pensador ressalta ainda que esta superficialidade é um reflexo da sociedade de consumo, onde tudo é substituível e tem prazo de validade curto. Com isso, a casualidade das “ficadas” dos jovens se extende para relacionamentos mais profundos. Casamentos e uniões estáveis são reduzidas a interações virtuais, ou mesmo encerradas nelas.

A mensagem e o mensageiro

Remover a tecnologia da suas suas relações não garante que elas serão melhores. Os apps de namoro não inventaram a superficiliadade nas relações humanas; apenas a tornaram mais visível. Histórias de pais que “saíram para comprar cigarro e nunca mais voltaram” existem desde muito antes da invenção do termo “ghosting”. Casos de traição envolvendo estes apps poderiam muito bem ter acontecido sem eles.

Culpar a tecnologia, neste caso, é culpar o mensageiro.

Além de segurança e privacidade, é preciso ainda preocupar-se com questões de resposabilidade afetiva, autoestima e saúde mental. A busca desenfreada por novos matches pode ser um indício de ansiedade, baixa autoestima e comportamento compulsivo. Estes são gatilhos para observar tanto nos outros quanto em nós mesmos.

É verdade que algoritmos cada vez mais refinados e IAs cada vez mais capazes, os melhoraram os apps. Com eles, ficou mais fácil encontrar pretendentes que se alinhem com nossas preferências e intereses. Alguns aplicativos permitem que você deixe claro o tipo de relacionamento que procura, ou se quer ter filhos um dia. Com isso, facilitam sua busca e esclarecem logo de cara questões que podem ser espinhosas ao longo da relação.

No fim de tudo, as mesmas dicas que valem nestes apps, valem também na vida real. Seja gentil, respeitoso e franco. Não seja invasivo, não faça perguntas indiscretas nem compartilhe segredos pessoais com quem você mal conhece. É fundamental não esquecer que é impossível encapsular a complexidade de alguém em algumas centenas de caracteres, meia dúzia de fotos e algumas hashtags.

Isso não significa que “ninguém é o que parece” nos apps de namoro. Mas, sem dúvida, ninguém é “apenas” o que parece.