Laerte e seu filho Rafael Coutinho em painel na CCXP 2019 - Foto: Reprodução/CCXP Um dos painéis mais disputados pelo público presente na CCXP 2019, que começou
Redação Publicado em 06/12/2019, às 01h07 - Atualizado às 01h09
Um dos painéis mais disputados pelo público presente na CCXP 2019, que começou em São Paulo nesta quinta (05/12), foi o de Laerte Coutinho e seu filho, Rafael Coutinho.
Os dois cartunistas participaram de um bate-papo no Auditório Prime, que tinha como tema a mistura de política e HQs. Conhecida por suas opiniões fortes a respeito do atual governo, Laerte não decepcionou o público, que pode fazer perguntas aos dois durante todo o painel.
Ela, por exemplo, lembrou quando teve seus primeiros contatos com o desenho. “Menino é um bicho que potencialmente sabe desenhar muito bem, mas na pré-puberdade eu descobri que o isso era interessante pra mim como forma de expressão. Só aos 21 anos fui pensar nisso como profissão, porque eu pensava em cinema, teatro, música”, afirmou.
Pouco tempo depois, a icônica cartunista comparou o Brasil atual com a época da Ditadura Militar, ocorrida entre 1964 até 1985. Para isso, usou como referência o livro (e filme) Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury, e a filmografia de François Truffaut.
“Na época parecia quase natural assimilar quadrinhos a despolitização, informação superficial, comercial, entretenimento tolo. Mas a história da produção de HQs no mundo todo mostrou que muitos trabalhos são altamente eficientes no sentido de provocar reflexões”, comentou, lembrando que há discussões sobre política em filmes de massa, como o recente Coringa.
Perguntada se tem medo da escalada autoritária do atual governo brasileiro, ela foi absolutamente sincera: “Eu tenho medo, sim. Afinal, quem tem c*, tem medo”, disse, arrancando risos da plateia presente.
Rafael Coutinho apontou ter um posicionamento um pouco diferente de Laerte no que diz respeito a importância dos quadrinhos no quesito político.
“Desenvolvo narrativas longas, intimistas, que resvalam em temas políticos. mas tudo que eu faço parte desse entendimento de que quadrinhos e arte são um ato político. Da mesma forma que não falar de política também é um ato político”, afirmou.
Questionado sobre qual seria o futuro da arte no país em tempos difíceis como o atual, Rafael disse que a saída está em escutar o outro, mesmo com posições divergentes. “Precisamos nos enxergar tridimensionalmente, além de causas”, ponderou.
O filho de Laerte ainda teceu comentários sobre os famigerados memes, que tomam a internet diariamente, e os comparou com as charges políticas dos anos 70. “Os memes, uns meses depois, perdem o sentido. Hoje também elevaram um potencial de disseminação de conteúdo violento. Em segundos viraliza”, disse.
A respeito de representatividade nas HQs, Rafael disse que atualmente nossa sociedade vive um momento de mudança, e isso se reflete na produção de histórias do tipo. “É confuso discutir isso no entretenimento porque dependendo do contexto, o Batman vira Jesus e quando a Marvel nos dá o que queremos, sentimos que ela representa o estado”, começou.
“Como público e criadores achamos que as empresas se expressam assim. Mas ao mesmo tempo, isso pode mudar a vida de um jovem da periferia, transforma o pensamento de uma criança, que passa a ter outro paradigma pra lidar. Estamos vendo isso acontecer”, vaticinou.
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