Quem é pop, por Fabiano de Abreu

Gabriel, o Pensador e a arte de ser um dos nomes da música brasileira

Nosso jornalista, Eduardo Duarte, sempre traz várias novidades do mundo da música, seja nacional ou internacional, na nossa coluna de hoje ele foi até Rio de

Fabiano de Abreu Publicado em 08/03/2016, às 02h47 - Atualizado às 02h49

Nosso jornalista, Eduardo Duarte, sempre traz várias novidades do mundo da música, seja nacional ou internacional, na nossa coluna de hoje ele foi até Rio de Janeiro, para conversar com o cantor, Gabriel, o Pensador. Conhecido como um dos maiores nomes da música brasileira. Sem dúvida. Suas letras são marcadas pelo posicionamento contra injustiças que a sociedade – normalmente – aceita calada. Encontrar artistas corajosos que ainda se posicionam politicamente sobre os problemas reais do brasileiro é algo raríssimo. Gabriel, aos 42 anos, continua firme e forte nessa luta (e vai ser difícil segurá-lo).

Em entrevista exclusiva, o cantor falou sobre censura, letras polêmicas, projetos no Futebol, novos trabalhos e sobre a sua festa “Ajoelhou tem que rezar”, que chega ao Rio de Janeiro, dia 26/02, no Bella Vista. Tudo isso e muito mais você só vê aqui no Live Entretenimento:

Duda Duarte: Gabriel, durante toda sua carreira você escreveu sobre muita coisa que estava errada na Brasil. Você sente que de alguma forma a música brasileira – não só o Rap – parou de “tomar uma posição” contra o que está errado?

Gabriel: Durante a Ditadura Militar, por incrível que pareça, os artistas se posicionavam mais para enfrentar a censura. Quando eu era criança, nos anos 80, com o fim da censura oficial, vimos Ultraje a Rigor, Titãs e outras bandas usando essa liberdade, colocando palavrões nas letras pela primeira vez. Aquilo de certa forma me inspirou. Além de outros artistas internacionais. Eu acho que não só no Brasil, mas no Mundo, essa postura dos compositores/artistas mudou mesmo. Até dentro do Hip Hop americano, a gente via muito mais letras de protesto, de crítica social, ou de crônicas com críticas embutidas, conscientização sobre violência. Mesmo o Rap “Gangsta” – que mostrava a realidade do crime – era uma forma de denúncia. Mas isso ficou para trás, virou tema recorrente e os artistas estão buscando novos temas. No Brasil, nós estamos vendo a Música com menos conteúdo nesse sentido – em todos os estilos.

Duda Duarte: Você lançou o álbum “Sem Crise” de forma independente. Oportunidades em gravadoras não devem ter faltado. Por quê essa escolha?

Gabriel: Eu tive um contrato bem longo com apenas uma gravadora: a Sony BMG. Ela atravessou comigo a crise do Mercado, a mudança dos valores, a queda das vendas de discos. A gente teve que se adaptar juntos, cada um cedendo um pouco nas cláusulas que o contrato previa. Foi um pouco desgastante isso. Por isso, preferi seguir sozinho nessa época do “Sem Crise”, uma volta de um tempão sem gravar. E hoje, já existem maneiras de somar o apoio de uma gravadora de uma forma menos rígida. No próximo disco, posso até voltar a fazer parceria com alguma gravadora grande. Não tenho nada contra, mas na época achei mais válido fazer a experiência de um disco independente.

Duda Duarte: A música “Chega”, lançada em 2015, tem um tom de desabafo. O que você quis passar com esse som?

Gabriel:
A música “Chega” é irmã da “Até Quando”, da “Pega Ladrão” e de outras músicas que falam do cenário político, do descaso e desrespeito que a gente sofre. E também da mudança de postura. Desde o meu primeiro disco com a música “Abalando”, uma música que fala da censura, eu venho reclamando da nossa apatia. E a “Chega” também tem esse mesmo espírito e fala sobre problemas crônicos que estão cada vez mais evidentes. Não são fruto de um governo só, nem de uma esfera de poder apenas. É mais uma música num momento que as pessoas querem gritar isso. O brasileiro está indo mais para rua, independente das causas. Em certas situações foram questões municipais, contra a Copa, contra a corrupção; cada um com a suas reivindicações. O que importa é a apatia terminar. O brasileiro se informar mais, ter noção de seus direitos e exigir mais. Esse é o espírito da música.

Duda Duarte: Sobre um novo CD. Já tem alguma ideia de quando será o lançamento?

Gabriel: Muita gente me pergunta sobre o próximo disco. Eu tenho feito músicas novas e já estou preparando coisas novas em formas de singles – antes de pensar num disco novo. Estou bem concentrado na festa “Ajoelhou tem que rezar”. Já fizemos uma edição em Maresias, e faremos outra dia 26/02, no Rio de Janeiro. Ela consiste num show meu, com vários convidados e festa a noite inteira, com DJs após o show. Estou com uma música nova com o Ponto de Equilíbrio, o nome é “Nossa música”. Gravei também a música “Cacimba de Mágoa” com o Fala Mansa. O clipe vai vir em breve. Os direitos autorais dessa música vão para as ONGs de regência da Foz do Rio Doce.

Duda Duarte: Você já foi ameaçado pelo conteúdo das suas letras?

Gabriel: Não, ameaçado nunca fui. Mas fui censurado logo no início da carreira (que não era uma carreira, ainda um sonho). Eu lancei a primeira música numa rádio, numa fita independente “Tô feliz (Matei o Presidente)”, e ela foi censurada por baixo dos panos. As rádios que tocassem a música sofreriam uma “devassa fiscal”. E eu fui denunciar essa censura nos jornais, revistas e TV. Aquilo me deu mais vontade de protestar. Lancei a música no primeiro disco e ainda gravei “Abalando”, que denunciava isso tudo. Algumas músicas geraram polêmicas e críticas. Mas isso é normal, tudo faz parte do processo de levantar certos temas para as pessoas discutirem mesmo.

Duda Duarte: Os projetos “Dream Football” e “Pensador Futebol” mostram – obviamente – o seu interesse pelo Futebol. Os recentes escândalos de corrupção são uma barreira para o esporte que o brasileiro mais ama. O que te faz lutar por essa causa?

Gabriel: Eu comecei a trabalhar com os meninos da Rocinha, sem futebol, com música, break e grafite. Uma ONG que a gente criou para atender um grupo que eu conhecia que era da Rocinha, mas morava na rua. Isso durou 7 anos. Um dos meninos queria ser jogador e, infelizmente, o perdemos para o crime, foi preso e matou uma pessoa. Foi uma história triste. As coisas aconteceram quando mandei 3 meninos para um teste. Fui me aproximando do mundo do Futebol. E esse pessoal me pediu para organizar uma peneira, conheci pais de futuros jogadores e tudo foi se desenrolando. Comecei no Rio, mas aproveitei minhas viagens para conhecer projetos de outros estados. Resumindo, o projeto no Rio durou 3 anos e fiz uma ponte com um projeto pequeno – mas de grande qualidade – do Rio Grande do Sul com alguns meninos que vieram pro Rio. Comecei a apoiar financeiramente eles, e hoje estamos com o Clube Novo Horizonte, da cidade de Esteio – RS. Nosso projeto de futebol de base já dura mais de 5 anos. Tivemos histórias bonitas de garotos em situações difíceis que o futebol os tirou. Isso é uma grande vitória pra gente. Mas nós temos o espírito competitivo, de alto rendimento, já conseguimos bons resultados e estamos evoluindo. O Rudimar, fundador do clube, tem uma história muito bonita de superação e é um paizão para a molecada de lá.