O documentário Secreto e Proibido conta a história de um casal lésbico e seu amor que atravessou gerações "dentro do armário"
Redação Publicado em 02/05/2020, às 16h50
Boa parte da audiência da Netflix deu atenção para um dos grandes lançamentos deste mês: Hollywood, série criada e produzida por Ryan Murphy -- considerado um dos grandes nomes do showbiz americano nos últimos anos.
Com vários serviços prestados para a cultura pop nos dez anos anteriores (ele foi responsável por Nip/Tuck, Glee, American Horror Story, American Crime Story, Pose, entre outras séries), Murphy se tornou inegavelmente um homem poderoso, que pode fazer o que lhe der na telha.
Com um contrato milionário com a Netflix, ele pode produzir uma trama de época que escancara preconceitos e tenta, de certa forma, reescrever a História. Entretanto, não foi apenas essa produção que ele entregou à plataforma de streaming nesta semana.
Na verdade, Murphy entregou uma joia rara chamada Secreto e Proibido.
O documentário, que Murphy produziu ao lado de Jason Blum (da conceituada produtora Blumhouse), conta a história do casal Pat Henschel e Terry Donahue. As duas mulheres mantém uma relação há vários anos, mas precisaram esconder o amor que sentiam uma pela outra por conta do preconceito da sociedade para com o público LGBT.
O casal se conheceu ainda na década de 40, quando Terry jogava no All-American Girls Professional Baseball League - a liga de basebol profissional para mulheres. Se hoje em dia uma esportista assumir sua sexualidade causa problemas para sua vida profissional e pessoal, naquela época era muito pior
Entretanto, elas deram um jeito de ficarem juntas, e assim se mantinham até o momento em que a câmera do documentário as encontrou, já com mais de 80 anos. É uma história de superação, onde o amor sincero e verdadeiro vence a batalha contra um mundo que, cada vez mais, vira as costas a essa população.
Além disso, Secreto e Proibido também é uma história de sacrifícios. Cada uma delas precisou abrir mão de muita coisa para abraçar esse amor, e são as dores e consequências desses atos que acompanhamos no filme, que dura menos que uma hora e meia, mas cuja mensagem ecoa por muito tempo depois de finalizá-lo.
O longa é dirigido por Chris Bolan, que é parente de uma delas. Ele escolheu dar uma abordagem mais lúdica ao tema do casal, usando alguns momentos para contextualizar a nós, espectadores, a difícil realidade de um LGBT com o passar das décadas nos Estados Unidos (e, por consequência, no mundo todo).
Boa parte do tempo de tela, portanto, é ocupado pela história das duas senhorinhas, que contam como precisaram esconder suas sexualidades por medo de serem expulsas de suas famílias. Pat e Terry não falam muito sobre o preconceito que sofreram, mais pelo trauma de ter que lidar com isso uma vida toda do que por qualquer outra coisa.
É o medo, adquirido por anos de "armário", que faz com que toda a narrativa sobre a pressão social contra os LGBTs, além de uma discussão sobre a importância de lutar por sua verdadeira identidade, sejam feitas praticamente no subtexto.
Secreto e Proibido é um documentário absolutamente sincero, direto e verdadeiro sobre um amor que literalmente ultrapassou as barreiras impostas por um mundo inteiro para conseguir manter a relação. É o amor, puro e simples.
É uma obra imperdível -- nessa, Ryan Murphy acertou em cheio.