E essa aposta da autora dá muito certo. O que a gente vê nos episódios dessa temporada que há um aprofundamento dessa aura de mistério que envolve a cidade e os personagens. Por mais que as conexões entre eles fiquem ainda mais complicadas, quem assiste não se sente perdido porque tudo é colocado na tela de uma forma que não dá nó na mente de ninguém.
É um mérito tanto da autora quanto da equipe de direção, que poderia cair nas armadilhas que muitos filmes norte-americanos possuem, por exemplo, de querer encher a história de personagens, mas não desenvolvê-los de forma que o público possa entender o que acontece com eles, para onde eles vão e o que querem.
Elenco dá um show
Nessa segunda parte de Desalma a gente tem também um trabalho grandioso do elenco. Cássia Kis mais uma vez mostra porque nasceu para interpretar esse papel, dando a Haia o peso certo: suas atitudes no presente são reflexos das situações que aconteceram com ela no passado, e que mostra não ter medo de usar seus conhecimentos para ter o que quer, atingir os seus objetivos. É um trabalho de mestre que ela apresenta, e é ótimo poder observar a atriz em projetos como esse.
Claudia Abreu também tem uma evolução nessa segunda temporada, onde a sua personagem aparece mais forte do que na primeira, em que ela era mais reativa às coisas que estavam acontecendo em sua família e na cidade na totalidade. Seu personagem tem mais importância na história, ainda mais com as questões ligadas a seu irmão, que nós não podemos contar para não dar spoiler. Assim como ela, a Maria Ribeiro também cresce, e da mesma forma que a personagem da Claudia, surge mais forte ao abraçar o sobrenatural que antes ela parecia negar o tempo todo.
As novas adições ao elenco também foram muito bem escolhidas: Malu Galli aparece na história para explicar muita coisa que aconteceu com ela e com a Haia, mas não serve apenas como uma coadjuvante, tendo destaque principalmente nos momentos finais da temporada. Fabio Assunção, por sua vez, é um achado: é o ator certo para o papel certo. O Traian que ele interpreta aqui tem sua origem descendente da mitologia do Vârcolac, que é uma crença romena específica daquele país, segundo a autora afirmou em entrevista. E o ator consegue ser forte e, ao mesmo tempo, sutil na criação e desenvolvimento do personagem e na sua ligação com os outros habitantes da cidade, em especial Haia. O que ele faz aqui é impressionante, e mostra como ele é um ator formidável.
A segunda temporada de Desalma consegue, em muitos aspectos, superar a primeira por conta do emaranhado de situações que vão tornando a história mais complicada, mas ao mesmo tempo mais interessante para quem assiste. Se você gosta de enredos sobrenaturais, mas que exigem atenção e concentração, aqui você vai encontrar o que procura. Com ótimos atores, uma direção que não fica devendo nada para produções de fora e um roteiro bem escrito, essa temporada é simplesmente imperdível.