Batman, Lanterna Verde, entre outros. Com certeza já ouviu alguns desses nomes. Todos esses heróis foram ilustrados por um brasileiro: Daniel HDR.
Redação Publicado em 04/09/2019, às 12h02 - Atualizado às 19h11
Batman, Lanterna Verde, Mulher Maravilha, os Vingadores: se você não esteve preso em uma caverna pelos últimos anos, com certeza já ouviu alguns desses nomes.
Possivelmente, todos. O que talvez você não sabia é que no mundo dos quadrinhos, todos esses heróis e vários outros foram ilustrados por um brasileiro: Daniel HDR. O gaúcho de 45 anos já presta serviços para Marvel e DC Comics há mais de duas décadas.
Daniel foi um dos expositores no Geek City 2019, evento sediado em Curitiba entre os dias 30 de agosto e 01 de setembro. Entre sketchs feitos na hora, autógrafos e fotos, o quadrinista conversou com o CENAPOP e contou um pouco da sua trajetória.
Confira!
Chris Aguilera: Você começou a desenhar quando ainda era bem novo, né? Como é que foi esse começo?
Daniel HDR: Esse meu início com 14, 15 anos era fazendo fanzine, mas eu já queria chegar em algumas editoras, sabe? Então eu mandava muito trabalho para arte do leitor, ficava sabendo da linha de produção de uma determinada editora e fazia amostras focando naquilo. Mas sempre foi assim: eu percebo que o que me levou para os quadrinhos foi essa apresentação dessa mídia feita pelo meu pai. Assistíamos seriados e séries japonesas juntos, víamos desenhos animados, eles comprava gibis.
E quando ele veio a falecer, eu era muito novo, tinha de 6 para 7 anos, mas eu continuei com esse meu gosto por quadrinhos porque era algo que eu fazia rotineiramente com ele, eu aprendi a ler com quadrinhos. Mas o início foi isso, entende? Eu acho que, se o meu pai estivesse vivo ainda, talvez na época dos meus 16 anos, querendo contrariar ele, eu abriria mão de tudo isso. Porque muitos adolescentes não querem seguir os passos dos pais. Mas muito do meu histórico já é feito de descobertas próprias, sabe? São 31 anos de carreira e ele gira muito em torno de escolhas que eu fiz.
CA: Seu pai é a sua maior inspiração?
HDR: Hoje, um adulto já, eu percebo que usei muito dos quadrinhos para manter viva as memórias do meu pai, porque ele gostava muito de desenhar e colecionar quadrinhos. Ele sempre quis trabalhar profissionalmente com quadrinhos, mas não teve a oportunidade, então ele enveredou para o desenho industrial e prestava serviços na companhia estadual de energia elétrica, como desenhista projetista de redes elétricas.
CA: Como foi a sua entrada no mercado internacional? Você quem foi atrás ou eles vieram te procurar?
HDR: Esse trabalho com quadrinhos nesse período (década de 90), fez com que muitos desenhistas tivessem que mudar o seu traço para atender ao mercado americano, que tinha esse exagero dos super-heróis. E o que aconteceu foi que, nesse período, tinha uma agência em São Paulo e eu mandei as minhas amostras para eles, precisei adequar muitas coisas no meu traço, mas isso foi uma vontade minha. Porque nesse período dos anos 90 eu já estava com os meus quadrinhos autorais, publicando em fanzines e revistas nacionais de terror.
Mas, por sempre gostar de quadrinhos de super-heróis e ter essa brecha, eu não pensei duas vezes e fui atrás. Mas fui eu mesmo, sabe? Não teve essa questão de “eu fui descoberto”, não existe muito isso, não existe esse papo do desenhista ganhar lapiseira de cristal e ser um desenhista feliz para o resto da vida, não tem isso. Você tem que ir atrás das oportunidades e sair da sua zona de conforto, tem que procurar fazer coisas novas.
CA: O que você enxerga de diferente no mercado de quadrinhos hoje em dia? O que mudou dos anos 80 e 90 para cá?
HDR: Eu acho que a diferença principal que nós temos hoje em dia, gira em torno da dinâmica que o autor tem junto ao mercado, agora o autor é um empreendedor.
Ele está indo em eventos, ele está mostrando seu material, trabalhando com a venda desse material em eventos, feiras e sessões de autógrafos em lojas especializadas. Essa participação do autor diverge bastante com o que a gente tinha quando eu era moleque, sabe? O que a gente tem hoje em dia é uma produção mais diversificada, mas alguns autores ainda não curtem participar de eventos. Essa colaboração entre os autores de diferentes gêneros vai ajudar essa cena a dar o próximo passo, autores de diferente segmentos se apoiando.
CA: Como é o seu processo de criação?
HDR: Eu já fui muito notívago, de trocar o dia pela noite. Na época que eu era DJ, também fazia muito isso e levei essa rotina para o quadrinho, mas com o tempo eu percebi que quero fazer mais coisas no meu dia. Então estou tendo a consciência que trabalhar com quadrinho é um trabalho como qualquer outro.
Se você encaixa essa rotina no horário comercial, você tem tempo de ter vida social, pode ir no cinema, pode sair com os amigos, sair com a família. Mas eu entendo as pessoas que preferem trabalhar de madrugada, às vezes por causa de distrações que tu tem no dia a dia, vai muito do local de trabalho. Eu, por exemplo, não trabalho mais em casa, trabalho no meu estúdio (que é minha escola de desenho, em Porto Alegre) porque em casa tem N fatores que podem me fazer procrastinar, né?
Vídeo game é uma delas, às vezes você quer ver uma série nova da Netflix, aí se você coloca seu período de produção naquele horário comercial, você consegue ficar mais regrado, mas eu não tenho nenhum costume muito exótico. Uma coisa que eu gosto muito é quando eu estou lendo um roteiro, eu evito ouvir música com letra, ouvir podcast, essas coisas, então eu ouço bastante música instrumental para poder trabalhar essa decoupagem do roteiro em imagem. Já no processo do desenho, arte final, é muito mais de boa, aí eu coloco podcast pra ouvir, música cantada normal. Eu tenho colegas que assistem série, vídeos no youtube, programas de auditório, mas eu não consigo.
CA: Quais personagens você ainda não desenhou, mas gostaria muito de poder desenhar?
HDR: Personagens que eu ainda não trabalhei profissionalmente foram Surfista Prateado e o Demolidor. Do Homem-Aranha eu já fiz algumas artes de colecionáveis, mas quadrinhos ainda não. Meu trabalho para a Marvel foi muito no Universo Mutante e nos Vingadores, aí quando chegava no Homem-Aranha era só arte de licenciamento. Mas o Surfista Prateado e o Demolidor eu nunca cheguei a ilustrar.
Eu gostaria de trabalhar com esses três. E na DC Comics eu gostaria de voltar para a Legião de Super-Heróis, sabe? Porque eu curto desde moleque e sinto saudades. Eu nunca cheguei a desenhar o gibi do Batman, entendeu? Mas eu passo, consigo dormir sem, sabe? A minha cota de quadrinho noire já foi cumprida com o Sombra. Se fosse para fazer um quadrinho do Batman, eu faria, mas acho que iria me divertir mais fazendo isso com o Demolidor.
CA: E o que você gosta de fazer no seu tempo livre? Quando você está fora do mundo dos quadrinhos.
HDR: Eu gosto muito de ver documentário, gosto de ler livros biográficos e eu não consigo fugir dos quadrinhos, eu adoro isso! Adoro ler livros da era de ouro dos quadrinhos, recentemente terminei de ler o livro do Roberto Guedes e é muito bom. Eu gosto muito de música eletrônica, estou sempre estudando sobre, participando de workshops de produção de áudio, até porque eu uso muito no meu podcast. Quando você trabalha com o que você gosta é muito difícil você fazer coisas fora desse âmbito, sabe? Porque você acaba se divertindo, as coisas que eu acabo consumindo fora dos quadrinhos também têm um perfil bem nerd, tipo ficção científica.
Em outubro de 2019 o ilustrador brasileiro marcará presença na Comic Con New York. Você pode conferir isso e muito mais no Instagram dele: @danielhdr.
*Colaboraram Chris Aguilera e Luiz Henrique Oliveira, direto de Curitiba
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