Ator comentou sobre o drama do personagem na novela escrita por Manoel Carlos e em reprise nas tardes da Globo
Redação Publicado em 01/11/2020, às 08h24
Atualmente com 62 anos, o ator Zé Victor Castiel relembrou seu personagem em Laços de Família, que está sendo exibida no Vale a Pena Ver de Novo, da TV Globo, com enorme sucesso.
A novela foi gravada em 2000, e muita coisa aconteceu de lá para cá que alterou até mesmo a forma como a sociedade consome a produção de TV. Antes da explosão da internet, muitos assuntos considerados tabus eram discutidos nas histórias trazidas ao público pelas mãos de novelistas como Manoel Carlos, responsável pela trama.
Viriato, papel de Zé Victor na novela, foi um dos pioneiros a falar a sério sobre a impotência sexual na televisão. O ator deu uma entrevista à Quem, publicada neste domingo (01/11), onde falou sobre a repercussão de seu personagem.
"Laços de Família é atemporal por isso. Abordou diversos tabus, alguns que na época eram discutidos de forma mais velada. Impotência sexual, assédio sexual, câncer, prostituição, romance interracial. Hoje são assuntos que continuam em voga e são completamente necessários de ser discutidos para o andar da humanidade", pontuou o artista.
Ele prosseguiu: "O que torna Laços de Família um clássico não é o Leblon, nem a bossa nova, nem a livraria e, sim, a contemporaneidade. E a maioria dos tabus abordados ainda não foi quebrado. Fui o broxa do Brasil durante um ano, mas a cena que mais me marcou, por incrível que pareça, não tinha a ver com a questão da sexualidade", revelou.
Questionado sobre qual seria a cena, Zé Victor não pensou duas vezes ao responder. "O Viriato era um cara meio desocupado, a mulher que sustentava a casa. Era ele quem ia buscar a filha (vivida por Carla Diaz] na escola e, em determinado dia, ele almoça, deita no sofá e esquece de buscar a menina, que acaba sendo atropelada", contou.
"Aquela sensação de culpa. Os atores têm mania de dizer 'vou defender esse personagem com unhas e dentes'. Laços de Família fez com que eu me entregasse aos erros, aos defeitos do personagem, quis me despir totalmente do superego", disse, orgulhoso do trabalho realizado na trama.
Zé Victor afirmou que a novela, sua primeira na emissora (ele já tinha trabalhado antes em outras produções na Globo, como a minissérie Incidente em Antares), causou impacto na sua vida.
"Saí da novela muito mais tranquilo. Descobri que a gente não precisa ficar bonito, que a gente não precisa ser querido, a gente tem que ser uma pessoa humana. A gente não tem que defender o personagem. A gente tem que reconhecer os defeitos dele para que ele fiquei real. Laços de Família me ajudou a me despir de superego. Viriato é um personagem controverso", explicou.
O ator também foi perguntado sobre como Viriato e sua esposa na trama, Yvete (interpretada por Soraya Lavenle), estariam atualmente, no contexto da pandemia. Zé Victor se divertiu na resposta.
"Na quarentena, Viriato ia ficar insuportável, seria caso para assassinato. Viriato era insuportável, in-su-por-tá-vel. Ele era um representante vivo do Freud na Terra. Ele era um cara fora de esquadro", brincou.
Ele relembrou como fez a composição psicológica do personagem. "Em todas as cenas da novela – eu me ative a isso na composição – está sempre oprimido. Se ele deu quatro sorrisos na novela, foi muito. Embora o personagem estivesse envolvido sempre em situações engraçadas ou que provocavam risadas, ele não ria. Parabéns a uma pessoa que convive com um cara desses".
Por fim, exaltou a parceria com Soraya. "Tivemos uma relação fraternal com as nossas famílias. Foi uma atriz que me trouxe muita amizade. Nossas famílias também se aproximaram", destacou.
COLUNISTAS