Em documentário, Simone fala sobre carreira no basquete, sexualidade e bullying - Foto: Reprodução/Site pessoal A cantora baiana Simone (não confundir com a
Redação Publicado em 10/01/2020, às 12h30 - Atualizado às 12h32
A cantora baiana Simone (não confundir com a irmã de Simaria) é uma das lendas da MPB, e completou seus 70 anos no último dia 25 de dezembro. O que pouca gente sabe, no entanto, é que ela quase fez carreira no basquete antes de abraçar a música.
Ela deu um depoimento para o documentário Mulheres À Cesta, de Silvia Spolidoro e Hellen Suque. O filme conta a história do basquete feminino no Brasil tendo como base o Mundial de 71, e traça a trajetória de nomes como Norminha, Maria Helena, Marlene, Delcy, entre outras. Grandes nomes posteriores do basquete nacional, como Magic Paula e Hortência também participam do documentário.
Em seu depoimento, Simone conta que só desistiu do esporte depois de romper os ligamentos do joelho. Foi então que decidiu focar na música.
“Tive uma relação de amor com o basquete desde a primeira vez que peguei uma bola e a acertei numa cesta. Já jogava futebol, gostava de esportes. E jogo até hoje, mas não em quadras. E até hoje existe preconceito”, disse, criticando em seguida os novos uniformes da seleção brasileira: “Não gosto desses últimos uniformes, são aproveitados dos masculinos. Essa falta de respeito vem dos diligentes e das delegações, dos patrocinadores. Para que usar as sobras? Fica muito grande”, comentou.
Simone precisou enfrentar seu pai para conseguir dar continuidade a sua paixão pelo basquete. “Ele tinha receio que eu jogasse. Somos 9 irmãos. Meu pai era machão, queria segurar, resguardar a gente. Depois que viu que era uma luta em vão, aceitou”, disse a cantora.
Em seguida, ela falou sobre a falta de incentivo ao esporte feminino. “Existe falta de apoio ao esporte feminino. O vôlei teve ascensão, mas o basquete não está onde merece. O governo não incentiva. Espero que um dia tomem vergonha na cara e abram as portas para as mulheres. Precisamos peitar. Não pode baixar a cabeça e se dar por vencida”, opinou.
Simone relatou que, nos tempos em que começou a se aventurar no basquete, a sua sexualidade já era discutida, além de confirmar que o bullying já existia.
“Eu tinha 12 anos e um 1,80m e era tratada como Olívia Palito, me chamavam de Belém-Brasília, comprida e mal acabada. Jogava futebol com os meninos. Eu era um menino. Sou mulher e sou homem, tenho tudo isso dentro de mim. Nunca fui submissa, sempre briguei pelo que queria”, explicou.
Ela continuou: “Precisa ter uma agressividade para se defender. As dificuldades eram maiores naquela época”, disse, afirmando que o machismo hoje é muito maior do que naquela época. “Hoje temos uma voz mais ouvida, mas os problemas continuam, matam, estupram, tudo isso tem. O mundo sempre foi muito masculino. Precisamos estar sempre ali nos mostrando. Nós mulheres somos especiais”, declarou.