CURIOSIDADES

Setembro Amarelo: "DM Aberta" pode mais atrapalhar do que ajudar o próximo, diz neurocientista

Campanha da DM Aberta no Setembro Amarelo pode ser prejudicial a depressivos

O neurocientista Fabiano de Abreu falou das implicações da "DM Aberta" - Foto: Reprodução
O neurocientista Fabiano de Abreu falou das implicações da "DM Aberta" - Foto: Reprodução

Redação Publicado em 02/09/2021, às 17h45

Em busca de oferecer um conforto para quem sofre de problemas na saúde mental, algumas pessoas oferecem um ombro amigo por meio da internet chamado “DM Aberta”. Só que a iniciativa pode não trazer os efeitos desejados.

Se por um lado tal iniciativa parece louvável pelo caráter humanitário de auxiliar o próximo, por outro o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu alerta que esta ideia pode não fornecer o efeito esperado, e até mesmo trazer mais problemas para a pessoa que já está com a saúde mental abalada.

A ‘DM aberta’ pode atrapalhar mais do que ajudar. A pessoa que está em estágio de depressão grave pode ver aquela mensagem de forma pejorativa. Ela pode pensar que o dono da mensagem está feliz reforçando que ele não está, entre outros fatores. Há estágios que são delicados e as estratégias cognitivas são minuciosas.

Assim, Fabiano alerta: “Mesmo que a pessoa esteja realmente com intenção de ajudar ao próximo, é preciso entender que naquele momento não há a presença de um profissional preparado para lidar com isso".

Ele prossegue: "Um psiquiatra, psicólogo ou psicanalista, a depender, por exemplo, saberá o histórico daquela pessoa e a real situação do seu quadro clínico, logo saberá lidar da melhor forma com aquela pessoa que está passando pelos problemas. E um conselho mal dado, ou simplesmente não interpretado corretamente, pode ocasionar uma série de problemas", afirma.

A melhor forma de ajudar quem precisa de amparo nestas horas, recomenda Abreu, é convencer a pessoa a buscar um tratamento com um especialista: “Converse com a pessoa, a escute, mas reforce a ela a importância de procurar um profissional preparado para lidar com isso. Não assuma essa responsabilidade, você pode estar com aquela vida em suas mãos e isso é algo muito sério”, completa o neurocientista.

Dicas para pacientes com depressão

Após relatos de suicídios relacionados com o coronavírus e o confinamento a ele associada, Fabiano passou a ser contactado por pacientes. Após ter confirmado que o número de casos de depressão se acentuou com esta crise psicológica da pandemia, o pesquisador logo concentrou-se em pesquisas e análises para avaliar o que ele já previa ocorrer.

"Eu já temia a possibilidade de que pessoas com depressão e/ou ansiedade potencializada, no confinamento, sendo bombardeadas com notícias ruins e a má utilização da ansiedade, poderiam piorar o quadro depressivo ou chegar nele; e ter um aumento no número de suicídios", afirma.

Em momento de reclusão e isolamento social, por conta do cenário mundial, se você é portador de depressão diagnosticada, observe algumas questões "preventivas" bastante pertinentes, segundo o especialista:

  1. Mantenha o seu tratamento psicoterápico via on-line, a grande maioria dos profissionais estão a trabalhar nessa modalidade.

  2. Se faz uso de medicação, siga corretamente a prescrição médica. Não aumente a dosagem, nem faça desmame por conta própria.

  3. Se a sua medicação está a findar, entre em contato com o seu Psiquiatra, todos estão a trabalhar sob novos protocolos.

  4. Mantenha-se informado somente por vias sérias e éticas de notícias. Evite “Fake News”.

  5. Trabalhe a sua respiração através da meditação. A respiração consciente e ritmada, mantém a homeostase do corpo.

  6. Durma bem, o sono fisiológico possibilita uma “psicoprofilaxia”, filtragem e limpeza de metabólitos cerebrais.

  7. Mantenha uma alimentação equilibrada. Alimentos funcionais, menos processados e coloridos. “Descasque mais e desembrulhe menos”.

  8. Beba água, mantenha-se hidratado para o melhor funcionamento de todo o sistema de filtragem e eliminação, mantendo o organismo em bom funcionamento.

  9. Use a criatividade e o espaço possível para uma atividade física que goste.

  10. Evite excesso de álcool, evite drogas. Mantenha-se lúcido.

  11. Mantenha a rotina, isso faz com que você continue orientado no tempo.

  12. Desenvolva um plano, e faça um planejamento para realizar uma “comemoração” quando tudo isso passar.

  13. Traga para sua mente bons pensamentos e boas emoções. O que nós pensamos nós sentimos.

  14. Pense coisas boas!

  15. Sinta-se pertencendo a um grupo, o sentimento de pertença traz-nos importância.

  16. Faça chamadas de vídeo ou mesmo videoconferência para reunir os amigos.

  17. Não falta tempo, por isso organize a casa, os armários, leia os livros que guardou na estante, assista aos filmes e as séries que queria e não tinha “tempo”.

  18. Descubra um talento oculto, e trabalhe-o como uma TO – Terapia Ocupacional: Escrever, desenhar, pintar, esculpir, cozinhar, bordar…

Para casos mais graves em que tenha ocorrido uma tentativa ou pensamentos de suicídio, trabalhe na “redução de danos”, seguindo orientações básicas:

  1. Seja presente de forma integral na vida do sujeito portador do transtorno – depressão.

  2. Aproxime-se de pessoas que estão em sofrimento emocional/psicológico.
  3. Ofereça conversa com escuta de qualidade.

  4. Conduza a conversa até perceber que a pessoa está segura e confiando em si.

  5. Pergunte abertamente se ela já pensou na própria morte.

  6. Com o terreno preparado, pergunte se ela já pensou em tirar a própria vida.

  7. Pergunte que método ela escolheria e por que seria assim?

  8. Deixe-a falar, chorar, contar todo o seu plano.

  9. Após tomar conhecimento da idealização e do planeamento, mostra-se solidário.

  10. Compreenda “sem julgar”, a partir daí ofereça um “pacto ou um contrato de preservação” à vida.

  11. O desafio e a confissão trazem alívio. Deixando a pessoa com o recurso de procurar ajuda naquele confidente ou num grupo de ajuda.

  12. Quando nos esvaziamos desse sentimento de angústia e desesperança, começamos a valorizar a vida.

  13. Ter alguém que guarda o nosso segredo conecta-nos a um outro ser. Esse sentimento de confiança forma um elo e traz motivação para superar o momento.

  14. Ter ciência do plano e do planeamento para a execução, podendo tirar da pessoa a ferramenta que ela utilizaria.

  15. Recolha a medicação, retire o que puder ser feito de corda, lâminas cortantes, e não deixe a pessoa sozinha.

  16. A presença traz a companhia e inibe a tentativa de atentar contra a própria vida.