Em geral, "It: Capítulo 2" é um filme que entretém de forma absolutamente competente, com uma direção segura e equipe técnica irrepreensível.
Redação Publicado em 03/09/2019, às 20h18 - Atualizado às 20h19
Antes de It: Capítulo 2 veio o livro It: A Coisa, escrito por Stephen King. É um camalhaço gigantesco em qualquer edição disponível. Houve uma adaptação para a televisão no começo dos anos 90, porém. Foi ela quem apresentou o palhaço Pennywise para toda uma geração. Dessa forma, ele passou a fazer parte do imaginário popular.
Corta para 2017. O diretor Andy Muschietti, em associação com a Warner Bros, resolveu fazer uma nova aposta nessa história, e bancou o filme de It: A Coisa. O resultado, como não poderia deixar de ser, foi excelente. O longa se tornou o filme de terror com maior arrecadação em bilheterias na história. Assim, cravou seu lugar na história do Cinema. Além disso, tornou-se um produto pop: durante muito tempo, as pessoas só conseguiam falar de Pennywise.
Agora, com a estreia de It: Capítulo 2, o filme ganha um final digno, apesar das quase três horas de duração. O Clube dos Otários, formado durante a primeira parte da história, retorna depois de 27 anos. Isso porque Pennywise está de volta a Derry, no Maine, lar das crianças que, agora adultos, precisam achar uma forma de eliminá-lo.
A primeira coisa que precisa ser louvada nesta segunda parte de It é a direção de Muschietti. Melhor que qualquer outro profissional da indústria, ele entende como fazer as pessoas se assustarem sem apelar. Longe das trucagens de James Wan na sua franquia “Invocação do Mal”, aqui o principal é a construção do clima. O filme tem uma duração longa porque constrói as situações sem pressa, e isso é realmente recompensador.
Acompanhamos individualmente como a história pregressa de cada um dos adultos com Pennywise afetou suas vidas. Mais para frente, quando eles se encontram, a aventura se unifica – e é aí que o filme se torna ainda mais assustador. As aparições de Pennywise são econômicas, e é aí que reside o brilhantismo do filme. Ao contrário da primeira parte, onde ele é praticamente o personagem principal, aqui ele aparece pontualmente. No entanto, toda vez que ele surge na tela o horror é certo.
Isso só é possível por conta da intensa atuação de Bill Skarsgård como Pennywise. Ele não precisa de muitas falas para causar uma impressão gigantesca no espectador. Com auxílio de uma maquiagem absolutamente competente, ele consegue impressionar com tiques e maneirismos que nunca soam artificiais. Parece que Pennywise sempre esteve por ali, há séculos.
O ator sempre foi considerado uma aposta arriscada do estúdio para o papel, depois da icônica performance de Tim Curry no telefilme dos anos 90. Dessa forma, ele teve um gás maior para mostrar serviço, e não decepcionou. Seu Pennywise é convincente, amedrontador, icônico.
Méritos também para o roteiro, que adapta o grandioso (em todos os sentidos) livro de King de forma mais fiel do que a anterior. O It: Capítulo 2 faz alterações pontuais na trajetória dos personagens, mas tudo é feito para aumentar a impressão do espectador. Os jump scares são usados com consciência, o desenvolvimento do arco de personagens é fantástico e no fim, deixa uma sensação de alívio. O filme não se perdeu no caminho.
Outra grande aposta de It: Capítulo 2 é seu elenco. James McAvoy e Jessica Chastain lideram o elenco que parece ter sido escolhido a dedo para esse trabalho. Todos se encaixam perfeitamente com seus respectivos personagens na versão infantil. McAvoy apresenta uma boa variação de Bill, o garoto gago que perdeu o irmão, vítima de Pennywise. Agora bem sucedido, ele precisa voltar a Maine para enfrentar a ameaça do palhaço assassino. O ator passa, com olhares e expressões sutis, uma ampla gama de sentimentos. É um profissional sensacional, como já mostrou em outros filmes, como Fragmentado, por exemplo.
Chastain tem poucos momentos para brilhar até a terceira parte de It: Capítulo 2. No entanto, quando passa a ser exigida, sua Beverly brilha, principalmente no terço final do longa. É uma atuação física, mas que também traz nuances de sua sofrida personagem, que tem um passado triste que se reflete em sua versão adulta.
Entretanto, quem realmente brilha é Bill Hader, comediante que ficou com o papel de Richie. É ele quem tem o arco dramático mais bem construído, e que termina o filme de forma mais satisfatória para o espectador. O ator mantém os traços empregados por Finn Wolfhard, sua versão em It: A Coisa, mas com camadas de personalidade que só alguns anos de frustrações e segredos nas costas deram a sua versão adulta.
Em geral, It: Capítulo 2 é um filme que entretém de forma absolutamente competente, com uma direção segura e equipe técnica irrepreensível. Não seria injustiça se o filme aparecesse nas categorias mais técnicas das premiações do ano que vem. Pelo contrário: a direção de arte, figurino e fotografia merecem ser lembradas, ao menos. Por outro lado, a duração do filme pode incomodar algumas pessoas. São quase três horas, mas quem tem paciência para encarar vai adorar o resultado.
Portanto, é fácil concluir que a saga de Pennywise nos cinemas, de forma oficial – sem contar o telefilme – é encerrada de maneira digna. Os dois filmes somados devem entrar para o hall de adaptações bem sucedidas de King para o cinema, ao lado de À Espera de Um Milagre, Um Sonho de Liberdade, Conta Comigo, entre outros poucos. No que diz respeito a terror, esse gênero tão surrado e batido, este é o melhor filme do ano.