Análise: Nova versão de As Panteras funciona ao excluir sexualização e apostar no girl power

Em uma temporada repleta de filmes focados em personagens masculinos, As Panteras se encaixa como um filme que mostra a força da mulher independente.

Redação Publicado em 12/11/2019, às 16h00

Ella Balinska, Kristen Stewart e Naomi Scott arrasam em As Panteras - Foto: Reprodução/Columbia Pictures

Os dois filmes de As Panteras, protagonizados por Cameron Diaz, Drew Barrimore e Lucy Liu e produzidos nos anos 2000 conquistaram muitos fãs com o passar do tempo.

Na época, as duas produções foram intensamente execradas pela crítica, mas tiveram boa resposta do público em geral. Era divertido, pastelão, não era para ser levado a sério. No fim das contas, se tornava um passatempo com mulheres bonitas – e claro, sexualizadas ao extremo.

Quando o novo filme baseado na história – que vem, na verdade, de uma série dos anos 70 muito famosa naqueles tempos – foi anunciado, pensava-se que seria mais do mesmos. Entretanto, quando os detalhes foram sendo divulgados, as coisas começaram a mudar: a atriz Elizabeth Banks seria a produtora, roteirista e diretora da produção.

E no que isso impactou a nova produção? Nós do CENAPOP vimos o filme e podemos afirmar com absoluta certeza: a versão atual de As Panteras tem muito a dizer sobre feminismo e girl power. Isso transforma o longa: de mera diversão a um trabalho com uma mensagem importante a dizer.

 

As mulheres como objeto

Por mais que os filmes anteriores de As Panteras tenham angariado diversos fãs até hoje, não dá para negar que as mulheres eram vistas apenas como chamariz. As personagens de Diaz, Barrimore e Liu não tomavam atitudes muito inteligentes, e quando precisavam se virar para sair de uma situação, apelavam para seus atributos físicos.

Uma crítica publicada na época do lançamento do primeiro filme afirmou:

As interpretações foram um show de mediocridade. Também pudera… com um texto daqueles. As protagonistas agem como se fossem uma só pessoa. Dava para trocar as falas que ninguém notaria diferença. As Panteras parecem fugitivas do manicômio. Imbecilizadas e sexualizadas ao extremo, as três jamais recorrem à inteligência para resolver qualquer situação.

Quem olhar atentamente para os dois filmes perceberá a realidade dessa afirmação. No entanto, a resposta para isso está atrás das câmeras: os longas foram escritos e dirigidos por homens, que colocaram seus pontos de vista em prática. Por mais que fossem protagonistas, as panteras da época eram vistas como objetos, que para conseguir se livrar de uma situação perigosa, usavam pouco a cabeça e muito a sensualidade.

Era um produto daquela época, é claro. Nos anos 2000 (e antes disso), não havia uma grande preocupação sobre como retratar as mulheres nos filmes e séries. O feminismo não tinha grande espaço, já que ainda era um movimento em crescimento lento. Também não se tinha uma grande preocupação com o politicamente correto. Existem dezenas de filmes que retratam as mulheres da mesma forma e que foram produzidas no mesmo período.

Não que os filmes sejam de todo ruins. As três atrizes pareciam estar se divertindo de forma franca, verdadeira. Drew Barrimore até serviu como produtora. Mas aquelas situações não cabem no mundo atual.

Foi quando a diretora/roteirista/produtora/atriz Elizabeth Banks resolveu colocar a mão na massa e imprimir a sua  visão a respeito da história das três agentes que salvam o mundo dos perigos que, na maioria das vezes, nem percebemos. O resultado foi uma mudança completa – e para melhor.

 

Girl power, sim!

O trio protagonista do flme ao lado da diretora, atriz, produtora e roteirista Elizabeth Banks – Foto: Reprodução/Columbia Pictures

Na nova história, protagonizada por Kristen Stewart, Ella Balinska e Naomi Scott, elas ainda usam da sensualidade, mas dessa vez, como arma para conseguir a atenção dos homens. Esse ponto de mudança parece irrelevante, mas é de extrema importância para a compreensão da mudança de postura na representação feminina do longa.

Em uma das primeiras cenas, Sabina – personagem de Stewart – diz a um criminoso a quem tenta seduzir que “os homens demoram cerca de 7 segundos a mais para perceber o perigo que uma mulher oferece”. Isso porque eles costumam considerar o sexo feminino como algo inocente, sem condições de oferecer qualquer risco para eles. Aqui, como se pode imaginar, eles se enganam facilmente.

Esse é o discurso que o novo As Panteras quer promover: os homens erram ao subestimar as mulheres. Banks acerta em cheio ao rechear o seu roteiro com frases de empoderamento e que mostram que o “girl power” é algo real.

Serve como inspiração para outras mulheres que, em seus empregos ou em sua vida particular, não recebem os créditos por seus desempenhos (como acontece com Elena, personagem de Scott, em seu trabalho em uma start-up no começo do filme).

 

Além de tudo, um ótimo filme

Para além das questões feministas, o filme também é um primor em outros aspectos: a direção de Banks é segura e competente; tem um trio de protagonistas entrosadas – com destaque para Stewart, que entrega sua melhor performance em um filme comercial – e que entenderam bem o que o roteiro pretendia passar.

As Panteras também conta com ótimos coadjuvantes, com destaque para a própria Banks e também para Patrick Stewart, o eterno Professor Xavier; e por fim, um roteiro divertido que não subestima a cabeça do espectador com viradas nonsense e apelação de qualquer tipo.

Muito se questionava, antes do lançamento, do motivo pelo qual a Columbia resolveu lançar o filme em novembro, bem na época reservada para os filmes que pretendem disputar premiações. Depois de assistir ao longa, fica claro a ideia: em uma temporada repleta de filmes focados em personagens masculinos (O Irlandês, Ford vs Ferrari, O Farol, entre outros), era preciso encaixar um trabalho que mostrasse a força da mulher, que não depende de homem nenhum para ser independente e profissional.

Nesse sentido, As Panteras cumpre essa função com louvor.

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