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À Espreita do Mal: confira o final explicado do filme de terror que estreou na Netflix

Filme estrelado por Helen Hunt entrou no catálogo da empresa nesta quarta-feira (21)

Helen Hunt interpreta Jackie em "À Espreita do Mal", que está agora na Netflix - Foto: Reprodução / Netflix
Helen Hunt interpreta Jackie em "À Espreita do Mal", que está agora na Netflix - Foto: Reprodução / Netflix

Redação Publicado em 21/04/2021, às 08h24 - Atualizado às 08h25

À Espreita do Mal se tornou um filme de sucesso em 2019, mas ironicamente não fez muito barulho aqui no Brasil. Trata-se, no entanto, de um filme inteligente e que mexe com as cordinhas emocionais de quem assiste, deixando todo mundo desnorteado quando a trama começa a se revelar, lá na segunda metade do filme.

Se você ainda não viu ao filme, saiba que daqui em diante -- inclusive no vídeo logo abaixo, que contém esse texto para quem preferir ouvir e ver ao invés de ler -- há spoilers de toda a trama. Esteja avisado.

O filme começa mostrando a família Harper, que está em crise por conta do adultério de Jackie, que é casada com Greg. Os dois tem um filho adolescente, Connor, que está sofrendo bastante com a situação. O casal tenta achar formas de seguir em frente mesmo com a situação.

Acontece que na pequena cidade onde moram, crimes estranhos começam a acontecer, envolvendo o desaparecimento de adolescentes da mesma idade de Connor. Greg, que é policial, está diretamente envolvido no caso. No entanto, não é só isso: a casa dos Harpers parece estar sofrendo com algum tipo de invasão sobrenatural.

Essa é a esperteza do filme: há tantas reviravoltas que o espectador acaba ficando completamente sem rumo conforme a verdadeira trama se revela. À Espreita do Mal acaba virando uma coisa totalmente diferente daquilo que a gente esperava quando começou a assistir. Tudo feito de forma muito bem executada.

Como tudo começa

No começo, parece se tratar de um serial killer. Um menino chamado Justin Whitter some sem deixar rastros enquanto andava de bicicleta em um parque da cidade. O corpo, no entanto, não é encontrado. No parque, os investigadores encontram um arame que pode ter sido usado para prender o menino, além de um canivete verde.

É esse canivete que dá a entender que o crime pode ter sido cometido por um antigo serial killer que atacava a cidade anos atrás. Só que esse assassino já está cumprindo pena há anos, o que faz com que a polícia comece a suspeitar que prenderam o homem errado.

Greg, que é o investigador responsável, está com os problemas na vida pessoal também: sua mulher, Jackie, o traiu com um amigo da família, chamado Todd, e com a descoberta da situação o clima entre o casal ficou frio e distante, afetando o filho.

Eventos sinistros

A coisa começa a complicar quando Todd resolve fazer uma visita a casa dos Harpers, pedindo para que eles continuem o caso. Jackie rejeita, e Todd insiste até que ele é atingido por uma caneca de café vinda diretamente do sótão. Ela está sozinha na casa, exceto pela presença do filho. Ela então pensa que foi ele quem fez isso.

Todd fica com um ferimento na cabeça, mas sangra de leve. Jackie o leva para o porão, para que Greg não o encontre em casa caso chegue de repente. Ela sai para levar Connor para a escola, deixando o rapaz sozinho, mas bem, no porão. Quando ela retorna, o encontra morto. Jackie começa a considerar que seu filho o matou.

Aqui o filme começa a apresentar seu primeiro twist. O filme mostra pra gente que Todd saiu do porão para procurar formas de estancar o sangramento em sua cabeça. Uma pessoa desconhecida o acerta na cabeça, matando o sujeito na hora. Sem saber disso, Jackie diz a Greg, quando ele chega em casa, que foi Connor o responsável.

Pensando no bem estar do filho, eles resolvem esconder o corpo na floresta. Lá, eles enterram Todd sem que ninguém saiba. Tudo para impedir que o filho seja denunciado pela morte e seja preso, arruinando a sua vida. Quando eles saem para levar o corpo, Connor fica sozinho em casa jogando videogame.

Então, eles recebem uma mensagem dizendo que tem mais alguém morando na casa. Dentro da casa, Connor é atacado. Jackie e Todd chegam em casa e encontram Connor amarrado na banheira, com um canivete verde ao seu lado. A gente pensa então que é o serial killer que está atacando a casa dos Harpers.

Phroggings

Jackie leva Connor para o hospital, enquanto Greg fica para tentar encontrar o agressor. Enquanto procura, ele é atacado por alguém com um machado. Aí começa o segundo twist do filme, que é bem surpreendente porque a gente, espectador, não o vê chegando.

Um pouco de contexto antes: até esse momento do filme, algumas coisas estranhas acontecem na casa da família. Fotos somem dos quadros, televisão que liga sozinha. Apesar de acharem estranho, os Harpers imaginam que todos esses eventos são coisas de suas cabeças. Mas não é.

O filme mostra, pouco antes do ataque a Greg, imagens de uma câmera portátil, dessas de filmagem caseira. Vemos, então, dois rostos: os de Mindy e de Alec. Eles estão filmando o momento em que entram, escondidos, na casa dos Harpers. Eles moram lá, sem que os habitantes originais saibam disso.

A partir daí, a gente volta um pouco pra perceber que todos os “eventos sobrenaturais” que acontecem dentro da casa são pegadinhas que Alec pregou na família.

Esse tipo de atitude, morar dentro da casa de pessoas sem que elas saibam, é conhecida como “phrogging”. Nos Estados Unidos, de uns anos para cá, tem se tornado bem comum, como várias notícias de jornal podem comprovar. Bizarro, mas é verdade.

Algo estranho com Alec

No caso do filme, Mindy e Alec se escondem dentro dos lugares menos visitados da casa dos Harpers. Para não ser detectados por eles, os dois precisam ficar em absoluto silêncio, saindo apenas para buscar comida na cozinha. Acontece que Mindy já é experiente nisso, Alec é novato. E ele começa a ficar entediado.

É quando ele começa a fazer as pegadinhas com os Harpers. Só que o que era uma diversão “inocente”, acaba virando algo mais pesado quando Alec se mostra perturbado. Foi ele quem atacou Connor e Greg. Mindy diz que vai chamar a polícia para ele, considerando que Alec foi longe demais. Ele, então, a derruba da escada, fazendo ela bater a cabeça e ficar inconsciente.

O filme indica pra gente que Alec é o assassino da cidade, sendo quem atacou as crianças. Só que aí vem o terceiro twist do filme: o responsável pelas mortes, inclusive de Todd, não é Alec, mas sim Greg.

Reviravolta

Quando a xícara de café acerta Todd na cabeça, Mindy se desespera e diz que ela e Alec precisam sair da casa. Só que tudo que eles tem está guardado no porão, onde Jackie deixou o seu amante. Enquanto Mindy foge para não ser vista, ela vê alguém aparecendo no cômodo e matando Todd. E não é Alec, mas sim Greg, que o assassina com um taco de beisebol.

Com Todd morto, Greg e Jacke saem de casa para esconder o corpo. Foi nesse espaço de tempo que Alec empurrou Mindy pela escada. Ele decide esconder o corpo no porta-malas do policial. O plano era ele dirigir o carro para longe dali, mas Greg chega e encontra o filho amarrado na banheira. Enquanto sua mulher e o menino vão para o hospital, Greg entra em seu carro -- sem saber que Mindy está nele. Alec o viu se aproximando e fugiu.

Mindy acorda e encontra, no porta-malas, uma bolsa que contém a roupa que Justin, o menino desaparecido no começo do filme, usava. Além disso, ela acha uma coleção de canivetes verdes, marca registrada do assassino. Isso revela pra gente que é Greg o responsável por tudo que aconteceu, os crimes do passado e do presente.

Greg é a ameaça

Greg a encontra, e ela é mantida refém dentro da casa da família. Ela tenta apelar para não ser morta, mas não adianta: ele a mata. Ele forja uma cena em que faz parecer que atirou nela por legítima defesa. Então, parte em busca de Alec, que ele imagina estar escondido em algum lugar da casa.

Quando ouve os tiros, Alec sai da garagem. Ao ver o corpo de Mindy, ele pega um machado e resolve matar Greg. Só que Greg, experiente, consegue desarmá-lo. Eles entram em uma briga até que Greg acerta Alec com o atiçador de lareira.

Greg vai até a cozinha e pega uma faca, e começa a se golpear, com a intenção de fazer com que tenha sido atacado por Alec, e justificar a sua morte também. Acontece que Alec acorda, pega a arma de Greg e o mata. Nesse momento a polícia chega e o vê atirando no investigador. Alec, então, toma um tiro.

Descobre-se então o quarto twist: o ódio de Alec pelos Harpers se justifica. Quando ele era criança, ele foi um sobrevivente do assassino que atacava a cidade. Ou seja, ele é sobrevivente dos ataques de Greg, que a gente já sabe que era o responsável pelas mortes dos adolescentes.

Outra reviravolta

Isso é confirmado em um flashback que mostra Alec com um outro menino, que também sobreviveu e aparece adulto no começo do filme. Na lembrança, Greg mostra o canivete verde ao pequeno Alec antes de seu sequestro. Portanto, as atitudes de Alec, que antes pareciam sadismo, eram apenas vingança.

O filme é ótimo, como se pode ver, mas tem problemas também. Pouco se sabe da reação de Connor e Jackie com a morte de Greg, e com a descoberta de seus crimes. Isso a gente presume, já que quase nada é mostrado. Eles aparecem no final, mas não sabem, até o momento em que aparecem por último, que Greg era um psicopata.

A dica vem em uma rápida cena, quando Alec está sendo levado para a ambulância. A gente vê um trailer que pertencia ao policial, e é lá que estão os meninos sequestrados, junto de uma sacola convenientemente incriminatórias contra Greg.

Com tudo isso, o filme se mostra uma falsidade, mas uma boa falsidade. A gente acredita o tempo todo que tem algo sobrenatural acontecendo na casa dos Harpers, mas a verdade tá bem longe disso. Não há demônios, não há fantasmas, não há nada disso em nenhum momento da história.

Um exemplo é uma das primeiras cenas, quando Justin, o menino desaparecido, é puxado da bicicleta. Pelo ângulo que a gente vê, parece que ele foi puxado por algo sobrenatural. Depois, a gente descobre que foi um arame, o mesmo que Greg encontra em suas investigações no lugar.

Distraindo o público

Tudo isso é feito para afastar, logo de cara, qualquer coisa que não fosse sobrenatural da história. Com as coisas que acontecem na casa dos Harpers, a gente cimenta a certeza de que algo envolvendo fantasmas está acontecendo na cidade. É uma boa sacada, já que quem assiste realmente se surpreende quando a verdade é revelada.

Desde a primeira cena, o filme convida à especulação sobre quem ou o que está por trás das crianças assassinadas. Pensando nisso, a gente busca as pistas ao longo do filme que possam comprovar isso. A história nos faz desconfiar de Jackie, que é realmente mais suspeita por ser a única a guardar segredos.

Outro lance esperto do filme é colocar Greg como vítima logo no começo, assim a gente sente simpatia por ele e não desconfia, nem por um momento, de que ele seja o verdadeiro vilão. Ele é quem tenta consertar o relacionamento, melhorar as coisas. Isso causa em quem assiste a impressão de que ele está longe de qualquer suspeita. Tudo pensado pra gente achar que ele não tem nada com isso, mas tem.

O tema dos phroggers também gera algum pensamento sobre o estilo de vida da classe média norte-americana, e como existem pessoas que fazem de tudo para sobreviver. Assim que Mindy e Alec entram na casa, em um flashback mostrado, eles comentam sobre as coisas caras que tem na casa.

Alec, enquanto olha a bonita vista que a casa tem de uma janela, diz: “Ninguém merece isso”. Depois essa frase vai ser ressignificada, quando descobrimos o que ele passou, mas no primeiro momento parece ser uma forma dele comentar o privilégio que aquela família tem.

O final de tudo

No fim, o filme fala sobre dissimulações. A família Harper aparenta felicidade, mas é toda quebrada por segredos escondidos: Jackie tem um amante, Greg é um assassino em potencial, Connor está ficando psicologicamente abalado com a queda da estrutura familiar que possui.

Mindy e Alec são como vítimas de um sistema que não os permite ter os privilégios que a vida rica dos Harpers, e por isso precisam viver escondidos, longe dos olhos da sociedade, para conseguir ter o que comer e onde dormir, já que como a própria Mindy diz, fazer isso é melhor que acabar em um banco de praça ou dormindo no metrô.