Um post publicado no Facebook em julho viralizou ao comparar as letras do grupo Mamonas Assassinas com as composições de Chico Buarque.
Redação Publicado em 04/11/2019, às 13h44 - Atualizado às 13h48
Um post publicado no Facebook em julho viralizou no último fim de semana por trazer um tema inusitado: a qualidade das letras do grupo Mamonas Assassinas em comparação às composições de Chico Buarque.
O autor do texto, chamado Rodrigo Mesquita, o escreveu em 10 de julho, e desde então correu lentamente em compartilhamentos na web. No último fim de semana, porém, a publicação ganhou a internet, recebendo dezenas de comentários.
“O motorista da van que peguei hoje estava ouvindo Mamonas Assassinas enquanto dirigia feliz e contente rumo ao Vidigal e eu descobri algo fantástico que eu nunca tinha notado nas letras deles”, iniciou em seu texto. “Se você não nasceu numa época em que a seleção brasileira impunha respeito, provavelmente não sabe o que esses jovens representaram para o cenário musical da época”.
Mais à frente, ao falar sobre uma das canções mais conhecidas dos Mamonas Assassinas é que ele descobriu que era possível fazer frente a famosa Construção, música de Chico Buarque, por conta da forma como os versos foram construídos.
“Mas o mais surpreendente, que eu só descobri hoje nessa música do Robocop Gay, não foi nada disso. Foi uma coisa muito incomum nos seus primeiros versos: a maior parte deles termina com proparoxítonas!”, exclamou. “Se tu não fugiu das aulas de português, tu deve lembrar que proparoxítonas são as palavras cuja antepenúltima sílaba é tônica. Ou, como gosto de dizer para meus alunos que ficam presos nessa questão: ‘É quando a sílaba que você mais grita numa palavra é a terceira de trás pra frente'”, explicou.
Então, Rodrigo falou sobre a técnica usada por Dinho e Júlio Rasec, compositores de Robocop Gay: “Véi, olha essa por*a! Sério. Se tu quer ser escritor. Se tu quer ser poeta. Se tu quer investir em literatura. Olha essa por*a! Isso é um poema em oitava (estrofe de oito versos de rimas intercaladas) com sete sílabas. E ainda por cima usando proparoxítonas! Isso é difícil para caral*o! Porque rimas não são palavras que terminam com sílabas iguais. Rimas exigem que as tônicas sejam parecidas e o que vem depois delas se encaixe”.
Foi aí que entrou a comparação: “Pra cês terem uma ideia da grandeza disso, sabe qual outra música usa um esquema parecido? Uma de Chico Buarque! ‘Amou daquela vez como se fosse a última / Beijou sua mulher como se fosse a última / E cada filho seu como se fosse o único / E atravessou a rua com seu passo tímido’ (…) Essa música chamada “Construção” é considerada a mais overpower da MPB, porque ela tem uma construção (saca o trocadilho) muito complexa (fica mais fácil de entender quando tu pega a letra toda) e ainda usa só proparoxítonas nos finais de seus versos”.
Nos comentários da postagem, muita gente concordou: “Eles eram geniais sim. A melhor parte é que o povo que critica o funk cantava eles e nem se dava conta”, disse uma. “Ai ai, Mamonas… nos faziam sorrir apenas com sua postura irreverente em qualquer programa. A saudade segue, mas ainda hoje conseguem me fazer rir e então envio uma prece e peço a Deus que a transforme em flores de luz onde quer que seus integrantes estejam”, escreveu outra.
“Como amante de poesia, sempre achei incrível a capacidade deles em usar a nossa língua. Já vi programas tentando traduzir as letras para inglês, por exemplo. Inútil. A beleza estava em todas essas características que o texto descreve tão bem, senão se torna bem rasa a mensagem. Pena que não tivemos a oportunidade de vê-los escrever poesia já mais maduros e talvez com outra pegada, e com a mesma genialidade”, afirmou mais uma.
Veja o post completo abaixo:
COLUNISTAS