EDUARDO GRABOSKI

Nos 60 anos da Globo, o apelo é claro: tragam a TV raiz de volta!

"A TV de verdade era bagunçada — e é disso que a gente sente falta"

Luciano Huck homenageia Silvio Santos, Chacrinha e Faustão durante seu programa especial - Foto: Divulgação
Luciano Huck homenageia Silvio Santos, Chacrinha e Faustão durante seu programa especial - Foto: Divulgação
Eduardo Graboski

por Eduardo Graboski

Publicado em 29/04/2025, às 09h41

Olha, eu nem queria dizer isso, mas já dizendo: no meu tempo era melhor, sim! E nem precisa torcer o nariz, porque se tem uma coisa que os especiais de 60 anos da Globo mostraram é que a saudade da nossa velha e boa TV de auditório bateu forte – e em todo mundo.

Enquanto a gente assistia aquelas imagens meio granuladas de Chacrinha, Faustão e Gugu, ficou impossível não pensar: cadê a TV simples, divertida, meio bagunçada e completamente apaixonante? O que foi feito da espontaneidade, do improviso e daquela sensação gostosa de que, a qualquer momento, tudo podia sair do script (e saía!)?

Hoje, a TV aberta anda toda cheia de regrinhas, de medo do "cancelamento", com o politicamente correto que mais parece camisa de força. Bons tempos do programa Pânico, onde tudo era permitido. Não estou aqui defendendo preconceito, desrespeito ou grosseria – longe disso! – mas a gente precisa entender que autenticidade não se censura, se lapida.



Silvio Santos jogava aviãozinho de dinheiro na plateia e ninguém achava que era exploração. Era diversão! Chacrinha jogava bacalhau no povo e todo mundo saía feliz e cheirando a peixe! Faustão lançava um bordão atrás do outro, fazia o programa parecer uma grande resenha de domingo – e o Brasil parava para assistir. Era simples? Era. Era genial? Também era!

Hoje, a gente liga a TV e parece que todo programa passou pelo crivo de mil reuniões de compliance, advogado e coach de imagem. Resultado: sobra preocupação e falta alma. E aí, adivinha para onde o público vai? Para a internet, claro, onde a espontaneidade ainda reina – e onde, aliás, muitos novos talentos surgem porque são... adivinha? Autênticos!

A TV aberta precisa urgentemente se reconectar com a sua essência. Apostar de novo no simples, no que é popular de verdade, sem vergonha de ser feliz. Valorizar quem faz o povo rir, emocionar, se ver representado. Não adianta querer fazer TV gourmetizada para agradar meia dúzia de “críticos”. O brasileiro quer se divertir, quer se sentir parte, quer vibrar!

E, convenhamos, isso a gente sabia fazer como ninguém. O DNA da televisão brasileira é o improviso, o auditório lotado, a música alta, o apresentador que mais parece um tiozão engraçado do churrasco do que uma estrela inalcançável.

Se as emissoras continuarem tentando imitar a internet, vão perder feio. A graça está justamente em oferecer o que a internet não oferece: o calor humano, o ao vivo sem rede de proteção, o show raiz. E isso a gente já fazia há 30, 40, 50 anos atrás, sem TikTok, sem Twitter e, às vezes, até sem ar-condicionado.

Então, fica o apelo: traz o bacalhau de volta, Brasil! Traz o aviãozinho de dinheiro, a roleta da sorte, o show de calouros desafinados e felizes, o apresentador sem filtro, os formatos originais, os clássicos do passado. Porque o que o povo quer – e sempre quis – é alegria de verdade. E disso, meus amigos, a velha TV entendia como ninguém.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do CENAPOP.